sábado, 30 de junho de 2012

De butiques a cafés, Riley Park tem atrações criativas em Vancouver, no Canadá


Por décadas, Main Street em Vancouver, Colúmbia Britânica, tinha pouco da importância ou centralidade que seu nome (rua principal) deixava implícito. Sua extremidade mais baixa, próxima do notório submundo do centro, é um dos piores trechos da cidade, enquanto o restante da Main Street segue para bairros residenciais ordeiros, ligeiramente tediosos, que estão fora do radar da maioria dos visitantes. Uma dessas áreas, Riley Park, está mudando isso. Nos últimos anos, o trecho da Main Street que passa por este bairro tranquilo despontou como um dos mais vibrantes da cidade, com butiques exibindo o trabalho de estilistas locais criativos e pequenos cafés e restaurantes inovadores.




Vancouver Special
3612 Main Street
(604) 568-3673
vanspecial.com

Esta elegante loja de design e utensílios domésticos - o nome irônico se refere a um estilo de casa quadrada e muito feia que foi construída por toda Vancouver nos anos 70 - conta com produtos cuidadosamente escolhidos, desde bonitos isqueiros Tsubota Pearl do Japão (29,99 dólares canadenses) até elegantes vasos de porcelana (de 55 a 400 dólares canadenses) de Lilith Rockett, de Portland, Oregon.

Grub
4328 Main Street
(604) 876-8671
grubonmain.ca

Um salão de jantar aconchegante, drinques bem preparados e um pequeno cardápio rotativo que casa ingredientes locais com sabores franceses e mediterrâneos: não é de se estranhar que este pequeno restaurante está sempre cheio. O jantar com três pratos a preço fixo (32 dólares canadenses, aproximadamente o mesmo em dólares americanos) pode ser uma das melhores relações custo/benefício do país.

I Found Gallery
4578 Main Street
(604) 876-2218
ifoundgallery.com

Situado dentro de um antigo cinema, este empório eclético aberto há dois anos tem uma coleção cuidadosamente escolhida de roupas e óculos vintage. Mas a principal atração aqui é a enorme seleção de joias vintage e pedras semipreciosas, que atraem um fluxo constante de pessoas da praia “faça você mesmo”.

Marché St. George
4393 Saint George Street
(604) 565-5107
marchestgeorge.com

Como o nome deixa implícito, este café agradável e mercado de luxo, que abriu em novembro passado, evoca um ar distintamente europeu. Farte-se de queijos artesanais (3,60 a 11,95 dólares por 100 gramas) da Farm House, uma pequena produtora no interior da Colúmbia Britânica, ou de focaccias (6 dólares por meia porção) feitas pelo septuagenário vizinho italiano do café. (Tradução: George El Khouri Andolfato)

Conheça a cidade de Montreal, no Canadá, de bicicleta


A apenas 63 quilômetros da fronteira com os Estados Unidos está Montreal, no Canadá, uma das cidades "mais legais do mundo para se viver", segundo classificação de 2010 do guia Lonely Planet. E é fácil perceber o motivo: cosmopolita, o lugar conservou sua arquitetura clássica, deixando também espaço para as inovações arquitetônicas e, de certa forma, até tecnológicas -  Montreal é berço de várias empresas de software. Ambas, porém, sem esquecer do que oferece pela qualidade de vida de sua população.


O verde faz parte da cidade. Seja na oferta de mais de 120 parques de todos os tamanhos, propícios para todo tipo de atividade, ou nas "ruelas verdes" que formam corredores com plantas em bairros residenciais. Além de diminuírem as ilhas de calor, as ruas ecológicas criam também um cenário quase bucólico bem no meio da metrópole.

E que melhor forma de aproveitar o arborizado local do que de bicicleta? Montreal tem centenas de quilômetros de ciclovias e mais de cinco mil bicicletas disponíveis para aluguel. Acompanhe o UOL Viagem em um passeio pela cidade.

Um passeio de bicicleta por Montreal, no Canadá

  • Alugar o transporte na cidade é simples. Além de lojas específicas, como a Ça Roule (www.caroulemontreal.com) que dispõe de acessórios, como capacetes e coletes para fácil identificação pelas ruas, além de vários modelos e tamanhos de duas rodas; ha também o sistema de bicicletas públicas, o Bixi (montreal.bixi.com), que pode ser pago com cartão de crédito, mas que vale mais a pena se o trajeto a ser percorrido for  curto, ou para quem já sabe exatamente onde quer ir.
Guia turístico em Montreal, Rafael Nacif é brasileiro e faz tours em português. Entre em contato pelo e-mail rnacif@gmail.com ou visite o site www.guiademontreal.com.

Descubra roteiro por grifes de luxo no centro antigo de Montréal, no Canadá


Durante décadas, a arquitetura de época e as ruas de paralelepípedos atraíam quase que somente turistas para o centro antigo de Montreal - mas o belo calçadão da orla, de séculos de idade, está reconquistando os moradores e, por consequência, as lojas mais exclusivas.

