terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Casa do Sardo

Um excelente italiano em São Cristóvão. A Casa do Sardo Vale a pena uma visita. Ambiente simples, comida boa, São Cristóvão passando por uma revitalização.

sábado, 20 de outubro de 2012

Óbidos, a pequena joia da realeza de Portugal




Painel de azulejos do século XVII enfeita a imponente Porta da Vila Foto: Bruno Agostini
Painel de azulejos do século XVII enfeita a imponente Porta da Vila
ÓBIDOS - A História é tão bonita quanto o lugar. Óbidos é uma das vilas mais lindas e preservadas de Portugal. Em parte porque a trajetória desta cidadela protegida por uma alta murada de pedra é fortemente ligada à nobreza desde o século XIII, quando o rei Dinis se casou com Isabel de Aragão. Entre os presentes que o monarca deu à mulher estava... a vila de Óbidos inteirinha. A tradição de ser dote real se estendeu até o século XIX. Essa ligação com os poderosos portugueses ajudou a conservar intacto o casario gracioso, com paredes caiadas e detalhes em azul ou amarelo, cenário típico lusitano. Para tudo ficar ainda mais belo, todas as fachadas são enfeitadas com flores, principalmente gerânios vermelhos e buganvílias roxas. As construções antigas abrigam tudo o que um turista precisa para uma viagem prazerosa: há bons restaurantes, uma coleção de cafés, lojinhas de artesanato e galerias de arte cheias de charme, além de muitas garrafeiras, como os portugueses chamam os lugares que vendem bebidas alcoólicas - entre as especialidades etílicas locais estão os vinhos e a ginjinha, uma espécie de licor feito a partir da ginja, um tipo de cereja selvagem, pequenina e muito saborosa, abundante na região.
Era uma manhã ensolarada, mas fria, no começo do outono português. O perfume das castanhas assando na brasa já tomava conta do ar. Da janela do autocarro, como os portugueses chamam os ônibus, acompanhei a mudança da paisagem: deixamos Lisboa e o cenário urbano para trás e, de repente, dos dois lados da estrada, há vinhedos e mais vinhedos - com folhas que começam a ganhar tons avermelhados, uma beleza. Em pouco mais de uma hora de viagem, com algumas paradas pelo caminho, já estamos na entrada de Óbidos.
O passeio é uma das melhores escapadas que podemos fazer a partir da capital portuguesa. A cidadela a 80 quilômetros ao norte de Lisboa é um brinco, uma joia medieval. Só não faça como muitos turistas que visitam Óbidos a partir da capital portuguesa em excursões cansativas combinadas a outras atrações da região, como os mosteiros de Alcobaça e de Batalha, e o Santuário de Fátima. A vila de Óbidos merece, no mínimo, um dia inteiro dedicado a ela. Porque é preciso muita calma para saborear a cidade, seu casario precioso, sua gastronomia, seus vinhos e suas histórias.
Os ônibus que chegam de Lisboa lotados de estrangeiros deixam os turistas na porta da cidade. Vale dar uma passadinha no centro de informações turísticas para pegar um mapa, embora seja impossível se perder dentro da cidadela, que é pequena e com muitos pontos de referência. Do ponto de ônibus basta caminhar um pouco até chegar à Porta da Vila, a entrada principal de Óbidos, imponente. Ao atravessar o arco de pedra parece que viajamos no tempo (com o perdão do lugar comum). Muito pouco mudou nas ruas intramuros desde o século XIV, época em que foi finalizada a fortificação cuja origem é mourisca, anterior ao século XII, quando os árabes foram expulsos dali.
Não só o cenário, mas também são antigos os ofícios de parte da população que ainda vive do artesanato. Logo depois de cruzar a porta da cidade, somos recebidos por uma senhorinha, que - sem qualquer pressa - faz o seu bordado, exibindo as peças prontas num varal. Há várias lojas que vendem o artesanato local, com muitas peças de cerâmica, principalmente itens de cozinha, como pratos e travessas.
A cidade fica relativamente movimentada o ano inteiro, especialmente no verão. E aos que apreciam celebrações religiosas vale saber que um dos períodos mais concorridos é a Semana Santa, quando Óbidos é palco de algumas das mais bonitas procissões em Portugal, com a cidade iluminada por tochas. É bom reservar as pousadas com boa antecedência, para evitar ficar desabrigado.
Infelizmente alguns carros circulam lá dentro, muitas vezes até com velocidade incompatível com o lugar. Talvez esse seja o único defeito de Óbidos - ao lado do excesso de turistas. Mas, ao menos, o fluxo constante de visitantes originou uma boa infraestrutura de restaurantes, pousadas, bares e cafés.
O melhor a se fazer é reservar a parte da manhã para visitar as principais atrações, que fecham para o almoço por volta do meio-dia e meia, voltando a abrir só a partir do meio da tarde. A Igreja de Santa Maria, logo abaixo da Rua Direita, é famosa por ter sido palco do casamento de Afonso V com a sua prima Isabel, na primeira metade do século XV. No interior do templo chamam a atenção os azulejos do século XVII e o teto de madeira. À direita do altar podem ser apreciadas algumas pinturas de Josefa de Óbidos, uma das personagens mais famosas da cidade. Outras obras da pintora nascida em Sevilha em 1631, mas que passou grande parte da vida em Óbidos, podem ser apreciadas no Museu Municipal, na mesma Praça de Santa Maria onde está a igreja - e também um belo pelourinho manuelino do século XV, feito em pedra e enfeitado com redes de pesca desenhadas em relevo.
Na parte da tarde, quando o sol esquentar, é hora de se dedicar a explorar uma das maiores virtudes de Óbidos: a seleção de bons restaurante que servem pratos típicos da região.
