terça-feira, 30 de agosto de 2011

'Lula não é de esquerda, é um conservador e grande conciliador', diz jornalista autor de livro sobre ex-presidente





Jornalista José Nêumanne Pinto.Foto: Marcos Alves/ Agência O Globo.
SÃO PAULO - Observador privilegiado da ascensão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde os tempos de líder sindical no ABC paulista, o jornalista e escritor José Nêumanne Pinto defende em seu livro lançado na semana passada, "O que sei de Lula", a desmistificação do petista como um revolucionário e representante da esquerda brasileira. Ele considera Lula o maior político que o país já teve, mas diz que, na essência, ele é um "conservadoraço". Nêumanne acompanhou, como repórter, de perto a rotina de Lula no tempo das greves no ABC e chegaram a ser amigos. Mas, com a eleição de Lula, a relação acabou.
- Eu sempre me rebelei com a imagem que foi sendo feita ao longo do tempo e pensei: eu tenho o privilégio de conhecer bem o assunto, a origem, a saga dele e o fato de ele nunca ter sido revolucionário de esquerda. Escrevi esse livro ao sabor da memória - conta.
O GLOBO: Qual a maior revelação que o livro traz?
JOSÉ NÊUMANNE PINTO: É que o Lula não é de esquerda, é um conservador e grande conciliador.
O GLOBO: Além de dizer que Lula nunca foi de esquerda, o senhor questiona o mito em que ele se transformou. O que o fez chegar a essa conclusão?
NÊUMANNE: Isso não é uma opinião. Eu mostro isso com episódios. Entre 1978 e 1979 eu fui procurado pelo Claudio Lembo, presidente da Arena na época, porque ele tinha uma missão. O general Golbery do Couto e Silva queria fazer a volta dos exilados e queria apoio do Lula. A reunião foi em um sítio do sindicato e lá eu ouvi o Lula dizer: Dr Claudio, fala para o general que eu não entro nessa porque eu quero que esses caras se danem. Os caras estão lá tomando vinho e vêm para cá mandar em nós? O Lula falava que a igreja tinha 2 mil anos de dívidas com a classe trabalhadora e que não resolveria em dois anos. Com os estudantes dizia que poderia fazer um pacto: eles não encheriam o saco do sindicato e o sindicato não encheria o deles. Isso tudo eu vi, ninguém me contou. Ele é um conservadoraço. Nunca foi revolucionário.
O GLOBO:Mas e a história dele com o PT?
NÊUMANNE: Eu costumo usar a seguinte imagem para ilustrar a história da esquerda na vida dele. Pense numa cebola. O núcleo da cebola é o homem. O resto é casca ideológica e política construída ao longo do tempo. O meu objetivo era descascar essa cebola e chegar ao homem, porque eu acho que o segredo do sucesso do Lula é a condição humana dele, a origem, o ambiente familiar, a carreira no sindicato e, sobretudo, dois talentos, que não têm nada a ver com ideologia. O primeiro é o talento que ele tem de se comunicar. O segundo é que Lula é o maior de todos os conciliadores da história do Brasil. O Lula conseguiu um milagre. Quando eu conheci o Lula se falava muito que a esquerda brasileira só se reunia na cadeia, porque eram todos inimigos. E o Lula foi o primeiro cara que uniu a esquerda mesmo sem ser de esquerda.
O GLOBO: Qual dessas caraterísticas é, na sua opinião, a responsável por torná-lo, como o sr. diz, o maior político do Brasil?
NÊUMANNE: Ele é o maior político brasileiro e eu não considero isso necessariamente um elogio. Você sabe o que é o político brasileiro? É o cara que faz qualquer coisa para ficar no poder e isso é o Lula. A primeira vez que eu usei essa expressão o Serra (ex-governador José Serra) me chamou e disse que Getúlio Vargas era o maior político que o país havia tido. Eu falei: Serra, o Getúlio meteu uma bala no peito por causa de uma corrupçãozinha por causa de um segurança do pai dele. O Lula administrou uma quadrilha chamada mensalão e a oposição não tem um cara para enfrentá-lo na eleição. Nunca houve um conciliador como Lula.
O GLOBO: Isso foi aprendido ou é inato?
NÊUMANNE: É inato e foi desenvolvido. Quando eu conheci o Lula ele não tinha noção desses talentos. Nas primeiras entrevistas que eu fiz com ele na época do sindicato ele era terrível, despreparado. Eu fui vendo, aos poucos, ele se transformar num cara genial, no meu melhor entrevistado. O talento de conciliador ele descobriu no bar da Tia Rosa, em frente ao sindicato em São Bernardo do Campo, onde fazia as negociações quando sindicalista. O PT que Lula fundou é a soma dos sindicalistas autênticos, a Igreja progressista e a esquerda armada.
O GLOBO: Todos esses setores tinham como plano usá-lo para chegar ao poder, mas foi ele quem acabou usando todos eles?
NÊUMANNE: Eu defendo isso no livro. Primeiro o Golbery pensou que ia dominar o Lula. A igreja tentou usá-lo, mas na primeira oportunidade ele jogou a esquerda para escanteio ao escolher o José Alencar para vice, representante de um partido evangélico.
O GLOBO: E o ex-ministro José Dirceu?
NÊUMANNE: O Lula usou o Zé Dirceu. O PT era esfacelado e o Lula não tinha domínio sobre o PT. O Zé Dirceu é quem tinha e deu o domínio a Lula. Primeira chance que ele teve, despachou o Zé Dirceu. Eu sempre achei que o projeto do Lula era o Palocci (ex-ministro da Fazenda na gestão Lula).
O GLOBO: O senhor diz que Lula não mudou tanto nesses quase 40 anos, contrariando o que diz o próprio. Em que ele continua o mesmo?
NÊUMANNE: Apesar de ele dizer que é uma metamorfose ambulante, ele não mudou. Ele usa os mesmos métodos. No palanque nos tempos do sindicalismo a primeira coisa que eu aprendi foi o método dele. Ele botava dois companheiros para defender teses diferentes. Um a favor de manter a greve e o outro contra. Ele olhava a reação do povo e decidia. Esse é o cara que colocou Dirceu versus Palocci. Ele governa na cizânia. Ele tem a sabedoria ancestral de dividir para reinar. Um repórter da revista Playboy perguntou a ele quais eram as duas maiores personalidades do século 20? Ele disse Gandhi e Hitler. Um pacifista e um assassino. Isso é ele.
O GLOBO: Você acredita que ele voltará a disputar a Presidência?
NÊUMANNE: Cada dia mais eu me convenço de que esse é o plano dele.
O GLOBO: Há algo que você sabe sobre Lula e não está no livro?
NÊUMANNE: Tem coisas que não dá para contar. Tem coisas que eu não posso provar e, se escrevo, ou vou para a cadeia ou tomo um tiro.