O trecho oeste da estreita Rue St. Paul, onde antes as lojas só ofereciam lembrancinhas kitsch, se tornou um centro de grifes de luxo. As vitrines imensas dos edifícios de pedra reformados exibem looks tão sofisticados como os de Nova York e Paris, mas todos com um toque peculiar da maior cidade francófona das Américas.
SSENSE Boutique
Depois do início como loja on-line, a boutique ganhou sua primeira versão no mundo real. Os detalhes em aço e o piso de madeira reciclada destacam peças de nomes como Marc Jacobs, Proenza Schouler, Kris Van Assche e Lanvin. os preços variam de 150 a cinco mil dólares canadenses (que vale o mesmo que o dólar americano). Serviço: 90, rue St. Paul Ouest (514) (ssense.com)
Reborn
A boutique minúscula de Brigitte Chartrand oferece novidades de estilistas locais ainda pouco conhecidos, mas com grande talento, como Boris Bidjan Saberi para os homens e Raquel Allegra para as mulheres. De 250 a cinco mil dólares canadenses. Serviço: 231, rue St. Paul Ouest.  (514) 499-8549 (reborn.ws)
Boutique Denis Gagnon
A coleção inteira de Denis Gagnon - arrojada, mas sensual, que inclui até couro nas roupas de noite - é produzida nessa loja que mais parece uma mistura de bunker com workshop que fica sob o chiquérrimo Le Petit Hotel. De 120 a 1.300 dólares canadenses. Serviço: 170B, rue St. Paul Ouest.  (514) 935-6360 (denisgagnon.ca)
UandI
Grifes norte-americanas como Polo Ralph Lauren, Engineered Garments, Penfield e Levi's Made & Crafted lotam essa loja pequena e espartana. De 115 a 1.475 dólares canadenses. Serviço: 215, rue St. Paul Ouest.  (514) 508-7704 (boutiqueuandi.com)
Quai 417
Philippe Dubuc, conhecido por incluir detalhes subversivos em suas criações (como os punhos cortados a navalha de suas camisas), abriu essa boutique multimarca perto de St. Paul em novembro. Suas próprias criações dividem as araras amarelas com marcas europeias como Jean Colonna, AF Vandevorst e Premiata. De 195 a 995 dólares canadenses. Serviço: 417, rue St. Pierre.  (514) 419-3848 (quai417.com)

Apartment Therapy

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Bercy: onde Paris é mais moderna




A passarela Simone de Beauvoir, sobre o Rio Sena, liga a Biblioteca François Miterrand a Bercy
Foto: Carla Lencastre / O Globo
A passarela Simone de Beauvoir, sobre o Rio Sena, liga a Biblioteca François Miterrand a BercyCARLA LENCASTRE / O GLOBO
PARIS - A capital francesa sempre tem uma surpresa, mesmo para visitantes frequentes. Para quem já cumpriu o roteiro turístico básico, que tal uma escapada até Bercy? A região ainda está fora de muito guia de viagem tradicional, mas na última década vem atraindo cada vez mais visitantes em busca de ângulos diferentes de Paris. A área começou a ser revitalizada nos anos 1990 e desde então não para de inventar novidade. E a melhor delas: está a apenas dez minutos de metrô do Centro da cidade.
Num trem dos mais modernos (sem condutor) na linha 14, você chega à nova biblioteca, à nova cinemateca (instalada em um prédio desenhado por Frank Gehry), ao lindo parque e ao minicentro comercial ao ar livre de Bercy Village. As lojas são poucas e boas, e no fim deste mês ganham a companhia de uma Fnac de três andares. Tudo isso a apenas dez minutos de uma estação central como Châtelet.
O passeio de um dia (ou menos) pode começar na estação Bibliothèque François Miterrand. Dali, uma curta caminhada leva aos quatro modernos prédios envidraçados da Biblioteca Nacional da França, projetados por Dominique Perrault e distribuídos em uma esplanada de frente para o Rio Sena. Uma das torres tem um setor de exposições, aberto ao público. A mostra da vez, inaugurada anteontem, reúne figurinos do século XX da Ópera de Paris, com croquis de Christian Lacroix, Eugène Lacoste e Jean Cocteau, entre outros.
Logo em frente à biblioteca, na margem esquerda, onde um grupo praticava tai chi chuan à beira do rio, começa a passarela Simone de Beauvoir, somente para pedestres e ciclistas, inaugurada em 2006. Além do desenho cheio de curvas modernistas e diferente do das outras pontes sobre o Sena perto da cidade, a passarela de aço, a 37ª a atravessar o rio em Paris, é bem mais alta em um dos seu níveis (são dois, entrelaçados, o que proporciona um trecho coberto). Chega a dar um friozinho na barriga no nível mais alto, que leva direto ao lindo Parc de Bercy, com 14 hectares ao longo da margem direita. Vista deste lado do rio, no 12º arrondissement, as torres da biblioteca parecem emoldurar a passarela.