Para os que viajam por Portugal de carro, Óbidos também pode servir de base para visitas às principais cidades da Estremadura e do Ribatejo, como Tomar, Fátima, Alcobaça, Batalha e Peniche. É também ponto estratégico para explorar as belezas naturais da região: está a poucos quilômetros da Lagoa d'Óbidos, do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, e também de Peniche, de onde zarpam os barcos para as Ilhas Berlenga, a 12 quilômetros da costa, santuário de aves e peixes.A muralha que virou mirante para turistas
O propósito original era permitir o rápido deslocamento dos soldados que tomavam conta da fortificação. Mas hoje são os turistas que usam o caminho que acompanha todo o trajeto da muralha de pedra que protege Óbidos, com 1,5 quilômetro de extensão. Pelo alto é a melhor maneira de se apreciar a cidadela de arquitetura caprichada. Logo depois de entrar pelo portão sul, o acesso principal, também chamado de Porta da Vila, basta subir a escada de pedras, à esquerda, para começar o passeio ao redor de Óbidos. Dali é possível avistar o movimento de turistas na Rua Direita, o principal corredor comercial, e muitas torres, tanto as do castelo, ao fundo, quanto as das 14 igrejas e capelas.COMO CHEGAR
De ônibus: Há saídas diárias entre Lisboa (rodoviária de Campo Grande) e Óbidos. O bilhete custa cerca de 7 euros. www.rodotejo.pt
 

De frente para a cidade do Porto, os sabores de Vila Nova de Gaia



Vista do The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, e, ao fundo, o Cais da Ribeira e a Cidade do Porto Foto: Bruno Agostini / O Globo
Vista do The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, e, ao fundo, o Cais da Ribeira e a Cidade do Porto

PORTO - Eu estava na doce companhia da Deise Novakoski, que sabe tudo de comes e bebes, cobrindo um congresso de vinhos na cidade do Porto - visitando ainda outras regiões, como o Douro e o Minho, e degustando muitas delícias portuguesas. Fugimos do grupo na hora do almoço por um motivo nobre: conhecer a principal novidade em termos hoteleiros e gastronômicos por essas bandas nos últimos anos. Pegamos um táxi e cerca de cinco minutos, e uns 6 euros depois, estávamos na entrada do elegante The Yeatman Oporto, no alto da Vila Nova de Gaia, com vista arrebatadora sobre os telhados dos armazéns que guardam o vinho fortificado, o Rio Douro e, ao fundo, o Cais da Ribeira. Lindo panorama para uma refeição. O hotel abriu as portas no fim do ano passado, com direito à presença do presidente português, Cavaco Silva. O prédio moderno custou 37 milhões de euros e foi construído nos domínios do grupo Taylor, Fladgate and Yeatman, que simplesmente produz alguns dos melhores vinhos do Porto.
Da piscina às camas em barricas, hotel gira em torno do vinho
Agora, o grupo Taylor, Fladgate and Yeatman mostra que também sabe fazer com perfeição restaurante e meio de hospedagem. Anunciamos ao elegante homem engravatado que nos recebeu à entrada do hotel, abrindo a porta do veículo, que queríamos almoçar.
- Vocês têm reserva?
Diante da nossa negativa, ele foi nos conduzindo pelo lobby em direção ao restaurante, que, para nossa sorte, não estava cheio. Havia apenas umas quatro ou cinco mesas ocupadas - o salão nem é tão grande assim - e nós pudemos pegar uma bem localizada, com vista privilegiada. Não aconselho o risco: melhor reservar um lugar (com vista, por favor).
Enquanto no jantar o menu degustação pode custar cerca de 200 euros (com vinhos), no almoço há fórmulas por preços a partir de 32 euros (sem vinhos). Fomos no menu de 65 euros, com seis etapas (sem contar os ótimos amuse bouche e mignardises). Foi um delírio. Com harmonização de vinhos, a conta ficou em cerca de 100 euros por pessoa: valeu demais a pena o investimento.
Logo que nos sentamos à mesa, o maître João Geraldes nos ofereceu a carta de vinhos, imensa, pesada e bonita, com capa de couro e letras douradas. Curioso é que ele estava, naquele dia, atuando como sommelier (escanção, como chamam em Portugal), cuidando do salão. Mas João, na verdade, é subchef do restaurante, e geralmente dá expediente junto ao fogão. Cozinheiro e sommelier? O cara deve entender das coisas, pensamos - sem falar que logo deu para perceber se tratar de um profissional dos mais competentes: poucas vezes na vida fui tão bem servido em um restaurante. Assim, preferimos pedir para ele mesmo conduzir a harmonização, ressaltando o nosso interesse por vinhos raros e diferentes, que foi atendido por ele.
- Nos entregamos ao simpático profissional que orquestrou magistralmente o almoço harmonizando cada prato com uma taça de vinho, que João fez questão de ser uma de cada região de Portugal, para que tivéssemos ideia da dimensão e variedade de vinhos daquele país. O ponto alto do almoço, além da comida e da vista, ficou por conta do serviço, atencioso e carinhoso que recebemos - lembra Deise.
Tudo começa com ótimos pães, servidos com azeite da melhor qualidade, manteiga e flor de sal. Em seguida, "As boas vindas do chef": primeiro, um trio de colheres com pequenos bocadinhos (uma salada de lagostins com caviar, um tartar de novilho e as ovas de ouriço com sardinhas e algas do mar). Em seguida, uma espécie de terrine, chamada coca, de atum e foie gras, servida com pó de azeitona e iogurte de ostras. Para acompanhar, um espumante "bruto".
Agradecidos com a oferta deliciosa do chef, o jovem Ricardo Costa, puxamos assunto sobre o gajo.
- Ele veio do hotel Casa da Calçada, em Amarante, onde conquistou uma estrela Michelin. Depois que ele saiu, o restaurante perdeu a honraria... - provoca João Geraldes.
Mas ele está equivocado: o restaurante Largo do Paço continua estrelado pelo guia. Quanto ao restaurante do Yeatman, posso me enganar, mas acho que ele vai ganhar mais uma estrelinha na próxima edição...
Em seguida, o rapaz continuou mostrando o seu talento em um menu de pegada contemporânea que mescla criatividade com referências clássicas. O chef tem técnica apurada, usa ingredientes de primeira qualidade e a apresentação dos pratos é extremamente cuidadosa. Foi sublime.
O primeiro prato "oficial" do cardápio foram as vieiras em creme queimado com azeite virgem e ouriços do mar, mikado de aipo bola, anchova e ar de citrinos, uma receita equilibrada e surpreendente. Depois vieram aspargos verdes em creme aveludado com tartar de tomates, lagostins ao vapor e azeite de crustáceos. O passo seguinte foi um pregado (uma espécie de linguado) selvagem com escamas de tomate tostado, arroz de enguias em vinho e ravióli de vegetais com molho de mexilhão com caril. Então veio o lombo de boi charolês selado com carvão vegetal, batata trufada, aspargos glaceados e os sucos da carne com anchovas. Palmas para o chef.
