sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Na Costa Leste da Sicília, vinhos vulcânicos e um trio de cidades muito turísticas





Vinhedos: aos pés do Monte Etna hoje são produzidos alguns dos grandes vinhos da Itália
Foto: Bruno Agostini / O Globo
Vinhedos: aos pés do Monte Etna hoje são produzidos alguns dos grandes vinhos da Itália

Recentemente o Monte Etna vem chamando atenção também devido aos vinhos produzidos na região, que já estão entre os grandes da Itália, depois de um longo período de decadência, quando diversas propriedades foram abandonadas. Há brancos fabulosos como o Pietramarina 2003, produzido pela Benanti, e o ValCerasa Etna Bianco, da Bonaccorsi, duas das principais vinícolas locais. Feitos com a uva carricante, são vinhos exuberantes aromaticamente, e que se dão muito bem com os pratos de peixes e frutos do mar típicos da Sicília. Entre os tintos a medalha de ouro vai para a casta nerello mascalese, que origina vinhos deliciosos, como o Tascante, da Tasca d’Almerita, uma das principais vinícolas da Sicília. A ilha aposta pesado nos vinhedos do Etna, que produzem outros vinhos tão bons quanto o Tascante, como o Etna Rosso Prephylloxera, da Tenuta delle Terre Nere, e o Passopisciaro IGT, da bodega de mesmo nome. São vinhos que não podem faltar em qualquer roteiro pela Sicília, especialmente na Costa Leste da ilha.
CATÂNIA - O Etna domina a paisagem da Costa Leste siciliana, a área da ilha mais badalada turisticamente, com três referências para os visitantes: Catânia, mais ao Centro; Taormina, ao Norte, e Siracusa, ao Sul. Além de enfeitar o cenário com seu relevo acidentado e de dar espetáculos regulares, quando entra em erupção, o ponto mais alto da ilha, com 3.323 metros de altitude, abriga até estação de esqui em suas encostas.
Embora tenha uma arquitetura na maior parte das vezes pouco atraente, Catânia merece alguma consideração. Em primeiro lugar porque está em localização privilegiada para se explorar a região, praticamente entre Taormina e Siracusa, e a poucos minutos da estrada que rodeia o Etna e conduz aos programas de montanha: no verão, trilhas e visitas a vinhedos.
E para quem se dispõe a procurar, a cidade apresenta atrativos tipicamente sicilianos, como restaurantes especializados em peixes e frutos do mar, nos quais percebemos a confluência de culturas que é um dos traços mais marcantes da ilha, que sempre recebeu forte influência do norte da África, e que ao longo dos séculos foi ocupada por diversas etnias e países. Assim, em um restaurante tradicional como a Osteria Antica Marina podemos encontrar entre os pratos típicos um cuscuz de mariscos exemplar. Outra característica importante é o frescor dos ingrediente, a ponto de camarões marinados serem servidos quase crus, imersos em um rico tempero de ervas e pimenta com azeite e limão, clamando por goles dos tais vinhos brancos incríveis do Etna.
Os amantes da gastronomia se esbaldam pela manhã, quando o mercado de peixes de Catânia se espalha pelos arredores da catedral. Conhecido como Pescheria, abriga mais de uma centena de barracas, e algumas lojas, que vendem toda a sorte de pescados. O passeio é uma aula de ingredientes marinhos, de ouriços e mariscos ainda vivos a peixes dos mais diferentes formatos e cores, incluindo atuns e peixes-espada enormes, que chegam fresquinhos das águas do Mar Jônico.
O forte da feira são os frutos do mar, mas também há espaço para frutas e legumes, além de uma área dedicada às carnes e derivados, com cabritos e embutidos, e ótimas seleções de queijos. Nos arredores do mercado, com apenas € 1 compramos um pedaço de pizza enorme, que alimenta os trabalhadores locais e vale por uma refeição, com massa rústica, saborosíssima, e um molho de tomate encorpado, rico e de linda coloração vermelha que contribuiu decisivamente para deixar o momento gravado na memória para sempre.
Esta área do litoral é famosa pelas boas praias, que, combinadas com importantes sítios arqueológicos — especialmente em Taormina e Siracusa, com os seus famosos teatros gregos — e com uma boa oferta de hotéis (incluindo estabelecimentos de luxo) e restaurantes, transformam a região leste da ilha no principal eixo turístico da Sicília.
Quem não está de carro encontra em Catânia um bom cardápio de passeios nas agências locais. Há excursões em van e ônibus, que seguem roteiros regulares, visitando pontos turísticos e as principais atrações, quase sempre combinando Taormina ou Siracusa com programas nos arredores das cidades.