Esculturas representando 21 crianças de diversas nacionalidades estão à direita, no caminho que leva ao Bercy Village. Muitas crianças brincam enquanto adolescentes namoram, adultos correm e turistas tiram fotos. Tudo isso em um sábado frio de início de primavera. Agora no verão deve ser uma festa. O trecho do parque entre a passarela e o centro comercial, chamado de Jardim Romântico, é bem bonito: além de esculturas variadas, tem lagos com peixes e patos, pontes, flores. E os trilhos por onde passavam os vagões carregando barris de vinho estão à vista nos caminhos pavimentados. Porque essa é a origem da região e de Bercy Village.
Nesta área de viticultores nas franjas da cidade, os galpões de pedra do Village armazenavam a bebida, no século XIX. As casas que serviam ao negócio do vinho (onde os produtores pagavam suas taxas, por exemplo), hoje estão voltadas para atividades botânicas e culturais. Os galpões, restaurados, guardam lojas bacanas. Entre elas, estão La Cure Gourmande, de biscoitos amanteigados em lindas embalagens; Alice Délice, de utensílios para cozinha; Loisirs & Créations, com material para desenho, pintura, costura e jardinagem; Arteum, uma galeria de arte atualmente com vários trabalhos de Tim Burton, como fotos e desenhos numerados feitos pelo cineasta americano para os seus filmes; agnès b., elegante grife francesa de roupas femininas e masculinas, além das que dispensam apresentações, como Sephora e Olive & Co. — sendo que esta tem azeites diferentes que ainda não chegaram ao Rio. E a Fnac, claro, que será inaugurada no próximo dia 29.
Tim Burton entre entre as lojas e os restaurantes de Bercy Village
Os restaurantes de Bercy Village seguem a mesma linha das lojas. Não são muitos, mas são interessante: há uma padaria, loja de doces e bistrô do badalado padeiro Eric Kayser, inaugurado em fevereiro deste ano; um tradicional Hippopotamus, com suas carnes grelhadas e hambúrgueres corretos — a novidade é um com pimenta de espelete, do País Basco; uma creperia bretã, La Compagnie des Crêpes, entre outros. O Village tem ainda cinemas e uma academia de ginástica, onde na parede de pedra se vê um relevo lembrando a origem do lugar como armazém de vinhos.
Mas antes de compras, comes e bebes, siga pelas ruas François Truffaut e Paul Belmondo até o novo endereço da Cinemateca Francesa, instalada desde 2005 em um prédio assimétrico com as indefectíveis curvas do star architect Frank Gehry. Até 5 de agosto, está em cartaz uma exposição sobre Tim Burton, a mesma que esteve no Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York há dois anos. É imperdível para quem aprecia o trabalho do cineasta, ou simplesmente gosta de cinema.
De volta ao Bercy Village, curta um pouco mais o parque e aproveite sem pressa o restante do dia. Na hora de ir embora, é só pegar o metrô na estação Cour Saint-Émillon, também da linha 14, que é praticamente dentro do centro comercial. Em dez minutos você está de volta ao Centro de Paris. Ou não. Há alguns hotéis confortáveis na região, como o Pullman Paris Bercy, da rede Accor, e o Kyriad Hotel, ambos bem perto de Bercy Village e da estação do metrô.
Bibliothèque Nationale de France: A exposição "L’étoffe de la modernité. Costumes du XXe siècle à l’Opéra de Paris" pode ser vista diariamente, das 10h às 17h. Ingressos: 9. Quai François Mauriac. Metrô: Bibliothèque François Miterrand. bnf.fr
Parc de Bercy: Aberto diariamente, a partir das 9h. Metrô: Cour Saint-Émillion.
Bercy Village: As lojas abrem diariamente das 11h às 21h. Os restaurantes funcionam até as 2h. Metrô: Cour Saint-Émillion.bercyvillage.com
Cinémathèque Française: “Tim Burton, l’exposition” pode ser vista às segundas e quartas-feiras, das 12h às 19h, e às quintas e sextas, das 12h às 20h. Aos sábados e domingos e a partir de 4 de julho, aberta das 10h às 20h diariamente, com exceção das terças-feiras. Ingresso: 11 euros. 51 Rue de Bercy. Metrô: Bercy. cinematheque.fr
Pullman Paris Bercy: Diárias a parte de 166 euros. 1 Rue de Libourne. Metrô: Cour Saint-Émillion. accorhotels.com
Kyriad Hotel Paris Bercy Village: Diárias a partir de 110 euros. 19 Rue Baron le Roy. Metrô: Cour Saint-Émillion. bercykyriad.com