Hora dos doces: primeiro o queijo da serra fundido numa sopa tépida (morna) com doce de abóbora e pão de especiarias, tudo coroado com sorvete de Porto vintage. Antes das mignardises, ainda teve uma montagem de castanhas de Trás-os-Montes assadas com queijo da serra, iogurte de kumquats (uma laranjinha chinesa deliciosa), pão de nozes e gelado de toffee de cítrico. Tudo, do início ao fim, muito bem harmonizado pelo João Geraldes, que nos apresentou vinhos diferentes, como o Bical Passa Campolargo 2005, e clássicos, como o Porto Vintage Fonseca 1991 (engarrafado em 1993). Até o café, um expresso bem tirado.
Depois disso fomos embora, mas restou uma imensa vontade de ficar hospedado ali por uns dias. O hotel parece ser tão bom quanto o restaurante.
Tudo no Yeatman gira em torno do vinho. A piscina externa é em forma de decantador, algumas camas foram colocadas dentro de enormes barricas que antes armazenavam milhares de litros de porto, a adega é uma das mais impressionantes de Portugal e o spa, claro, é da Caudalie, marca mais importante do mundo quando o assunto é vinoterapia (no Brasil, o hotel da Miolo tem spa com a mesma assinatura).
Taylor's, uma casa de vinhos a serviço da rainha da Inglaterra
Animados com a experiência no restaurante do hotel Yeatman, no dia seguinte, fomos visitar e almoçar na Taylor's, uma das mais premiadas casas de vinho do Porto, a preferida da família real inglesa, uma das três marcas da Fladgate (as outras são Fonseca e Croft).
O restaurante Barão de Fladgate fica ao lado da loja e da sala de degustação, visitas obrigatórias antes da refeição. O lugar, com amplas áreas envidraçadas e uma agradável varanda, muito usada no verão, também apresenta um lindo panorama, parecido com o do hotel, mas um pouco mais baixo: seria menos impactante, mas a proximidade maior com a linda Ponte D. Luis compensa a descida.
O cardápio é legitimamente português, mas faz algumas concessões, como servir massas (tem linguine salteado com azeitonas, queijo feta e tomate-cereja, por exemplo) e pratos de baixa caloria (como pescada grelhada, batatinha cozida, legumes ao vapor), além de ter entradas com foie gras, por exemplo. Melhor mesmo é investir na lusofonia gastronômica, apostando em receitas de bacalhau, polvo, tamboril, borrego, lombinho de porco ou javali.
O couvert é servido com bons pães, azeitonas pretas e pedaços de queijo temperados com ervas e azeite, e esta etapa não deve ser ignorada. A seleção de entradas apresenta receitas interessantes, como perdiz com castanhas.
Há menus turísticos a 35 euros, com couvert, sopa de entrada, prato do dia e sobremesa, além de água (ou refrigerante) e café. A lista de pratos do dia é bastante interessante. Aos sábados, é servido o bacalhau com brandade de polvo e, aos domingos, uma famosa vitela barrosã (que não come ração e se alimenta livremente nos campos), assada lentamente durante cinco horas. A lista de sobremesas faz salivar, em receitas como mousse de requeijão da serra com noz e compota de abóbora ao molho de mel com laranja.
Teleférico liga Cais à Calçada da Serra em Vila Nova de Gaia
Um dos programas turísticos mais relevantes da Cidade do Porto não está exatamente na Cidade do Porto, mas em Vila Nova de Gaia, do outro lado do Rio Douro: são as visitas às caves que armazenam o vinho. É como ir a Roma e não... deixa pra lá.
Vila Nova de Gaia, aliás, acaba de ficar ainda mais interessante, com a inauguração de um teleférico com percurso de cerca de 700 metros que liga o Cais à calçada da Serra, com lindo panorama do lugar.
Mas o que mais importa ali é mesmo o vinho do Porto. No total, são cerca de 60 armazéns. Uma boa parte deles, uns 20, estão abertos aos turistas, e os programas são bem parecidos: um passeio pelo prédio, passando pelos salões que guardam os estoques de vinho, enquanto o guia conta a história da bebida e da própria vinícola. Há barricas imensas, com até 15 mil litros, com dezenas de anos de uso. As paredes destas antigas edificações muitas vezes são de pedra, contribuindo para criar condições climáticas perfeitas para o envelhecimento da bebida, que deve estar num lugar escuro e com pouca oscilação de temperatura: engraçado é perceber que, no verão, os armazéns estão mais frios que o exterior e, no inverno, mais quentes. No fim da visita, uma degustação que apresenta alguns dos diferentes estilos de Porto. Depois, como nos parques da Disney, uma visita à lojinha para comprar umas garrafas, acessórios e outras lembrancinhas.
Para os turistas mais práticos, mais interessados no passeio que na bebida propriamente, vale saber que boa parte desses armazéns está a poucos passos da ponte D. Luis I, a uma curta caminhada a partir do Cais da Ribeira, como a Cálem, a Sandeman, a Ramos PInto e a Quinta do Noval (esta última, uma das marcas de maior prestígio).
- Um grande vinho do Porto, como o Quinta do Noval Nacional 1963, é o máximo que uma uva pode dar - costuma dizer o consultor de vinhos Paulo Nicolay, um dos maiores especialistas do país no assunto.
Outra destas marcas emblemáticas é a Taylor's, que produz uma linha consistente, e mesmo os seus vinhos mais simples são de ótima qualidade.
- Temos o maior estoque de vinhos antigos, o que nos permite colocar no mercado vinhos do Porto mais evoluídos, com qualidade superior - diz, sem modéstia, mas coberto de razão, Fernando Seixas, gerente de exportação da marca.
A visita à cave da Taylor's revela curiosidades, como um mapa detalhados com os vários microclimas encontrados ao longo do Rio Douro, e a placa assinada por Fidel Castro, que deveria estar ao lado de várias outras de presidentes de vários países, que visitaram a Taylor's durante um encontro de chefes de Estado (a do Fernando Henrique Cardoso está lá).
- Encontrei a placa à venda no e-Bay por US$ 150 mil - lembra Fernando Seixas.
Para nós, brasileiros, uma das marcas mais familiares é a Adriano Ramos Pinto. A visita a esta cave, num belo casarão de paredes amarelas, é uma das mais interessantes, devido ao precioso acervo de objetos, gravuras e mobília. Os cartazes publicitários do começo do século passado, com imagens para lá de ousadas para o período, é um dos pontos altos da visita.
Aos interessados no vinho, ou não, também é fundamental uma visita ao Solar do Vinho do Porto, onde é possível degustar a bebida, aprender sobre e ainda apreciar a vista do Douro.