domingo, 28 de agosto de 2011

Buenos Aires para iniciados -



Restaurantes


  • La Vineria del Gualterio Bolivar - Calle Bolívar, 865 - Comer ali é sempre uma surpresa. O cliente escolhe entre os menus degustação de nove e de 14 etapas com possibilidade de harmonização com vinhos. A única certeza que se tem é que a sequência será ousada.
  • Iñaki - Calle Moreno, 1341, Tel 4382-8486 - Ocupa um salão amplo, claro e pouco decorado. Experimente o arroz a mebascas, cremoso, bem temperado com açafrão e repleto de cogumelos fatiados, camarões e uma saborosa centolla desfiada. AR$ 83 para duas pessoas. Como entrada lula cozida na tinta. $$
  • Tomo - Calle Carlos Pellegrinei, 521 (Hotel Panamericano) - Toda noite há um menu degustação diferente. $$$$$
  • Patagonia Sur - Calle Rocha, 801 - 4303-5917 - Pertinho do Caminito, talheres Chistofle, eróticos reproduções de Gustav Klint e elegante biblioteca. Para degustar as receitas do chef pagam-se AR$ 410 por um menu completo. A carta de vinhos só traz o melhor das bodegas argentinas.
  • El Bistro - Calle Martha Salotti, 445 - 4010-9200, Hotel Faena - Vá nem que sej para conhecer o famoso salão do arquiteto Philipe Starck. $$$$$
  • El Obrero - Calle Augustin R Caffarena, 64 - 4362-9912 begin_of_the_skype_highlighting            64 - 4362-9912      end_of_the_skype_highlighting -  Situado em uma quebrada de La Boca é lugar para ir e voltar de táxi, mas não deixe de ir. O bodegón rústico, com piso hidráulico encardido, pòsteres de futebol e mesas concorridas (reserve!!!) já acolheu até o cineata Francis Ford Coppols. Os motivos excedem o preço, AR$ 39, você come um ojo de bife memorável.
  • Broccolino - + um Italiano para se comer ajoelhado - Experimente a putanesca - http://www.broccolino.com.ar/
  • Sottovoceristorante - Um Italiano fantástico - http://www.sottovoceristorante.com.ar
  • La Caballeriza - onde se serve as melhores parrillas porteñas -  http://www.lacaballeriza.com/
  • Fervor - com dois endereços um na Recoleto e outro em San Telmo - http://www.fervorbrasas.com.ar/, imperdível.
  • Café Tortoni - Lindo, charmoso. http://www.cafetortoni.com.ar/
  • Los Imortaleshttp://www.losinmortales.net/
  • Las Violetashttp://www.lasvioletas.com/
  • La Bielahttp://www.labiela.com/
  • Confiteria Ideal - Onde foi gravado algumas cenas de Evita - http://www.confiteriaideal.com/public/
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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Originalidade em interpretar Camões