sábado, 23 de junho de 2012

Amanhecer na Praia Vermelha, Rio de Janeiro


Nova York na pressão: um roteiro ao sabor da cevada




Com sete filiais na cidade, quase sempre junto a cartões-postais como o Empire State, a Heartland Brewery produz diversas variedades de cerveja, entre regulares e sazonais
Foto: Bruno Agostini / O Globo
Com sete filiais na cidade, quase sempre junto a cartões-postais como o Empire State, a Heartland Brewery produz diversas variedades de cerveja, entre regulares e sazonaisBRUNO AGOSTINI / O GLOBO
NOVA YORK- Em um glorioso jantar no restaurante Per Se, quando o sommelier se aproximou da mesa para sugerir uma bebida para acompanhar um prato de queijo, último ato antes das sobremesas, ele apresentou uma garrafa de cerveja da Brooklyn Brewery : "É uma edição especial, produzida perto daqui. Na minha opinião, uma boa cerveja, encorpada e aromática como essa, é melhor que qualquer vinho para se combinar com um prato de queijos variados", anunciou. Isso foi há cerca de quatro anos, quando começaram a surgir os primeiros sinais de que Nova York estava bastante interessada em recuperar as suas ancestrais raízes cervejeiras. Afinal, a cidade foi fundada por holandeses, depois passou para as mãos dos britânicos e acabou recebendo uma imensa quantidade de colonos irlandeses, todos esses notórios amantes de louras, ruivas e morenas. Dali em diante não pararam de surgir pequenas cervejarias, além de ótimos lugares para se apreciar a bebida, como a espetacular Birreria, um dos destaques do Eataly, complexo gastronômico dedicado à Itália. A última novidade é a exposição "Beer here", inaugurada no fim do mês passado na New York Historical Society. A essas novidades se juntam clássicos com a McSorley’s Old Ale House, inaugurada em 1854, desde então servindo ótimos chopes aos seus clientes, entre eles muitos e muitos turistas.
Dos clássicos ao ‘Renascimento’
Um belo balcão de madeira escura descascado pelo tempo parece estar ali desde 1854, ano de inauguração da McSorley’s Old Ale House, no sul de Manhattan, no East Village. Alguns clientes com pinta de assíduos ficam por ali mesmo, bebendo e conversando. As mesas e cadeiras também apresentam as marcas do tempo: devem ter a idade da casa, instalada em um daqueles prédios de tijolinhos que são a cara de Nova York, com direito a escada de incêndio na fachada. A decoração é lindamente caótica, misturando muitas fotos antigas em preto e branco e recortes de jornal enfeitando as paredes, cheias de penduricalhos, os mais diferentes, de relógios centenários a bandeirinhas da Irlanda, pátria de John McSorley, que chegou aos EUA em 1851 e fundou este endereço, fundamental para se desvendar a alma nova-iorquina. Um aquecedor de ferro domina o cenário. Espalhado pela chão, muito pó de serragem.
Parece que estamos em um filme de época. Há cem anos, em 1912, o pintor John French Sloan fez o quadro McSorley’s Bar: a obra mostra que o lugar nada mudou desde então. Bastariam esses elementos estéticos e históricos para fazer da visita ao lugar um dos programas mais imperdíveis de Nova York. Mas existem outros prazeres escondidos ali por detrás da fachada de vidro com madeira escura, onde repousam barris de madeira pintados de verde. Além da atmosfera há os comes e bebes, que são a alma de qualquer boteco que se preze. Para bebericar, as duas cervejas produzidas por eles e, para forrar o estômago, um corretíssimo fish’n’chips, ótima companhia para elas.
São duas variedades de cervejas, servidas na pressão, com espuma cremosa, ambas imperdíveis: a McSorley’s Ale (no estilo pale ale, com delicioso amargor) e a McSorley’s Black and Tan (no estilo stout, com sabor levemente adocicado e com aromas defumados). Para acompanhar, a pedida mais comum é mesmo o fish’n’chips, que honra a tradição britânica do lugar: trata-se de um belo filé de peixe com casquinha à milanesa crocante e carne de sabor delicado, servido com batatas fritas rústicas, de tamanho grande, acompanhado de rodelinha de limão siciliano. Para completar, canecas de vidro recheadas com um imperdível molho de mostarda de sabor intenso. Mas o quadro-negro que serve de cardápio ao lado do balcão lista outras comidinhas: podemos pedir sanduíches de presunto com queijo ou de peru, salada de camarão, tábua de queijos, hambúrguer com fritas e até uma sopa (clam chowder, é claro).
Dizem que este é o bar mais antigo dos Estados Unidos ainda em funcionamento. Até 1970 apenas homens podiam frequentar o lugar. Entre osclientes ilustres encontramos nomes como Abraham Lincoln, John Lennon e o o escritor e.e. cummings, que teria escrito ali o poema "I was sitting in McSorley’s".
Com sete pontos na cidade, a Heartland Brewery não tem tanta história para contar. Mas é uma peça chave nesse assunto: este foi um dos primeiros endereços a apontar para o renascimento da cultura cervejeira de Nova York. Em 1995 abriu as portas a primeira unidade, na Union Square. Hoje há filiais ao lado de pontos turísticos estratégicos, como o Empire State, o Radio City, Times Square e The Seaport.
São mais de 20 tipos de chopes no total, incluindo os de produção regular, servidos durante o ano inteiro, e os sazonais, feitos apenas em determinados períodos. Entre as que estão sempre jorrando das torneiras encontramos a Indiana Pale Ale, com aromas de especiarias e ótimo par para um bom salmão grelhado, e a Corn Husker Lager, indicada para acompanhar o ravióli de lagosta e caranguejo. Há versões saborizadas, como a famosa Smiling Pumpkin Ale, feita com abóbora e especiarias, como gengibre e canela, que é servida em setembro e outubro. No verão, entre junho e setembro, a casa serve a Summertime Apricot Ale, de trigo, aromatizada com damasco. O mestre cervejeiro Kelly Taylor não para de criar, e há sempre coisas novas a se provar. O que muda pouco é o menu, baseado em carnes, sanduíches e massas, com sugestões tipicamente americanas: o garçom sugere acertadamente as harmonizações com as cervejas da casa. Pode confiar. Um dos destaques vai para o suculento NY strip steak, servido com purê de batatas e molho feito com a Red Rooster Ale.
Outra marca importante que contribuiu decisivamente para o momento atual da cultura cervejeira em Nova York é a Brooklyn Brewery, inaugurada em 1996 com pompa e circunstância: o então prefeito Rudolph Giuliani cortou a faixa e foi o primeiro consumidor oficial da cerveja produzida ali. A marca se consolidou com um das principais dos Estados Unidos, com uma linha de ótimas cervejas e fãs em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Hoje a fábrica recebe grupos de turistas que aprendem o processo de produção da bebida em visitas guiadas que acontecem diariamente. Há uma grande linha de produtos, vendidos como suvenir: de camisas, bonés e canecas a livros e kits para se fazer a própria cerveja em casa.
Tanto burburinho em torno da cerveja deu origem a uma série de eventos, como a NY Craft Beer Week, que este ano deve chegar à sua quinta edição, em setembro; o NYC Craft Beer Festival e o Craft Beer & Food Festival, ambos em março.
Brooklyn Brewery: 79 North 11th Street, Brooklyn. Tel.  (718) 486-7422brooklynbrewery.com
Heartland Brewery: São sete endereços diferentes espalhados pela cidade. Veja no site heartlandbrewery.com.
McSorley’s Old Ale House: 15 East 7th Street. Tel.  (212) 474-9148mcsorleysnewyork.com