ONDE FICAR
The Yeatman: Inaugurado no fim do ano passado, tem um ótimo restaurante e vista arrebatadora para o Douro e a Cidade do Porto. Diárias a partir de 150 euros. Rua do Choupelo, Vila Nova de Gaia. Tel. (351) 220-133-100. www.the-yeatman-hotel.com
Pestana: Fica em um charmoso prédio antigo com localização estratégica, perto de grande parte das atrações. Diárias a partir de 156 euros. Praça da Ribeira 1. Tel. (351) 223-402-300. www.pestana.com
Tryp Porto Centro: Tem boa localização e preço, com quartos novos e confortáveis. Diárias a partir de 56 euros. Rua da Alegria 685. Tel. (351) 225-194-800. www.trypportocentro.com
ONDE COMER
The Yeatman: No almoço, tem menus a partir de 32 euros. Abriu no fim do ano e já é considerado um dos melhores da região. Cozinha de autor, contemporânea, com inspiração na cozinha clássica portuguesa. Carta de vinhos com 1.200 rótulos e serviço impecável. Rua do Choupelo, Vila Nova de Gaia. Tel. (351) 220-133-100. www.the-yeatman-hotel.com
Barão de Fladgate: Restaurante dentro da cave da Taylor's, com menu que mescla clássicos da cozinha portuguesa com receitas internacionais. Linda vista para o Rio Douro e a Cidade do Porto. Rua do Choupelo 250,Vila Nova de Gaia. Tel. (351) 223-742-800. www.tresseculos.pt
VINHO DO PORTO
No site Porto XXI (www.portoxxi.com), é possível encontrar a lista completa de caves abertas aos visitantes com informações sobre como chegar.
Solar do Vinho do Porto: Quinta da Macieirinha, Rua de Entre Quintas 220. Tel. (351) 226-094-749. www.ivdp.pt
Taylor's: Rua do Choupelo 250,Vila Nova de Gaia. Tel. (351) 223-742-800.www.taylor.pt
Quinta do Noval: Av. Diogo Leite 256. Tel. (351) 223-770-282.www.quintadonoval.com
Ferreira: Av. Ramos Pinto 70. Tel. (351) 223-746-107






Comendo pelas Beiras, em Portugal



Igreja de pedra na Serra da Estrela, em Portugal Foto: Bruno Agostini / O Globo
Igreja de pedra na Serra da Estrela, em Portugal
AVEIRO - Elas estão perfeitamente alinhadas, formando uma reta imaginária ligando três pontos: Aveiro, na Beira Litoral, lugar de famosos doces, barcos coloridos e salinas; Viseu, na Beira Alta, centro da região produtora de vinhos do Dão, e Celorico da Beira, na Beira Interior, capital do queijo da Serra da Estrela. No sentido oeste-leste, partindo da terra dos ovos moles, é possível traçar um roteiro pelo eixo mais saboroso da região das Beiras, em uma viagem variada pelo centro-norte de Portugal. Há mar e montanha, com direito a neve de vez em quando. Há peixes, vitelas, leitões, cabritos, e patos, perdizes, javalis. Há ovos moles, queijos cremosos, sardinhas doces, e embutidos, cogumelos selvagens, azeites. Há cenários naturais intocados, esportes radicais, estâncias termais, e cidades históricas bem preservadas, castelos, palácios, igrejas, mosteiros, museus. Há ainda vinhos tintos, brancos e espumantes de grande qualidade. Mas que a gente não seja tão radical assim na geometria na viagem. Para aproveitar tudo o que esse caminho - grande parte dele feito através da rodovia IP-5 - pode nos oferecer, devemos escapar desse caminho central para ir atrás de outros sabores e belezas das redondezas. A um curto desvio de rota estão o monumental Palace Hotel Bussaco e Mealhada, a terra do leitão da Bairrada, ambos perto de Aveiro, na direção de Coimbra, e Manteigas e Piódão, vilarejos quase perdidos na imensidão da Serra da Estrela.
Na terra dos ovos moles, há peixes frescos e passeios de barco
Minha razão para incluir Aveiro em um roteiro por Portugal era amarelada e doce, meio pastosa, uma delícia que me encanta a partir do nome: ovos moles. Gosto tanto que quis conhecer o local de origem desse famoso e delicioso doce conventual, com base de açúcar e gema de ovo, segundo reza a tradição lusitana, criados por freiras, que usavam a clara para engomar os hábitos e fazer as hóstias - e também a clarificação dos vinhos.
Teriam sido as freiras da Ordem das Carmelitas as criadoras dos ovos moles de Aveiro. Há quem diga que a receita também leva arroz ou farinha deste cereal, mas os fabricantes juram que não, que o sabor e consistência da pasta vêm apenas de açúcar e ovo. O segredo seria a qualidade do ovo, a temperatura de cozimento e a forma de misturar a massa no fogo. Além de delicioso, o doce, o primeiro a ser reconhecido como Indicação Geográfica Protegida em Portugal, é lindo. Vem servido em pequenas barricas de madeira pintada à mão com motivos regionais, ou, ainda, envolto numa espécie de hóstia, em formatos variados, como conchas, plantas ou animais.
Comer ovos moles foi a primeira coisa que fiz na cidade, afinal, estava ali só por causa disso. Fui em duas casas às margens do Canal Central: A Barrica, que é o endereço mais famoso, e a Pastelaria Rossio. Prefiro a segunda, mas sem muita convicção.
Quando decidi visitar Aveiro, não imaginava que, além dos ovos moles, doce que é mais famoso que a cidade, haveria os passeios pelas rias nos tradicionais moliceiros; o Mercado do Peixe que abastece os restaurantes locais com pescados sempre frescos; a vila litorânea de Costa Nova e suas lindas casinhas pintadas com listras brancas e coloridas, geralmente em tons de azul, verde ou vermelho. Deixei as malas no Hotel Moliceiro, um dos mais tradicionais de Aveiro, de frente para o canal, de onde zarpam os barcos para os passeios, e a um pulo do Mercado do Peixe e dos melhores restaurantes.
Bastam poucos minutos de caminhada pela cidade para se perceber o quanto é eclética a arquitetura de Aveiro. Podemos ver alguns prédios antigos, construídos até o século XVI, com fachadas em azulejos, período áureo da cidade, antes de o porto ser assoreado. Há também muitas construções no estilo art nouveau, e outras seguindo a linha neoclássica, como o Hotel Arcada, endereço famoso da cidade, também com vista para o Canal Central.