Outra maneira de se explorar a Costa Leste da Sicília é usando os serviços de empresas como a Catania Excursions, que organiza passeios exclusivos, de acordo com o interesse dos visitantes, com motoristas particulares. Eles conhecem praias escondidas, vilarejos que não aparecem no mapa, osterias típicas e bons lugares para comprar vinhos. Além disso, organizam diversos tours temáticos, como o chamado “O poderoso chefão e Taormina”, que passa por locais onde foram gravadas cenas do filme, como o Castelo Capo Sant’Alessio, e passeios de jipe pelo Monte Etna. Para os que pretendem visitar vinícolas e fazer tours voltados à enogastronomia é sem dúvida a melhor pedida.
Comida com nome e sobrenome
Pomodoro Ciliegino di Pachino são tomates adocicados e perfumados. Cipolla di Girratana, por sua vez, são cebolas de formato achatado, com polpa clarinha, e um açúcar natural. Capperi di Salina são alcaparras colhidas entre maio e agosto, e conservadas em sal grosso. Já a pancetta di suino nero dei Nebrodi é um bacon glorioso, feito com um suíno pequeno, de carne muito saborosa. Muitas vezes a comida, na Sicília, tem nome e sobrenome — mas o limão siciliano é apenas limone. No momento, todas essas iguarias estão em cartaz na rede de pizzarias Bráz, em mais uma edição do festival “Fora de série”, este ano dedicado à ilha italiana, com cinco novo sabores usando ingredientes locais.
Essa matéria-prima de alta qualidade e caráter monta um dos mais impressionantes conjuntos de ingredientes do mundo, que apresentam uma personalidade forte, como tudo o que caracteriza a ilha. Nas feiras livres encontramos tantas variedades de azeitonas, por exemplo, que fica difícil escolher.
Quando perguntei ao vendedor da Pescheria, em Catânia, qual delas seria a melhor, e mais característica, ele respondeu:
— Depende. Você quer para comer pura? Para salada? Para fazer pizza?
Fiquei sem saber qual comprar.
Toda essa oferta de ingredientes especiais pode ser explicada pela geografia da ilha: as montanhas garantem cordeiros saborosos, enquanto o litoral entrecortado, com ilhas satélites, oferece uma imensa variedade de produtos marinhos: peixes e frutos do mar, e mesmo o sal da área de Trapani, que já era adorado pelos fenícios, são de qualidade exemplar. O prazer à mesa se revela em receitas simples, como um spaghetti ai ricci (com ouriço) ou uma pasta alle sarde (com sardinha). O solo vulcânico garante componentes minerais raros, que dão personalidade a vinhos e vegetais. E há ainda o sol inclemente colaborando para a maturação de frutas e legumes, que apresentam um impressionante equilíbrio entre acidez e doçura.
Cordeiros no centro da ilha
S ó o visual que se tem nas estradas que cortam as montanhas da Sicília, conectando de maneira sinuosa suas principais cidades, já seria razão suficiente para se considerar fugir por alguns dias do litoral e se refugiar nas paisagens campestres do coração da ilha, onde encontramos a Tenuta Regaleali, epicentro da produção de vinhos da Tasca d’Almerita, uma das maiores e melhores vinícolas do lugar, eleita recentemente a “vinícola do ano de 2012 na Itália”, pelo Vini d’Italia, respeitável guia editado pelo Gambero Rosso. Com uma linha bastante variada, produzida em cinco propriedades espalhadas por várias áreas, a família Tasca, de históricos produtores de vinhos na ilha, tem neste enclave rústico e elegante no meio das montanhas sicilianas o seu quartel-general.É onde nasce o grandioso Rosso del Conte, que representa bem a nobreza da família: vinho potente, uma explosão de frutas com aromas de especiarias e um invejável frescor. É ótima companhia para os deliciosos cordeiros criados na região, nos arredores de Vallelunga Pratameno, um dos recantos mais isolados da Sicília.
Há algumas modalidades de visitas, que podem ser personalizadas: o tour guiado com degustação pode ser incrementado com petiscos típicos (recomendável), como o tradicional panelle, uma massa de grão-de-bico frita em azeite, que forma um belo par com vinhos brancos e rosados. Combinando com antecedência é possível programar um almoço, e degustação de vinhos especiais.
Mas o acesso não é dos mais fáceis, e o lugar é lindo e acolhedor, de modo que o melhor mesmo é passar ao menos uma noite na vinícola, aproveitando os quartos da pequena pousada que funciona no local, uma linda construção do fim do século XIX com paredes de pedra e tijolinho e jardins muito bem cuidados.