sábado, 16 de junho de 2012

O mito sobre a origem de sobrenomes de judeus convertidos


Na Bahia do século XVII, o professor de um colégio jesuíta perguntou o sobrenome de um de seus alunos. A resposta foi inusitada: “Qual deles, o de dentro ou o de fora”? A história, contada pela historiadora da USP Anita Novinsky em sua dissertação “O mito dos sobrenomes marranos”, exemplifica o dilema dos cristãos-novos brasileiros, nos primeiros séculos do país. Expor ou não o sobrenome da família fora de casa, sob risco de ser identificado pela Inquisição e acusado do crime inafiançável de “judaísmo”? O temor e a delicadeza do tema fizeram com que a genealogia dos descendentes de judeus portugueses no Brasil fosse envolta, por séculos, numa bruma de mitos e ignorância. Nos últimos anos, no entanto, pesquisadores têm revelado surpresas sobre os sobrenomes marranos no Brasil
No final do século XV, os judeus compunham entre 10% e 15% da população de Portugal — somando os cerca de 50 mil locais e os quase 120 mil que cruzaram a fronteira em 1492, quando os Reis Católicos Fernando e Isabela expulsaram toda a população judaica da Espanha. Nos primeiros dois séculos depois do Descobrimento, o Brasil recebeu boa parte dessa população, os chamados cristãos-novos (ou “marranos”, pelo apelido pejorativo da época), convertidos ao cristianismo à força, por decreto de Dom Manuel I, em 1497. Historiadores concordam que um em cada três portugueses que imigraram para a colônia era cristão-novo.
Até recentemente, acreditava-se que esses judeus conversos abandonaram seus sobrenomes “infiéis” para adotar novos “inventados” baseados exclusivamente em nomes de plantas, árvores, frutas, animais e acidentes geográficos. Assim, seria fácil. Todos os portugueses com os sobrenomes Pinheiro, Carvalho, Pereira, Raposo, Serra, Monte ou Rios, entre outros, que imigraram para o Brasil após 1500 devem ter sido marranos, certo? Errado.
— Em minhas investigações, não encontrei prova documental de que nomes de árvores, animais, plantas ou acidentes geográficos tenham pertencido apenas ou quase sempre a marranos — afirma Anita Novisnky, uma das maiores autoridades no assunto.
O que causa confusão, segundo Novinsky, é o fato de que os sobrenomes adotados pelos cristãos-novos eram os mesmos usados por cristãos-velhos, alguns por nostalgia, outros por medo de perseguições. Afinal, no Brasil, os marranos foram perseguidos por 285 anos pela Inquisição portuguesa. Quem demonstrasse apego à antiga religião poderia ser condenado à morte na fogueira dos “autos de fé”, as cerimônias de penitência aos infiéis.
Como identificar, então, quem era marrano? A mais importante pista está justamente nos arquivos da Inquisição. Aproximadamente 40 mil julgamentos resistiram ao tempo, 95% deles referentes a crimes de judaísmo. Anita Novinsky encontrou exatos 1.819 sobrenomes de cristãos-novos detidos, só no século XVIII, no chamado “Livro dos Culpados”. Os sobrenomes mais comuns dos detidos eram Rodrigues (citado 137 vezes), Nunes (120), Henriques (68), Mendes (66), Correia (51), Lopes (51), Costa, (49), Cardoso (48), Silva (47) e Fonseca (33).
— A Inquisição anotava todos os nomes dos detidos cuidadosamente, como se fosse a Gestapo nazista e mantinha uma relação de bens de cristãos-novos para confiscar — diz Anita.
Isso não quer dizer, no entanto, que todas as famílias com esses sobrenomes eram marranas. Nas investigações, sob tortura, os detidos diziam tudo o que os inquisidores queriam ouvir, acusando vizinhos, empregados e parentes “inocentes”. Fora isso, os sobrenomes eram realmente comuns.
— Não havia nenhum sobrenome exclusivo de cristãos-novos. Até porque eles mudavam sempre que podiam, além de adotarem nomes compostos. Muitos irmãos e esposos adotavam até mesmo sobrenomes diferentes, só para confundir — explica o historiador israelense Avi Gross
O historiador paulistano Paulo Valadares, autor do “Dicionário Sefaradi de Sobrenomes”, no qual destaca 14 mil sobrenomes oriundos de judeus da Península Ibérica, aponta para mais uma complicação: o da mestiçagem brasileira. A grande maioria dos cristãos-novos se misturou depois de uma ou duas gerações com outras culturas e raças.
— Poucos conseguiram manter as tradições judaicas por muito tempo. Algumas famílias tentaram, se isolando em algumas áreas do país, principalmente no Sertão nordestino, e praticando a endogamia (casamentos dentro da família).
Para os aficionados em genealogia, um novo site na internet, o “Name your roots” (que tem versão em português), pode ajudar a descobrir as raízes. No portal, criado há três meses por dois religiosos israelenses, é possível obter explicações e bibliografia gratuitamente sobre sobrenomes marranos comuns no Brasil.
Mas Paulo Valadares alerta que é preciso ir além: identificar se há antepassados portugueses que chegaram ao Brasil nos séculos XVI ou XVII ou se foram citados nos anais da Inquisição até o século XVIII, se a família se estabeleceu em alguma região específica e se guarda tradições “estranhas”. O documentário “A estrela oculta do Sertão”, de Elaine Eiger e Luize Valente, traz exemplos de algumas dessas tradições, que ainda sobrevivem no Nordeste: olhar a primeira estrela no céu, não comer certos alimentos como carne de porco, não misturar carne com leite, vestir a melhor roupa na sexta-feira, enterrar corpos em “terra limpa” (envolto apenas numa mortalha), rezar numa língua estranha e colocar pedras em túmulos.
— Depois de conviver com comunidades do interior do país, percebi como os descendentes de marranos praticam tradições judaicas no dia a dia — conta Luize , que lança, em agosto, o romance “O segredo do oratório” (Record), contando a saga de uma família de cristãos-novos no Brasil.
O médico paraibano Luciano Canuto de Oliveira, que voltou ao judaísmo depois de descobrir suas origens marranas, define sua identidade de modo parecido com a resposta do aluno do colégio jesuíta, há quatro séculos: “Ser marrano é ser judeu por dentro e católico por fora”




Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/o-mito-sobre-origem-de-sobrenomes-de-judeus-convertidos-5227424#ixzz1y0M2eqMW 

terça-feira, 12 de junho de 2012

Niterói, Museu de Arte Moderna


As melhores baguetes e o primeiro bistrô de Paris em Montmartre




Escadarias da Basilique du Sacré Coeur de Montmartre, principal cartão-postal do bairro que é cheio de padarias e bistrôs deliciosos
Foto: Bruno Agostini / O Globo
Escadarias da Basilique du Sacré Coeur de Montmartre, principal cartão-postal do bairro que é cheio de padarias e bistrôs deliciososBRUNO AGOSTINI / O GLOBO
PARIS - Fernando Pessoa escreveu certa vez: "Saudades, só portugueses/ Conseguem senti-las bem/ Porque têm essa palavra/ Para dizer que as têm". Um raciocínio semelhante pode ser aplicado ao verbo flanar, expressão criada por outro escritor, o francês Baudelaire: flanar de verdade só é possível em Paris, cidade onde foi criado o termo. Montmartre e Belleville, espalhados pelos 18º, 19º e 20º arrondissements, são dois bairros ótimos para praticar a arte de andar sem rumo, subindo ladeiras e escadas, desvendando novos ângulos da capital francesa, descobrindo padarias que servem algumas melhores baguetes de Paris, restaurantes étnicos, lojas de design e galerias de arte, além de endereços históricos, como La Mére Catherine, onde teria nascido outra palavra imensamente relevante para os gauleses, bistrô, e o café Aux Folies, frequentado por ninguém menos que Edith Piaf.
Para começar o dia com os melhores pães de Paris
Montmartre, mais especificamente a Rue des Abbesses, é um dos melhores lugares de Paris para se começar um dia de maneira muito parisiense. Isso porque estão ali algumas das melhores boulangeries da capital francesa, como Le Grenier à Pain, Coquelicot, La Flûte de Pain e Au Levain d’Antan — este último é o atual campeão do concurso de melhor baguete de Paris, que faz dele o fornecedor oficial do Palácio do Eliseu, residência do casal Nicolas Sarkozy e Carla Bruni (a Rue de Abbesses é bicampeã na acirrada disputa, já que Le Grenier à Pain venceu em 2010). Portanto, passear por Montmartre é uma ótima razão para dispensar o café da manhã do hotel. Não apenas pela qualidade de suas padarias, mas também pela enorme oferta de lojas de alimentos, tanto "traiteurs" que vendem pratos prontos, quanto as casas especializadas (em queijos, em vinhos, em pescados...).
Depois de comprar uma bela baguete, croissant ou brioche, ou mesmo os três, podemos sair em busca de queijos, geleias, embutidos, pastinhas e outros recheios que a nossa imaginação permitir pelas lojinhas da Rue de Abbesses, mais saboroso ponto de partida para um passeio por Montmartre. Gostoso e prático, já que a estação Abbesses do metrô — em ponto central, facilmente alcançada a partir de diversas linhas — está logo ali, a poucos passos dessa coleção de lugares deliciosos. Para achar a padaria Le Grenier à Pain basta ficar atento à fila, que está sempre à porta.
O imenso gramado, a menos de dez minutos de caminhada a partir dali, que desce as encostas da Basilique du Sacré Coeur de Montmartre é um convite irresistível para esticar a toalha e fazer um piquenique matinal — há vários banquinhos de madeira, com linda vista da cidade, que também são muito próprios para isso.
Montmartre é um bairro repleto de imigrantes, daí a quantidade imensa de restaurantes étnicos: há endereços chineses, tailandeses, tibetanos, cambojanos, indianos, húngaros, italianos, gregos... Nos arredores da Rue de Abbesses, e na própria, charmosamente calçada com paralelepípedos, encontramos uma babel gastronômica, com pratos autênticos e a bons preços, preparados por cozinheiros nativos desses lugares.
Muitos desses endereços são especializados em comida pronta, os "traiteurs", um achado para os que planejam um piquenique por aqueles lados: numa pequena área da Rue des Abbesses encontramos um traiteur asiático, chamado Shanghai; um outro italiano, La Bottega di Piacenza, e outro grego, a Pelops — além de uma bela "charcuterie", a Nathalie et Christian Durand; uma casa de chás, a Kusmi Paris; e uma loja de queijos, Les Fromages de Marie, com uma admirável coleção de exemplares de diversas regiões da França, e outras vitrines tentadores, que exibem vistosos sanduíches (tem cada croque monsieur lindíssimo), frangos assando lentamente (há uma casa especializada em aves, a Chicken Family), embutidos pendurados, peixarias (na Pepone, que prepara uma famosa sopa de pescados, é possível comprar peixes e frutos do mar vistosos; para as ostras, basta um limão para uma bela brincadeira ao ar livre), açougues (a Jack Gaudin vale a visita), mercadinhos com frutas vistosas, cafés, brasseries, bistrôs...
Amantes das ostras, aliás, encontram um porto seguro na tradicional La Mascotte, um bar especializado em peixes e frutos do mar, que tem sempre uma ótima seleção delas, exposta do lado de fora. Com tamanha concentração de endereços gastronômicos, a Rue des Abbesses (e a Rue Lepic, sua continuação) é um paraíso gourmet, mas os turistas ainda não descobriram isso, e é difícil ouvir outras línguas que não o francês num passeio por ali — sim, Montmartre é um bairro bastante turístico, mas apenas o eixo Sacré Coeur-Praça do Tertre. A parte baixa é quase que inteiramente dos parisienses.