O segundo programa clássico de Aveiro, depois de comer ovos moles, é passear pelas rias a bordo dos moliceiros, os tradicionais barcos a vela coloridos, que eram usados para pegar um tipo de alga chamado moliço, aproveitado na fertilização de lavouras. No fim de tarde, com a melhor luz do dia, deixamos para trás o casario gracioso da cidade para entrarmos em ambiente selvagem, com muitas revoadas de pássaros, como garças brancas e patos. Em determinado momento, navegamos junto a pântanos repletos de flamingos e avistamos salinas. Uma beleza. Antes de voltar à cidade passamos pelo porto, com imensos guindastes e navios cargueiros. Bonito não é, mas impressiona.
Esse é o chamado roteiro das ilhas, com cerca de uma hora e meia de duração. Há ainda outros dois passeios: um pela cidade, um de 45 minutos, circulando pelos canais que cortam Aveiro, e o roteiro das praias, que dura até quatro horas, percorrendo as rias e chegando aos vilarejos litorâneos, como Costa Nova. A preciosa vila de Costa Nova é uma espécie de restinga, entre a ria e o Oceano Atlântico. O cartão-postal desse vilarejo de pescadores é o casario coloridas, que rende belas fotografias. No verão o lugar fica cheio, com muitos jovens que montam barracas em alguns dos vários campings do lugar, também famoso pelos bons restaurantes de mariscos.
Quando chegamos de volta ao cais, quase defronte ao hotel, ainda era dia, mas um vento frio pedia algo quente. Um café, acompanhado de um cálice de vinho do Porto, foi a companhia perfeita para mais uma barrica cheia de ovos moles, aperitivo antes do jantar. O restaurante escolhido para a refeição foi O Batel, indicado por funcionários do hotel, um lugar pequeno e sempre cheio. É preciso reservar. A casa, para muitos a melhor da cidade, é conhecida na região por dois predicados: a boa comida, com base em pescados frescos, e o atendimento muito simpático, em ambiente agradável e acolhedor. A cozinha é simples e a especialidade é o peixe grelhado com arroz de tomate (divino), batatas e saladinha. Basta jogar um limão. O frescor dos ingredientes e o cozimento perfeito chamam a atenção. Também há pratos com camarões, mariscos e lulas, como o arroz de gambas com alho e as línguas de bacalhau.
Na manhã seguinte, bem cedo, assim como fazem os moradores e os donos de restaurantes da cidade, passamos no Mercado do Peixe, com algumas dezenas de bancadas repletas de pescados frescos. No andar de cima há um bom restaurante, com paredes envidraças que descortinam uma bonita vista do casario da cidade.
A apenas 60 km de Coimbra, ao Sul, e a 75 km da cidade de Porto, ao Norte, Aveiro é um lugar perfeito para se passar um dia. Com um pouco mais de tempo, é possível visitar o Museu de Aveiro, que funciona no Antigo Mosteiro de Jesus e reúne peças históricas e artísticas, com coleção variada, que vai desde pinturas primitivas portuguesas até documentos e manuscritos, além de ourivesaria, porcelanas, cerâmicas e artigos arqueológicos. Nessa área histórica, ficam também as igrejas da Misericórdia e das Carmelitas e a Catedral de São Domingos, chamada de Sé, pequenina, mas linda. Igualmente belo é o Paço do Concelho, a prefeitura da cidade, que tem colunas toscanas.
Em um roteiro um pouco mais longo, também vale uma escapada até Vista Alegre, famosa pelas cerâmicas, que são encontradas nas lojas de artesanato da região. A fábrica, inaugurada em 1824, emprega cerca de mil trabalhadores. Há um centro de visitantes bem estruturado, com museu, capela e loja. É possível fazer um passeio guiado pelas instalações para acompanhar todo o processo de produção das peças, em cerâmica, cristal e vidro.
Centro da região dos vinhos do Dão, Viseu tem belo casario
Uma visita à cidade de Viseu, na região do Dão, não se faz apenas de comes e bebes. Há um belo Centro Histórico com construções antigas e importantes obras de arte portuguesas, com destaque para a produção de Vasco Fernandes. O Grão Vasco dá nome a um dos vinhos mais famosos da região, e também a um museu imperdível, que abriga parte de sua obra, além de colegas da Escola de Viseu, que fizeram a cidade se não a maior, um dos principais centros de produção artística do país no século XIX. O museu tem ainda um acervo mais recente, com obras dos séculos XIX e XX, e também há porcelanas orientais e móveis antigos.
Logo ao lado está a Catedral de Viseu, ou apenas Sé, em estilo eclético com paredes de pedra, nave gótica e duas belas torres do século XVII. Em frente, fica a Igreja da Misericórdia, construída no século XVIII em estilo rococó, com fachada pintada de branco e acabamento de pedra. Entrai para pedir perdão pelos pecados da gula que este roteiro impõe.
Restaurantes com cardápios enxutos tendem a ser bons. É o caso da Casa Arouquesa, que serve apenas dois pratos, a vitela grelhada e a vitela assada ao forno. Não é preciso mais. O filezinho grelhado é capaz de comover seres carnívoros: trata-se de um corte com quase dois dedos de altura, de sabor suave, entremeado por alguns pedaços de gordura, assado na brasa com perfeição, deixando marcas escuras da grelha na carne clara. É um bife tão suculento que o recipiente em que é servido fica molhado com o caldo, por isso é bom ter uns pedaços de pão ao alcance sobre a mesa, para limpar o prato.
A vitela assada também é extraordinária, com a carne se desfazendo em lascas, quase sempre pedaços junto ao osso, os mais macios e saborosos. Mas nada se compara ao bifinho, que de pode cortar com colher. O segredo da casa é a origem da vitela, a cidade de Arouca (a raça é arouquesa), não muito longe de Viseu, a noroeste.
São os dois únicos pratos servidos ali, o que não significa que apenas essas sejam as delícias possíveis numa uma refeição. Há o couvert, e uma seleção de entradinhas ótimas, como alheiras fritas, pataniscas de bacalhau, presuntos, queijos, chouriços e outros embutidos, como morcela e salpicão, além de sopas e saladas.
- O dono vai pessoalmente até a freguesia de Alvarenga, em Arouca, para comprar as vitelas. Nem mesmo por lá se come uma carne tão boa assim, garanto - diz o garçom.
Para acompanhar, nada melhor que os vinhos dali mesmo, do Dão - e tanto podem ser os brancos exuberantes feitos a partir da casta encruzado, ou os tintos produzidos com a touriga nacional, ambos vão bem com esta carne, sendo que os brancos vão melhor com a vitela assada, e os tintos com ela ao forno. O restaurante tem decoração moderna, com paredes de vidro e uma linda adega que chama a atenção não só pela forma, mas principalmente pelo conteúdo: guarda muitos dos melhores vinhos portugueses, com algumas safras já evoluídas, como o Casa de Santar Reserva 2000, o Quinta dos Carvalhais 2000, o Quinta da Pelada Mulher Nua 2003, e o Pedra Cancela 2003.