O vestibular da Universidade da Bahia cobrou dos candidatos a interpretação do seguinte trecho do poema de Camões:
                  "Amor é fogo que arde sem se ver,
                    é ferida que dói e não se sente,
                    é um contentamento descontente,
                    dor que desatina sem doer."
 
Uma vestibulanda de 16 anos deu a sua interpretação:
             
  "Ah, Camões! Se vivesses hoje em dia,
   Tomavas uns antipiréticos,
   Uns quantos analgésicos
   E Prozac para a depressão.
   Compravas um computador,
   Consultavas a Internet
   E descobririas que essas dores que sentias,
   Esses calores que te abrasavam,
   Essas mudanças de humor repentinas,
   Esses desatinos sem nexo,
   Não eram feridas de amor,
   Mas somente falta de sexo!"

A vestibulanda ganhou nota DEZ pela originalidade, pela estruturação dos versos, pelas rimas insinuantes e também porque foi a primeira vez que, ao longo de mais de 500 anos, alguém desconfiou que o problema de Camões era apenas "falta de mulher".

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

“Corrupção atinge níveis inimagináveis”, dizem delegados


Por Fausto Macedo, no Estadão:

Delegados da Polícia Federal, inconformados com ataques que a corporação recebe a cada operação, lançaram manifesto por meio do qual lamentam que “no Brasil a corrupção tenha atingido níveis inimagináveis”. Destacam que “milhões de reais, dinheiro do povo, são desviados diariamente por aproveitadores travestidos de autoridades”.

“Quando esses indivíduos são presos, por ordem judicial, os padrinhos vêm a público e se dizem “estarrecidos com a violência da operação da Polícia Federal”", afirma o documento, subscrito pela Associação Nacional dos Delegados da PF, uma das principais entidades da classe que detém atribuição constitucional para presidir inquéritos sobre desvios de recursos do Tesouro.

“No Ministério dos Transportes, toda a cúpula foi afastada”, assinala o protesto. “Estourou o escândalo na Conab e no próprio Ministério da Agricultura. Em decorrência das investigações no Ministério do Turismo a Justiça Federal determinou a prisão de 38 pessoas de uma só tacada. Mas a preocupação oficial é com o uso de algemas.”

Eles ponderam que “em todos os países a doutrina policial ensina que o preso deve ser conduzido algemado, porque a algema é instrumento de proteção ao preso e ao policial que o prende”.

Os delegados recorrem ao criminalista Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça no governo Lula, que um dia declarou:

“A Polícia Federal é republicana e não pertence ao governo nem a partidos políticos”.

"Quem não souber sorrir, que não abra uma loja".



Os orientais tem um ditado encantador: "Quem não souber sorrir, que não abra uma loja".

Poderíamos nós acrescentar: quem não souber sorrir, que não funde uma família, que não pretenda ter amigos...

Um sorriso pode ser mais elegante que um longo discurso; um sorriso é capaz de representar um sinal claro de um perdão que não se sabe explicar com palavras; um sorriso que acompanhe um favor prestado é como se dissesse: "Não foi nada, estamos aqui para isso."

Um sorriso, especialmente, pode ser uma forma delicada de esconder as penas ou um meio heróico de não deixar transparecer uma dor profunda.

Temos que saber cultivar a arte de ser amáveis, rejeitando qualquer forma de altivez que nos torne distantes, frios...