Um ótimo lugar para um aperitivo depois do café da manhã em forma de piquenique e antes do almoço, na parte alta de Montmartre, é o bar de vinhos e loja Caves des Abbesses, que tem uma ótima seleção de rótulos (quem só quer comprar uma ou mais garrafas tem, ainda, pelo menos mais duas lojas ali, a onipresente Nicolas e a De Verre en Vers). Para os dias mais quentes, duas mesinhas do lado de fora convidam a ficar por ali, bebericando ao sabor de pratos de petiscos, com queijos, embutidos e conservas. No frio, nos fundos da loja há um pequeno e acolhedor salão, com algumas mesas. Para um bom "gelato", a Amorino — provavelmente a rede de sorveterias que mais cresce no mundo — serve uma ótima seleção deles, feitos sem conservantes e corantes, no estilo italiano, usando leite fresco e ovos "biô".
Montmartre não é nenhum Marais, mas existe ali um comércio moderninho, com algumas galerias de arte e lojinhas de roupas e objetos que agradam em cheio à turma que curte design e afins, como a Pylones e a Kiehl’s, uma marca de produtos de beleza muito fashion. Os amantes da gastronomia encontram diversão garantida na Ets Lion, ainda na Rue des Abbesses. Inaugurada em 1895 é loja de produtos alimentícios, como ervas, geleias e objetos de culinária e decoração de cozinhas, como velas, potes e travessas, além de plantas, sementes e material para jardinagem. Dá para ficar um longo tempo, olhando e comprando, olhando e comprando...
Ainda que o maior burburinho artístico esteja na parte alta do bairro, passeio que deixamos para a parte da tarde (leia mais na página seguinte), na Rue des Abbesses e cercanias também encontramos algumas boas galerias, como a Tableaux e a W Eric Landau. A Yellow Korner é uma imperdível galeria de arte dedicada exclusivamente à fotografia, com uma incrível seleção de imagens, entre registros clássicos de artistas famosos e importantes agências de imagens (como a americana Keystone) a novos talentos nessa área. Dá vontade de encher a parede de casa com essas imagens. Há por ali, ainda, algumas lojas de suvenires com peças bastante interessantes, como a Montmartre Je t’aime, e até uma casa especializada em objetos angelicais, La Boutique des Anges, onde encontramos tudo o que se possa imaginar relacionado ao tema, de envelopes para cartas e abajures, passando por ímãs de geladeira, velas e toda a sorte de imagens (quadro, gravuras etc). Ainda na linha loja temática, na Rue Tardieu, no caminho para a Basilique du Sacré Coeur de Montmartre, encontramos uma casa especializada em frascos de perfume e talco, e assemelhados, a Belle de Jour, que reproduz, restaura e vende essas peças.
Para se chegar à parte alta do bairro há pelo menos três possibilidades: usar o trenzinho branco que circula por Montmartre (com saída e chegada da Place Blanche, bem próxima à Rue des Abbesses), subir pelo funicular que está aos pés da igreja ou, então, encarar os degraus da escadaria, num programa relativamente cansativo, mas que revela aos poucos lindos ângulos de Paris.
Um almoço no primeiro ‘bistrot’
Depois de subir as escadarias da linda Basilique du Sacré Coeur de Montmartre, a fome bateu. Enquanto saboreava um "oeuf cocotte au foie gras" eu esperava o meu prato principal, um parmentier de canard, espécie de escondidinho de pato à moda francesa. Na taça, um Bordeaux 2008, do Château Sainte Catherine. No salão de teto baixo do restaurante La Mère Catherine, na parte alta de Montmartre, um casal interpretava clássicos do cancioneiro popular francês, ele ao piano, ela deslizando de mesa em mesa, apresentando um repertório conhecido. Eis que a cantora se vira para mim, pega na minha mão, e canta, em tom claramente piedoso, como quem tivesse pena desse turista solitário em um domingo frio e chuvoso. "Quand il me prend dans ses bras/ Il me parle tout bas/ Je vois la vie en rose/ Il me dit des mots d’amour". "La vie en rose": impossível não sorrir, de vergonha e de alegria. Em seguida ela partiu para a mesa ao lado, onde pôde dividir o seu repertório com clientes da casa, parisienses legítimos que sabiam todas as letras de cor e salteado, porque Montmartre é um bairro muito particular da capital francesa: mistura, como nenhum outro, talvez em iguais proporções, moradores locais e turistas (mas só nessa parte alta).
Não demorou muito para o garçom chegar com o meu pedido, um parmentier admirável em todo o seu esplendor franciscano: comida simples, muito saborosa e reconfortante, uma receita bastante apropriada para aquela tarde fria de dezembro. Em seguida, para fechar, uma tarte tatin devidamente escoltada por um Bas-Armagnac 1976, completando o menu da casa que eu havia escolhido, a razoáveis 36 euros por pessoa.
O La Mère Catherine é um clássico parisiense, fundado em 1793. Reza a lenda que o termo "bistrot" teria sido criado ali, em 1814, pelos cossacos russos, que famintos entraram no restaurante gritando "Bistro, bistro", que significa "rápido", na língua de Dostoiévski. Verdade ou mentira, o fato é que o La Mère Catherine é um restaurante altamente recomendável: foi sugerido tanto pelo guia (de papel) que levei comigo na viagem quanto pelo concièrge do classudo hotel Le Meurice, que nem pestanejou quando pedi uma sugestão de almoço em Montmartre.
— O Moulin de la Galette é ótimo, e tem feito muito sucesso com o público interessado em gastronomia. Mas eu diria que o melhor restaurante ali, considerando a qualidade da comida, o ambiente e a história do lugar, é o La Mère Catherine. O senhor vai gostar, posso garantir — disse o solícito rapaz.
— Reserva o La Mére Catherine para mim? — foi a minha pronta resposta, e de fato tive momentos muito saborosos e felizes ali. Merci, monsieur.