Outro traço característico da gastronomia em Viseu são os restaurantes de caça, espalhados nos arredores da cidade. O mais famoso deles é o Clube dos Caçadores, em Lordosa, que serve receitas como arroz de lebre, pato selvagem com pinhões, torta de perdiz, bifinhos de veado na brasa, perna de javali...
- A cozinha na região é riquíssima, mas alguns hábitos infelizmente vão se perdendo, como a família se reunir no domingo para assar parte das carnes do porco e fazer presuntos e embutidos ao longo do dia. Era uma festa - diz Pedro Pinto, enólogo da Dão Sul, hoje responsável pela produção de azeites da empresa, que nos meses de inverno vai às florestas da região para catar cogumelos selvagens.
Os vinhos da região do Dão são outro bom e saboroso motivo para se visitar Viseu, o centro dessa denominação de origem controlada portuguesa, que vem ganhando prestígio nos últimos anos ao apresentar vinhos brancos potentes e estruturados e tintos macios e elegantes, com o surgimento de novos pequenos produtores e o cuidado maior das vinícolas maiores. A Dão Sul é uma das que dispõem de melhor estrutura para receber visitantes em duas de suas propriedades no Dão, a Quinta do Cabriz, que dá nome a ótimos vinhos, e o Paço de Santar, ambas nos arredores de Viseu. Nas duas unidades há visitas guiadas, restaurante, wine bar, provas de vinho e de azeite. Vale também ficar atento aos rótulos de novos produtores como Julia Kemper, que vem se destacando com brancos e tintos de alta qualidade, por enquanto ainda não disponíveis no Brasil.
Celorico da Beira, a capital do queijo da Serra da Estrela
O queijo da Serra da Estrela é tão conhecido quanto a cadeia montanhosa que lhe empresta o nome. Com casca dura e interior cremoso como requeijão, é uma das obras primas da gastronomia universal, resultado do trabalho artesanal de dezenas de famílias. De Celorico da Beira, uma das principais cidades da região ao norte de Portugal, também saem alguns dos melhores e mais autênticos embutidos e defumados do país, como chouriços, presuntos, e também a carne de cabrito, os doces conventuais e tantas outras delícias, além do venerado queijo de ovelha.
Nos arredores, há cidades históricas, fortalezas e um gracioso casario de pedra. No inverno, há neve, que até pouco tempo ainda enfeitava os cumes mais altos, e esquiadores mas estações de Manteigas e Torre, as únicas de Portugal. No verão, há montanhistas e praticantes de voo livre. E é justamente agora o período ideal para apreciar o famoso queijo da serra, que está em seu momento perfeito de maturação. Celorico da Beira é o destino com melhor infraestrutura para receber os visitantes que querem se aventurar por essas que são as montanhas mais altas de Portugal.
Considerada a capital do queijo da Serra, a cidade tem dezenas de produtores nas áreas rurais. As ovelhas crescem para dar o leite que vira o queijo da Serra. Já os machos quase sempre são abatidos com no máximo 30 dias, e o borrego de Celorico da Beira é famoso, com produção controlada e até uma confraria de produtores que tem como prato emblemático uma deliciosa canja preparada com o animal. Quando não está desfiada num caldo aromático a carne do borrego também pode aparecer num ensopado com batatas e cenouras, ou, ainda, em forma de bifes grelhados, muitas vezes no calor da brasa, ou assado longamente em fogo brando, talvez a melhor maneira de se preparar. Se o queijo da Serra da Estrela tem a sua grande feira anual em fevereiro, o borrego também é objeto de um evento importante do calendário: em outubro se realiza o Festival do Borrego, na freguesia de Carrapichana. Por fim, em novembro é a vez de a castanha ser apreciada durante um festival. Nos três casos, restaurantes preparam receitas com os "homenageados".
Há restaurantes simples, mas competentes no preparo das iguarias regionais, como os que funcionam nos dois principais hotéis da cidade, a Quinta dos Cedros e o Mira Serra. Como em todo o país, pratos de bacalhau também estão em quase todos os cardápios. Há pratos de caça, aproveitando ingredientes sazonais como elas: perdiz com castanhas, javalis assados com cogumelos selvagens, arroz de lebre.
Na área central da cidade, que tem a paisagem marcada por um antigo castelo medieval com muralhas e torre bem preservadas, há outros bons restaurantes e cafés, como o Muralhas de Celoryco, com perfil mais refinado, servindo receitas um pouco diferentes do habitual, como pastel de abóbora com mousse de requeijão e mel de alecrim. Já o Dragão é um endereço para se dedicar a apreciar os cardápio mais tradicional da região, começando por queijos, presuntos e embutidos, passando por javalis, cordeiros e bacalhau, até finalizar com doce de abóbora com requeijão, obtido a partir do cozimento do soro do queijo da Serra, a sobremesa mais típica e clássica daquelas bandas. Há ainda o Zé das Iscas, que ganhou esse apelido por preparar divinamente o fígado bovino.
Nos arredores da cidade, os turistas têm uma chance de redenção dos pecados da gula. Há muitas trilhas pelas montanhas da Serra da Estrela - e é fácil encontrar indicações de percurso, dicas de onde estão os mirantes e as fontes de água potável, além de informações como tempo de duração, nível de dificuldade, distância e altura. Há caminhos como o que passa pela Serra do Ralo, paisagem famosa pelos cata-ventos de energia eólica que abastece Celorico da Beira, Trancoso, Fornos de Algodres e Gouveia, totalizando cerca de 40 mil pessoas. A trilha, bem sinalizada, corta propriedades rurais, atravessando pastos e pequenos povoados, com belos mirantes com vistas para os campos e as montanhas de granito, que na primavera ainda podem ter os pontos mais altos com um restinho de neve.
Escapadas pelos arredores levam a leitões e sardinhas doces
Da mesma maneira que visitei Aveiro por causa dos ovos moles, passei uma noite na cidade de Mealhada, a cerca de meia hora de Aveiro, só por causa de um certo infanticídio suíno delicioso praticado ali fartamente. O leitão da Bairrada é um pequeno porco assado na brasa, com carne tenra e pele crocante, servido com um molho de pimenta. Para acompanhar, um espumante rosado seco, também produzido na Bairrada, como os de Luis Pato e da Caves Aliança, feitos a partir da casta tinta baga.