O sorriso cumpre essa função de aproximação, de amabilidade calorosa, como se estivéssemos abrindo de par em par as portas do coração, como se disséssemos: "Pode entrar, fique à vontade!"

Ainda que às vezes o próprio coração esconda a amargura mais íntima.

O correr dos anos, as decepções, as preocupações com o futuro, o cansaço, as doenças tenderão porventura a roubar-nos essa capacidade de dar um pouco de nossa alma em forma de sorriso.

Mas, ainda que nos custe, não deixemos que nos arrebatem esse dom.

O sorriso é o belo sacrifício de tornar a vida dos outros mais grata.

Vamos substituir a tragédia diária pelo sorriso diário!

(texto de Rafael Llano Cifuentes)

Pensamentos antigos, porém atuais


Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho; e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada , e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.  

Any Rand (Refugiada judia da Russia chegando aos Estados Unidos em 1920)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

GRITA BRASIL Dilma, a piadista!



E eu que pensei que era só o Lula o homem das piadas sem graça. Vai ver faz parte da herança maldita deixada por ele.
E vocês que (ainda) amam o PT, o Lula & Cia e, claro, a Dilma, não venham me dizer que sou o louco e o cego que não consegue ver a dimensão desse ato (insano) e que a presidenta Dilma está mais do que certa em vetar o aumento real para as aposentadorias.
Afinal, para que aumento real para os aposentados? Com base em quê? Para quê? Vamos repor a inflação e olhe lá. Eles não podem reclamar. Até porque quando votamos pelos nossos próprios aumentos a coisa muda de figura. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. E é bom que fique claro que vocês são a outra coisa. E nós, a coisa. Que coisa isso né?
Será então que é como diz a música, jogue suas mãos para o céu e agradeça…. Agradecer o quê? Agradecer por eles continuarem se achando deuses de Brasília e nós “isso aí mesmo”?
É sempre assim. Para votar o salário mínimo é aquela discussão, dias votando, dias pensando, dias calculando e sempre chegando à mesma conclusão. Aumento real: NÃO! E com os aposentados não seria diferente.
“É que falta dinheiro…”. Aliás, eles não têm dinheiro. O saco tá furado. E nem pense em achar que eles iriam mexer na parte que eles usam para desviar. Isso é sagrado. Nesse não se mexe.
O mais triste da história é que já havia um acordo. Entre Dilma, as bases aliadas e a oposição. E ninguém falou nada. Será que é medo da Dilma? Corre a boca pequena que ela é brava como um leão. Ou melhor, uma leoa. Se bem que acho que ela está mais para outro bicho.
Abafa o caso.
Só acho que não se pode abafar o fato do pastor Wladimir Furtado, um dos apanhados na Operação Voucher, ter usado um cheque sem fundos para pagar a sua fiança e sair da prisão. Já pensou se ele usa um cheque “Furtado”? Rá, rá, rá. Tá rindo? Mas é triste isso. Será que ele não teria que voltar para a prisão então até acertar a conta desse cheque? Sem falar que passar cheque sem fundos é crime também. E ele cometeu um crime para sair da prisão. Ele é na verdade um caso não raro de “171” ao quadrado, bicho que anda aparecendo mais que cupim ultimamente em Brasília. Ele deveria ser preso então duas vezes.
Só que foram mais de duas vezes que o ministro Wagner “Blindado” Rossi, da Agricultura, se utilizou de um jatinho de empresa que tem negócios com o ministério. Até aí tudo bem? Tudo mal! Pô, mas os opositores de quem acha isso um absurdo vão dizer que foi “só uma simples carona”. E, segundo o ministro, foram “poucas vezes”. Só que poucas é plural e isso não fica bem para a imagem de um ministro. Não é mesmo Rossi?
Ou será que agora você vai dar uma sumida como fez seu colega Pedro Novais, do Turismo, e ver se a poeira abaixa e surge outro ministério para chamar a atenção e desviar o foco de todos? Tudo bem que ele apareceu agora dizendo que sua gestão é transparente e que ainda criou uma força-tarefa para checar os contratos. Mas se essa força é gente dele, tá tudo em casa. E se está tudo em casa, tá tudo limpo.
E por falar em limpeza, os senadores lançaram frente de apoio à faxina de Dilma. É realmente lindo isso tudo, só temos que saber se eles vão (realmente) ser e o quanto vão ser transparentes em nos dizer que tipo de detergente eles vão usar. Se só um genérico ou se vão usar creolina que é para (tentar) exterminar qualquer resquício dessa necessidade de se produzir um escândalo por metro quadrado. Ou será por ministério quadrado?
É totalmente quadrada à posição do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que procurou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, pedindo que ele acione o Conselho Nacional de Justiça para investigar e, se for o caso, punir o vazamento de fotografias de seis detidos na Operação Voucher. Na foto, os presos aparecem sem camisa e segurando um cartaz com seus próprios nomes: o secretário-executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva Costa; o secretário de Desenvolvimento do Turismo, Colbert Martins; o ex-secretário executivo da pasta Mário Augusto Lopes Moysés; e o diretor-executivo da Ibrasi, Luiz Gustavo Machado, dentre outros. Só tem fera. Mas para o ministro José Eduardo Cardozo, o fato é uma humilhação a mais e uma situação ofensiva à dignidade humana. Mas, vem cá, o que eles fizeram não é?
Eles deveriam ficar preocupados é com outra coisa e não com a foto. A foto em si é somente a representação metafórica do que fizeram. E para bom entendedor basta. Nem é preciso escrever. Mas se for facilitar um pouco esse entendimento e para meu chefe não enfartar com o que eu pensei em escrever, seria algo como “olho por olho, dente por dente”.
Se bem que não tinha ninguém sorrindo na foto. E com relação aos olhos, estes estão começando a ser abertos.
Assim espero. Assim esperamos. Se for para um Brasil melhor, que seja assim.