— Não chega a ser um hotel. São nossos quartos de hóspedes, que abrimos também para os turistas — diz Alberto Tasca, hoje à frente dos negócios da família.
Ali também funciona uma bem montada escola de cozinha, chamada Anna Tasca Lanza, considerada a mais importante da Sicília, com uma programação de cursos que vai além dos sabores, incluindo outros temas, como o programa “Yoga, terroir & health”, com duração de seis dias (custa € 1.500, incluindo aulas, hospedagem, alimentação, bebidas e passeios pelos arredores). Além da programação regular é possível organizar aulas e cursos personalizados, de acordo com o interesse de cada aluno ou grupo de alunos.
Quem coordena a escola é Fabrizia Tasca Lanza, prima de Alberto e filha de Anna, a fundadora da escola. Chef de cozinha, ela também escreve sobre o assunto e dá aulas em um ambiente informal, ensinando as técnicas e receitas típicas da ilha. Na grade normal, os cursos duram entre um dia (€ 150) e cinco dias (€ 2 mil), sempre em regime “tudo incluído”. Impossível é não querer trazer para casa os produtos do lugar, como geleias, molhos, ervas desidratadas e vegetais em conserva, como minialcachofras, cogumelos e tomates.
Mas o interior da ilha não vive apenas do ambiente rural e seus comes e bebes. Embora a maior parte dos sítios arqueológicos estejam localizados nas áreas costeiras, também encontramos relíquias do período romano nas entranhas da Sicília. Como a preciosa Villa Romana del Casale, a sudeste de Vallelunga Pratameno e ao sul de Enna, cujo destaque é a Piaza Amerina, um dos mais importantes sítios arqueológicos da Itália, principalmente por conta da impressionante coleção de mosaicos encontrados ali a partir dos anos 1950, conservados pelo barro de uma inundação. Entre as belas imagens, uma das mais famosas é a série batizada “Meninas de biquíni”, com desenhos de mulheres em roupas que poderiam ser usadas hoje, em Ipanema, sem qualquer qualquer tipo de estranhamento.
Tombado pela Unesco há 15 anos como Patrimônio Mundial da Humanidade, o sítio arqueológico de Villa Romana del Casale, com passarelas e uma ótima estrutura de visitação, colocou esta região, na parte Centro-Sul da Sicília, no mapa do turismo da Itália. Porque apesar de ser uma ilha, e Sicília não vive só de litoral. O interior guarda seus encantos.
A Oeste, praias, templos e vinhos
O mais famoso vinho da Sicília, o Marsala, é produzido na cidade de mesmo nome, na Costa Oeste da ilha, uma área relativamente pouco explorada pelos turistas. Um pouco mais ao norte, a cidade de Trapani é o ponto de partida para se visitar o filé mignon da porção ocidental da Sicília: as ilhas de Favignana, Marettimo e Levanzo, com águas incrivelmente claras e algumas praias desertas.
Outro ícone da enologia siciliana, o Passito de Pantelleria, é um vinho doce feito a partir de uvas passificadas, como indica o nome, secas ao sol, concentrando o nível de açúcar. Mais próxima da costa do Norte da África (mais especificamente da Tunísia) do que da italiana, a ilha de Pantelleria, que pode ser alcançada de avião ou de barco, sempre com saídas de Trapani, também apresenta uma coleção de praias de tirar o chapéu, tão lindas quanto os vinhos feitos na região.
Com ruínas gregas erguidas há cerca de 2.500 mil anos, Selinunte é a principal referência turística da região Oeste da ilha, com uma notável coleção de templos situados principalmente na... Acrópole siciliana, onde se realizam eventos noturnos nos meses de verão, com música e teatro.
Serviço
Onde comer
Catânia
Il Canile: Via del Bosco 62, Chiuso. Tel. (39) 095-7335100. ristoranteilcanile.com
Osteria Antica Marina: Via Pardo 29, Pescheria. Tel. (39) 095-348197. anticamarina.it
Siracusa
Don Camillo: Via della Maestranza 96. Tel. (39) 0931-67133.
Oina: Via della Giudecca 69. Tel. (39) 0931-464900.
Taormina
Bellevue: Hotel Metropole. Corso Humberto 154. Tel. (39) 0942-625417. hotelmetropoletaormina.it
La Giara: Vico la Floresta 1. Tel. (39) 0942-23360. www.lagiarataormina.it
Principe Cerami: Piazza San Domenico 5. Tel. (39) 0942-613111.

Nenhum comentário:

Postar um comentário