Ao longo da rodovia EN1 há várias casas, grande parte delas imensas, que servem a especialidade. A mais famosa delas é o Pedro dos Leitões. Mas, logo ao lado, fica o restaurante Meta dos Leitões, o mais recomendado pelos moradores. E foi lá que fomos. O porquinho justificou inteiramente o desvio de rota: carne suculenta, extremamente macia, com a pele crocante e um molho intenso, que potencializava o sabor. Apesar de os dois restaurantes vizinhos serem muito recomendados, não existe unanimidade.
- O melhor leitão da Bairrada é servido na Casa Vidal, em Aguada de Cima. Mas é preciso chegar cedo, porque eles assam poucos por dia - diz Mário Neves, das Caves Aliança, uma autoridade no assunto.
Outro desvio praticamente obrigatório nesse roteiro pelas Beiras é até Bussaco, o famoso hotel-palácio da região, perto de Coimbra.Para uma noite de gala, o Palace Hotel Bussaco, que funciona no antigo Palácio Real, é um dos melhores de Portugal. Para quem não quiser passar a noite vale saber que o restaurante é ótimo. Outra boa referência gastronômica da região é o restaurante Arcadas, no Hotel Quinta das Lágrimas, nos arredores de Coimbra, dono de uma estrela Michelin.
A partir de Viseu, no ponto central desse roteiro, há muitas possibilidades de escapadas de um dia. Em Caramulo há um museu interessante, criado por dois irmãos, com três coleções distintas: uma dedicada a artes e peças decorativas, com tapeçaria flamenca, porcelana e prataria; outra de automóveis, com cem veículos raros em exposição, e uma terceira de brinquedos.
Celorico da Beira, por sua vez, está em posição estratégica para percorrer as pequenas vilas da Serra da Estrela, como Linhares, onde há um castelo medieval e uma ótima pista de voo livre (em agosto acontece um importante campeonato de parapente). Em Manteigas, há bons hotéis de montanha e spas, e Piódão é um minúsculo e lindo vilarejo todo construído em pedra, encarapitado no alto da serra. Próximo de Celorico da Beira fica ainda Trancoso, uma bela cidadela medieval famosa pelas sardinhas, um doce na forma do peixe, com massa folheada recheada de ovos e amêndoas.
SERVIÇO
ONDE FICAR
AVEIRO
Hotel Moliceiro: Diárias para casal a partir de 80 euros, com direito a espumante da Bairrada no café da manhã. Rua João Mendonça/Barbosa Guimarães 15/17. Tel. (351) 234-377-400. www.hotelmoliceiro.pt
Hotel Arcada: Diárias a partir de 49 euros. Rua de Viana do Castelo 4. Tel. (351) 234-421-885. www.hotelaveiropalace.com
PERTO DE COIMBRA
Palace Hotel Bussaco: Diárias para casal a partir de 100 euros.www.almeidahotels.com
Quinta das Lágrimas: Diárias a partir de 370 euros.www.quintadaslagrimas.pt
VISEU
Hotel Grão Vasco: Diárias para casal a partir de 67 euros. Rua Gaspar Barreiros 3510-032. Tel. (351) 232-423-511. www.hotelgraovasco.pt
CELORICO DA BEIRA
Hotel Quinta dos Cedros: Diárias para casal a partir de 60 euros. Avenida Dr. Marques Fernandes 1. Tel. (351) 271-749-000.www.ftphotels.com
Hotel Mira Serra: Diárias a partir de 40 euros. Bairro de Santa Eufêmia. Tel. (321) 963-800-817. www.miraserra.com
ONDE COMER
AVEIRO
O Batel: Fica na Travessa Tenente Resende 21. Tel. (321) 234-345-019.
VISEU
Casa Arouquesa: Empreendimento Bellavista, Lote 0. Tel. (321) 232-416-174. www.casaarouquesa.pt
Clube dos Caçadores: Fica na localidade de Lordosa, e é fácil chegar se orientando por placas na estrada de acesso a Viseu. Tel. (321) 232-450-401.restclubecacadores.com
CELORICO DA BEIRA
Muralhas de Celoryco: Rua Sacadura Cabral 46.Tel. (321) 271-748-033.
O Dragão: Rua Maximiano Antônio da Costa 4.Tel (321) 271-742-170.restaurantedragao.com

Pérolas do litoral lisboeta




Praia da Ribeira em Cascais: boa para ver o movimento, nem tanto para o banho
Foto: Bruno Agostini/O Globo
Praia da Ribeira em Cascais: boa para ver o movimento, nem tanto para o banho

Cascais: Pescados, praias e pimentas 
 — Verdade, Lisboa é uma cidade ribeirinha e não tem praia. Mas não é preciso mais do que 20 minutos de carro para se chegar ao Atlântico, com suas águas frias e límpidas. Para sul e para o oeste, não faltam passeios praianos. Do outro lado do Rio Tejo, cruzando a linda e moderna Ponte Vasco da Gama, ou passando pela linda e antiga Ponte 25 de Abril, encontramos a Península de Setúbal, e a sua rica produção de vinhos, os queijos de Azeitão, suas reservas naturais e as praias imaculadas, ainda que tão próximas de Lisboa. Seguindo na direção oeste, ao encontro do mar, como faziam as naus que desbravaram os oceanos, chegamos a Cascais e Estoril, as duas praias preferidas dos lisboetas, que são como parte da cidade. Nessa mesma região, Colares e Carcavelos são duas vilas que batizam vinhos históricos, tradicionais e únicos. Ali à beira-mar encontramos alguns dos melhores restaurantes de Portugal, como a Fortaleza do Guincho e sua vista fantástico para a praia repleta de surfistas, além de casas especializadas em servir frango assado na brasa com um molho apimentado de origem africana, o piri-piri. Porque uma das maiores virtudes de Lisboa como destino turístico, além de tudo o que a cidade já oferece, são as várias possibilidades de escapadas, servindo de base perfeita para se explorar os arredores: a capital portuguesa é um pedaço de terra cercado de delícias por todos os lados.