 Por Claudio Schamis

domingo, 14 de agosto de 2011

Casa arrumada...


Hoje recebi de minha filha o texto abaixo. Parece quefui eu quem escreveu. Assinaria cada uma das palavras. Mas é um Drummond.  Uma pessoa capaz de construir textos a partir de palavras simples, de idéias igualmente singelas, que resultam em poesias belíssimas. 


Nossa amizade pode ter várias vírgulas, mas nunca um ponto final...
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Casa arrumada  é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos, netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.

Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Avignon, na Provence, tem prédios históricos, ótimos restaurantes e vinhos fabulosos



Palácio dos Papas: construído em pedra, é a principal atração de Avignon, na Provence / Foto: Bruno Agostini
AVIGNON - É um pecado visitar a Provence e não passar ao menos um dia em Avignon. A cidade, às margens do Rio Rhône, apresenta um louvável acervo histórico. Peregrinar por suas ruas e praças é um programa delicioso, que invariavelmente deve passar pelo suntuoso Palácio dos Papas - construção, aliás, que deu origem ao nome de uma das denominações de origem controlada mais famosa da França, Chateauneuf-du-Pape, de onde saem vinhos fantásticos, entre os melhores do país: alguns merecem ser bebidos de joelhos. Sim, são garrafas abençoadas, cujo nome, "Castelo novo do Papa", tem origem no período entre 1309 e 1377, quando o comando da Igreja Católica se transferiu do Vaticano para lá. O Palais des Papes fica no Centro da cidade, lindo, majestoso e misterioso, para contar em detalhes essa História, com H maiúsculo. Bastaria essa construção para justificar uma visita a Avignon. Mas estamos na Provence. Isso significa mercados perfumados e coloridos, com ingredientes que são trabalhados com carinho por chefs como Christian Étienne, personalidade local, capaz de criar um menu inteiro com tomates. Um milagre.
Anchovas, azeitonas, lavandas e papas
A melhor maneira de se começar um dia em Avignon é no mercado, um prédio que tinha tudo para ser feio: uma caixa de concreto destoando da arquitetura antiga da cidade. Mas uma parede coberta de plantas dá charme ao local. E o que acontece lá dentro é que realmente importa. Algumas dezenas de boxes vendem os produtos regionais: vieiras vistosas, cogumelos, frutas as mais variadas, uma seleção de legumes invejável, ervas, peixes, carnes de caça, pães, vinhos, azeites, camarões, macarons, queijos... Uma perdição, especialmente para aqueles que alugaram uma casinha, porque cozinhar na Provence é uma delícia, e provavelmente não exista outro lugar no planeta em que isso seja tão agradável, bonito e rico.
Marché des Halles: imperdível mercado de Avignon / Foto de Bruno Agostini
O Marché des Halles não é um lugar apenas para se comprar e fotografar ingredientes. Também é possível saborear em pequenos bares e rotisseries alguns emblemas da cozinha provençal, como a pissaladière, espécie de pizza sem molho de tomate, com cobertura de alho, cebola, azeitona, azeite e a estrela da companhia, a anchova. O prato tem origem na região italiana da Ligúria, e teria chegado ao sul da França pelas mãos dos cozinheiros italianos que foram para a cidade durante o período do Papado de Avignon.
Avignon é festeira, e seu evento mais importante é o festival de teatro, que realizou em julho, a sua 65ª edição. E como a cidade trata bem a comida, não poderia faltar um evento gastronômico. Mas faltava. No dia 23 de setembro essa lacuna será preenchida, quando acontece a primeira edição da Fête de la Gastronomie, no mercado.