O restante já sabemos. Além dos atributos gastronômicos, arquitetônicos e históricos, o La Mère Catherine reserva ainda outro: o geográfico. O restaurante está localizado na pequenina e charmosa Place du Tertre, onde encontramos uma imagem típica de Paris, que já quase não se vê mais em outros pontos da cidade: são os artistas de boina pintando ao ar livre.
É bem verdade que nem todos usam qualquer cobertura para a cabeça, nem cultivam um bigodinho impecável, como no imaginário coletivo, estereótipo do pintor francês, mas a cena é absolutamente parisiense, inclusive pela boa quantidade de turistas, que posam para os retratos feitos na hora, que podem ser, ou não, um belo suvenir. Passear por ali é uma ótima pedida para depois do almoço. E quem quiser pode investir entre 20 euros e 50 euros, e levar para casa um desenho, que pode ser uma divertida caricatura ou retrato mais fiel à realidade, seguindo as mais diversas escolas artísticas e estilos. Ah, sim: você também pode levar uma fotografia de alguém querido para ser reproduzida pelos artistas, uma espécie de "Estive em Paris e lembrei de você" (em versão très chic).
Como catalisadora de pintores, a praça também atrai galerias de arte, como a Montmartre, com uma chamativa fachada vermelha, espécie de posto avançado do Espace Dalí, um museu e loja dedicado ao artista espanhol, que está a poucos passos dali e pode ser uma ótima opção de passeio para se fazer a digestão. É possível levar para casa pinturas e esculturas, em edições limitadas, e toda a sorte de objetos e suvenires de Dalí.
Para continuar o tour pela História da Arte, que tem no bairro um importante e eterno ponto de referência, uma curta caminhada conduz até a pequena Rue Ravignan, onde está, no número 13, o Bateau Lavoir, na Place Emile Goudeau, antiga residência, no início do século passado, de artistas, como Pablo Picasso (que viveu ali entre 1900 e 1904), Max Jacob, Henri Matisse, Georges Braque e Amedeo Modigliani, escritores, como Jean Cocteau, além de atores, marchands...
Dali vale esticar a caminhada pelas ruas adjacentes, como Avenue Junot (uma das mais caras de Paris), a Rue Norvins, a Rue Girardon e a Rue Caulaincourt. Ou andar sem rumo, flanando, observando os prédios antigos e os jardins, as pessoas voltando pra casa com a baguete debaixo do braço, os donos passeando com os seus cachorros. A vida como ela é, porque em Paris o cotidiano parece mais belo e glamouroso.
Para encerrar o dia, um programa fofo e bastante turístico é jantar no Les Deux Moulins, famoso por ter sido cenário do filme "O fabuloso destino de Amélie Poulin". A comida não está entre as mais respeitáveis, vale mais para beber uma tacinha de vinho. Melhor mesmo é seguir até o Le Miroir, talvez o melhor restaurante de Montmartre. Só não se esqueça de reservar a sua mesa, porque muita gente sabe disso, inclusive os turistas e os guias de viagem.
Encerrar com o jantar? Só quem quiser. Porque duas das casas de shows mais famosas de Paris estão por ali. O Moulin Rouge fica perto do Le Miroir. E o Au Lapin Agile, outro ícone entre os cabarés parisienses, não8 está muito longe, mas é bom pegar um táxi. Basta escolher.
Serviço:
Restaurantes
La Mère Catherine: Place du Tertre 6. Tel. 4606-3269.lamerecatherine.com
Moulin de la Galette: Rue des Moulins 15. Tel. 3980-6955.moulindelagalette.fr
Le Miroir: Rue des Martyrs 94. Tel. 4606-5073.
Les Deux Moulins: Rue Lepic 15. Tel. 4254-9050.
Padarias
Le Grenier à Pain: Rue des Abbesses 38. Tel. 4606-4181.legrenierapain.com
Au Levain d’Antan: Rue des Abbesses 6. Tel. 4264-97 83.
Coquelicot: Rue des Abbesses 24. Tel. 4606-1877. coquelicot-montmartre.com
Traiteurs
La Bottega di Piacenza: Rue des Abbesses 53. Tel. 4492-9099.
Shanghai: Rue des Abbesses 50. Tel. 4264-3658.
Pelops: Rue des Abbesses 44. Tel. 5328-2669.
Nathalie et Christian Duran: Rue des Abbesses 30. Tel. 4606-4435.
Lojas
Les Fromages de Marie: Rue des Abbesses 32.
La Cave des Abbesses: Rue des Abbesses 43. Tel. 4252-8154.cavesbourdin.fr
Ets Lion: Rue des Abbeses 7. Tel. 4606-6471. epicerie-lion.fr
Yellow Korner: Rue des Abbesses 44. Tel. 4258-3128.fr.yellowkorner.com
Kusmi Tea: Rue des Abbesses 38. Tel. -4278-1196. kusmitea.com
La Boutique des Anges: Rue Yvonne le Tac 2. Tel. 4257-7438.boutiquedesanges.fr
Belle de Jour: Rue Tardieu 7. Tel. 4606-1528. belle-de-jour.fr
Passeios
La Basilique du Sacré Coeur de Montmartre: A entrada é gratuita, e fotos são proibidas. Vale a pena subir até a cripta para ter um dos mais lindos panoramas de Paris (das 9h às 19h; no inverno, até as 18h). O templo fica aberto das 6h até as 22h30m (entrada permitida até as 22h15m). Rue du Chevalier de la Barre 35. Tel. 5341-8900.sacre-coeur-montmartre.com
Espace Dalí: O ingresso custa 11 euros. Rue Poulbot 11. Tel. 4264-4010. daliparis.com
Le Petit Train de Montmartre: O trenzinho simpático circula pelo bairro em tour que dura aproximadamente 40 minutos, com partida e chegada da Place Blanche, e passando por pontos turísticos como a Place du Tertre, o Espace Dalí, a basílica e o cemitério de Montmartre. O passeio, ida e volta, custa 6 euros. Tel. 4262-5030. promotrain.fr
Casas de shows
Moulin Rouge: Só o show custa 95 euros (há preços combinados com jantar, podendo chegar até 200 euros, o chamado menu Belle Époque. Boulevard du Clichy 82. Tel. 5309-8282. moulinrouge.fr
Au Lapin Agile: O ingresso custa 24 euros, com direito a uma bebida. Rue Saules 22. Tel. 4606-8587. au-lapin-agile.com