A partir do Marché des Halles há muitos caminhos a se seguir. O melhor é sair andando sem rumo, caminhando calmamente pelas ruazinhas com prédios baixos e com um comércio diversificado que mistura lojinhas charmosas de produtos regionais a algumas marcas internacionais, como a H&M, tão adorada pelos brasileiros, e a Fnac.
Place de L'Horloge, em Avignon: carrossel, sede da prefeitura, hotéis, cafés e restaurantes no centro da cidade / Foto: Bruno Agostini
Todos os caminhos devem levar em algum momento à Place de L'Horloge, o coração da cidade, onde está a prefeitura. Em formato retangular, a praça é cercada por cafés e restaurantes com mesas espalhadas pela esplanada. Dá para passar um tempo ali calmamente. Apesar do jeitão "pega-turista" dos cafés, vale a pena se sentar em algum deles, para acompanhar o movimento na praça, com direito a carrossel para as crianças.
No verão muito quente da Provence o lugar é perfeito para uma pausa ao sabor de água, café ou vinho rosado, antes de uma visita ao Palácio dos Papas, o mais imperdível dos programas na cidade. Para quem quiser ir além de uns goles restauradores, vale saber que o Ópera Café, moderninho, é também um ótimo restaurante que serve pratos com alguma inspiração oriental em ambiente agradável, com bar vistoso, piso de madeira, mesas e cadeiras brancas, rosas vermelhas, espelhos pelas paredes e luz roxa, deixando o restaurante escuro, com clima romântico, o que atrai muitos casais. A certa altura da noite, ganha ares de boate, com direito a DJ.
A uma curta caminhada da praça está o imponente Palácio dos Papas, com visitas guiadas a 11 euros. Com 650 mil visitantes por ano, está entre os dez monumentos mais visitados da França. Tanto do lado de fora como do lado de dentro é uma construção admirável, com salões de pé direito altíssimo, lindos afrescos e uma ótima loja de vinhos, com uma boa variedade de rótulos regionais - 55 ao todo, vendidos a preços justos. Há, ainda, um café panorâmico. O melhor período para se visitar o palácio é entre setembro e abril, quando acontece o programa "Segredos do Palácio", um tour especial. Aos sábados, o programa começa ao meio-dia e meia, com um brunch seguido de degustação de vinho e, aos domingos, às 10h, primeiro com a visita, depois com os comes e bebes. Custa 34,50 euros. No menu tipicamente provençal são servidos tapenades de azeitona, tomates assados, corações de alcachofra, presunto cru, queijo de cabra no azeite...
Antes disso, em agosto, outro evento movimenta o Palácio dos Papas: é o "Ouvert la nuit", uma série de concertos noturnos. Mais um programa diferente é a degustação de chocolates e vinhos, que mostra como alguns rótulos da região podem se dar muito bem com sabores doces, como o chocolate ao gengibre, que ficaria perfeito com um Muscat Beaumes de Venise.
E o Rhône levou... parte da famosa Pont St-Bénézet, nesta foto vista a partir do Rocher Des Dorms, na Provence / Foto: Bruno Agostini
Depois de visitar a construção de pedra, suba mais um pouquinho até o Rocher des Doms, uma espécie de parque com belo paisagismo e que tem as melhores vistas do Rio Rhône, incluindo o melhor ângulo da Pont St-Bénézet, que ligava Avignon à Île de la Barthelasse. Em um dia de fúria, as águas do rio levaram parte da construção. Assim, Avignon perdeu uma ponte, mas ganhou um cartão-postal que é um dos mais fotografados da cidade.
Cumpridas visitas às principais atrações turísticas de Avignon, o final de tarde reserva muitas possibilidades de programa com a linda luz do sol: um cruzeiro pelo Rio Rhône, visita e degustação em alguma vinícola, passeio por fabricantes de derivados de lavanda... Mas o melhor mesmo é se acomodar numa mesa da Place de L'Horloge empunhando uma tacinha de rosé barato, diante de um pratinho com azeitonas pretas e verdes, quem sabe uns pedacinhos de queijos de cabra, pães e azeites... Porque os maiores prazeres da Provence são simples. Visitar o Palácio dos Papas é fantástico, mas para tatear a alma provençal é preciso comer as suas comidas, beber os seus vinhos e cheirar os seus perfumes.
Chateauneuf-du-Pape: grandes produtores abertos a visitas
A apenas 15 quilômetros do Centro de Avignon, Chateauneuf-du-Pape é uma das mais importantes denominações de origem controlada de vinhos da França - ainda que boa parte da produção tenha qualidade irregular. Porém, as melhores vinícolas fazem obras de arte engarrafadas, capazes de envelhecer maravilhosamente por muitos anos - entre os grandes nomes, os exemplares dos anos 1970 estão no auge. Procure pelos rótulos Clos de Papes, Château Beaucastel, Rayas, Fortia, Gardine, La Nerthe, Mont-Redon, Les Cailloux, Jean Versino e Domaine de Beaurenard.
Domaine Mousset: linda propriedade, com bons vinhos e ótima estrutura para receber turistas, perto de Avignon, na Provence / Foto: Bruno Agostini
São cerca de 120 produtores espalhados pela vila de Chateauneuf-du-Pape e arredores (Bédarrides, Courthézon e Sorgues). Os vinhedos somam 3.200 hectares, entre Avignon e Orange, ao norte, outra importante cidade da região. É um lindo cenário, com encostas de suave elevação, com solo pedregoso e vinhas baixas.
Um dos produtores mais famosos também tem referência à Igreja Católica no nome: trata-se do Clos de Papes, um dos favoritos do crítico americano Robert Parker, que deu 99+ pontos para esse vinho concentrado, robusto e profundo, exatamente o oposto dos rosados leves e clarinhos que são sempre associados à Provence. Para os que gostam de vinho, vale a pena investir em uma garrafa antiga.
Entre os bons produtores que estão abertos a visitas, um dos melhores é o Domaine du Vieux Télégraphe, em Bédarrides. A safra 2007 do seu Chateauneuf-du-Pape tinto está ótima. Outro medalhão, o Château Mont-Redon abre as portas aos turistas todos os dias, inclusive domingos e feriados, apresentando os seus vinhos tânicos, estruturados e marcantes. Também garantem ótima visita e vinhos fabulosos o Château La Nerthe e o Domaine de Beaurenard.
Já o Domaine Mousset, uma bela propriedade, tem vinhos mais modestos. Por outro lado, a visita é das mais interessantes, passando pelo imenso galpão que abriga os tanques de fermentação, seguindo para as salas de barricas até chegar às caves, onde acontece a degustação. A loja, além de muitas garrafas, também vende vários produtos regionais, como o azeite feito por eles e as peças de artesanato, além de acessórios para cozinha e vinho.
Tomares e lagostas em casas estreladas
O melhor restaurante da cidade está ao lado do Palácio dos Papas, em Avignon, na Provence: um dos destaques é o menu de tomate / Fot: Bruno Agostini
As duas principais atrações de Avignon são vizinhas, ao menos para o viajante gourmet. O Palácio dos Papas fica bem ao lado do restaurante de Christian Étienne, o mais badalado do pedaço por explorar com perfeição os ingredientes provençais. Um dos destaques da casa, dona de uma estrela Michelin, é o menu sazonal de tomates, que custa 70 euros e é todo composto com esse ingrediente que tão bem cresce naquelas terras ensolaradas.
A versão 2011 desse cardápio clássico do chef traz receitas como capuccino de tomate com alho, canelone de berinjela recheado de cordeiro com tomate fatiado e molho de cebola e torta de tomate com manjericão e mostarda em grãos. Outro menu temático que faz sucesso é o dedicado à lagosta (80 euros), com três pratos (o principal é a cauda do crustáceo com morangos em vinagre balsâmico e manjericão picado), degustação de queijos e sobremesa. Mas, melhor mesmo, a não ser para os tomatófilos, é experimentar o menu-degustação do chef (a 125 euros), em várias etapas, com diversos pratos clássicos da casa. Para os que quiserem uma refeição mais econômica vale apostar no menu Petit Palais, servido apenas no almoço, a 31 euros. São três pratos carregados no sotaque provençal, como o tomate recheado com abobrinha ao perfume de manjerona, purê de queijo de cabra fresco e azeite.
Christian Étienne é o ícone da gastronomia local, mas não está sozinho no clube dos estrelados de Avignon: também ostentam a condecoração do famoso guia francês outros quatro restaurantes, entre eles Le Diapason, que acaba de receber a honraria. O mais longo e recomendável menu-degustação do restaurante custa 117 euros, mas o cardápio do dia, chamado "Entre deux", tem amuse-bouche, entrada, prato principal, sobremesa e mignardises por módicos 24 euros (vinhos em taça a partir de 6 euros). É servido apenas no almoço, de quarta a sexta-feira.
Outro novato no seleto clube dos restaurantes com estrela Michelin, conquistada na edição 2011 do guia, é o La Vielle Fontaine, no Hotel d'Europe, localizado na área central da cidade. Instalado numa construção do século XVI, tem cardápio criativo, mas também apresenta receitas de perfil mais clássico, como o coelho ao vinho branco recheado de cebola e ervilhas.
O melhor hotel de Avignon, o La Mirande, oferece um excelente restaurante estrelado, com menu de quatro pratos a 66 euros, servindo receitas como o carpaccio de "chorizo Joselito" com funcho, lulas e camarões de Madagascar, e a salada de flor de abobrinha com azeite, vieiras e amêndoas. Dizem que um bom horário para se visitar o lugar é à tarde, quando há um chá de inspiração inglesa com fama de ser escandalosamente bom. Além disso, para os que quiserem realmente mergulhar nos sabores da região, funciona ali uma escola de culinária, instalada numa linda cozinha ao estilo provençal e com aulas até para crianças, com direito a uniforme, piquenique e muita bagunça.
Mesmo sem estrelas, outro restaurante pertencente à categoria "incontornável" em Avignon é o L'Essentiel, que funciona em um belo casarão antigo, com piso de madeira e um mezanino. A casa não tem esse nome à toa. A cozinha, com caráter mais universal, usa ingredientes como curry, trabalhados de maneira simples, valorizando os seus sabores essenciais com maestria. Très provençale! O chef cria receitas com execução perfeita, como o timo de vitela com aspargos verdes e mousseline ou o bife de wagyu malpassado com béarnaise de lagosta, ragu de legumes e maçã. Os menus custam a partir de 52 euros.
Saindo de Avignon também há bons restaurantes nos arredores, como Le Saule Pleureur, a cerca de 12 quilômetros, outro endereço estrelado com vários menus-degustação a preços atraentes (um deles, com entrada, prato e sobremesa custa 26 euros). Chateauneuf-du-Pape, por sua vez, não tem estrela Michelin. Mas também há restaurantes interessantes no local, como Le Verger des Papes, que serve pratos regionais, com alguma influência italiana e espanhola, como é habitual na Provence, pedacinho de terra que é mais mediterrânea do que francesa.
SERVIÇO
COMO CHEGAR
De trem:De Marselha para Avignon são apenas 30 minutos de viagem, a partir de R$ 45 cada trecho. A partir de Paris, embarcando no aeroporto Charles de Gaulle, a viagem de trem leva, pelo menos, 2h40m, dependendo das paradas, e o bilhete sai a partir de R$185. Reservas no site www.raileurope.com.br
ONDE COMER
Christian Étienne:10 Rue de Mons. Tel. (04) 9086-1650. www.christian-etienne.fr
Le Diapason:764 Chemin du Moulin de Notre Dame. Tel. (04) 9081-0000. www.restaurantlediapason.com
L'Essentiel: 2 Rue Petite Fusterie. Tel. (04) 9085-8712. www.restaurantlessentiel.com
Le Saule Pleureur: 145 Chemin de Beauegard. Tel. (04) 9062-0135. www.le-saule-pleureur.fr
Le Verger des Papes: 4 Rue du Château, Châteauneuf-du-Pape. Tel. (04) 9083-5040. www.vergerdespapes.com