Pelas ruas de Cascais sentimos um irresistível aroma de churrasco. A brasa grelha franguinhos deliciosos, que são depois regados com o tradicional molho de pimenta piri-piri, além de outras carnes, com destaque para os peixes e frutos do mar, sempre fresquíssimos. Gastronomicamente falando, esse é o traço mais característico de Cascais. Bem no coração do centrinho histórico, o lugar mais interessante para se entregar aos prazeres da carne, seja ela vermelha ou branca, é no restaurante Casa Velha, que além do franguinho bem temperado, que consegue ser ao mesmo tempo tostadinho e com carne úmida, também serve outras iguarias terrestres muito típicas de Portugal, como as febras de porco e, para começar, as amêijoas à bulhões pato, os deliciosos mariscos preparados em molho de vinho branco, azeite, muito alho e cheiro-verde. Ainda melhores são os pescados, igualmente assados no calor da brasa, como o cherne, o robalo inteiro e o bacalhau servido à lagareiro, e os famosos camarões tigre de Moçambique.
Como tantas cidades turísticas lusitanas, um dia é tempo suficiente para visitar Cascais. Dá para sair cedinho de Lisboa, bater perna pelo simpático e miúdo centro histórico, pegar um solzinho e dar uns mergulhos na água fria e límpida de praias como a da Rainha, que era frequentada por D. Amélia, a última, derrubada pela revolução de 1908: pequenina e protegida, é uma delícia, desde que não esteja ocupada por grupos de jovens ingleses embriagados, o que lamentavelmente não é tão raro assim, já que esses estão entre os principais visitantes, ao lado de alemães.
Por conta da vista realmente privilegiada, e da boa comida, o restaurante e bar Baluarte está entre os endereços mais badalados. O melhor horário para fazer um brinde e petiscar por ali é mesmo no fim da tarde, para apreciar o pôr do sol saboreando uma cataplana de mariscos.
Mas vale a pena considerar passar uma noite por lá, especialmente se escolha de hospedagem recair sobre a Casa da Pérgola, um ícone da cidade, uma pousadinha cheia de charme, bem localizada e com um adorável jardim, a um passo das principais atrações, restaurantes e cafés.
Entre os que escolhem passar uma noite por lá, muitos estão interessados em tentar a sorte no Cassino Estoril, o maior de toda a Europa, que tem animados bares, restaurantes e uma boa programação de shows.
Sabores imperdíveis
O restaurante Fortaleza do Guincho, em Cascais, é endereço obrigatório em qualquer roteiro gastronômico pela região. Está entre os melhores restaurantes do país, com cardápio variado, serviço impecável em ambiente chique, com a vista fabulosa da Praia do Guincho, muito frequentada por surfistas. A cozinha não conquistou uma estrela Michelin à toa. O menu tem uma pegada francesa, com certa inspiração em ingredientes lusitanos, e assim nasceram receitas como o foie gras de Landes com chutney de figos e gengibre ao vinho do Porto. A carta de vinhos é impecável, e as sugestões do sommelier, certeiras. Perto dali, o Porto de Santa Maria serve pescados de excelência.
Colares e Carcavelos: Ao sabor de vinhos históricos
A especulação imobiliária no litoral sufocou duas das mais antigas e tradicionais denominações de vinhos em Portugal, Colares e Carcavelos. São duas áreas minúsculas de vinhedos, que quase acabaram, mas que hoje voltam a merecer a atenção dos apreciadores da bebida.
Em termos turísticos, Colares, aos pés da Serra de Sintra, e seus palácios, bosques e doces magníficos, é ligeiramente mais interessante. Mas, se falamos de vinhos, Carcavelos, cidade coladinha a Lisboa, quase dentro dos limites da capital, na área da foz do Rio Douro, vem recuperando mais rapidamente o seu prestígio que remonta ao século XVIII, quando era produzido pelo Marquês de Pombal, na Quinta de Oeiras.
Colares pode ser um complemento enófilo perfeito para um passeio pela Serra de Sintra. Além do vinho em questão há praias belíssimas, a oeste, e um bonito conjunto arquitetônico tipicamente português, com sobrados de fachadas azulejadas. Ali na pequenina e simpática cidade de Colares ainda encontramos algumas vinícolas abertas aos turistas, como a Adega Viúva Gomes, que funciona numa dessas construções antigas. Além de degustar alguns rótulos da casa, incluindo safras com alguma idade, como garrafas de 1996 e 1999, a visita revela histórias curiosas, como o fato de que esses foram um dos poucos vinhedos de toda a Europa que resistiram à praga da filoxera, no século XIX, que arrasou as plantações em todo o continente. Ali as videiras são plantadas na areia, o que impediu a invasão do inseto, de maneira que esses são um dos poucos vinhedos europeus plantados em pé-franco, ou seja, sem enxertos.
O litoral de Colares abriga algumas praias preciosas, como a da Adraga, uma das mais lindas da Europa, onde é praticado o nudismo, e as da vila de Azenhas do Mar, paisagem pitoresca, com casinhas debruçadas sobre o Atlântico, que merece atenção do viajante entre outras razões porque um jantar no restaurante que carrega o mesmo nome do lugarejo é um delicioso programa romântico que conjuga uma vista magnífica com uma comida idem: prove o caril de gambas, receita indo-lusitana (sim, caril vem de curry) e o lombo de lagosta com risoto de camarão e manjericão, ou uma açorda de mariscos, ou mesmo o polvo assado no carvão, que o cenário vai ficar ainda mais belo.
Mais que banhistas, Carcavelos seduz principalmente os enófilos. Esse vinho esteve mais ameaçado de extinção que o mico-leão-dourado, mas nos últimos anos a produção se estabilizou e três propriedades produzem a bebida histórica: as quintas dos Pesos, da Ribeira de Caparide e da Samarra. O Carcavelos, que teve fama mundial lá pelo ano de 1700, chamado Lisbon wine, é fortificado com aguardente, e apresenta características semelhantes às de um Madeira doce, com cerca de 19% de álcool, cor acastanhada e aromas de mel e frutos secos. Pode ser servido como aperitivo, e fica ótimo com queijos, ou sobremesa. Melhor provar dos dois modos, e em Carcavelos.
Setúbal: Moscatel, natureza e queijos
Bastariam o queijo de Azeitão, cremoso e de sabor intenso, e os vinhos feitos com a uva Moscatel Roxo, doces, ricos e espessos, para podermos classificar a Península de Setúbal, berço dessas duas maravilhas, como um lugar delicioso. Mas esse pedaço de terra quase todo envolvido por água — ora pelo rio Tejo, ora pelo Oceano Atlântico, ora pelo estuário do rio Sado — guarda outras preciosidades, tanto para os que buscam passeios ecológicos quanto para os que estão atrás de programas gastronômicos, e até para aqueles que só querem um lugar ao sol para refestelar-se na areia ou para os amantes das artes plásticas, da arquitetura e da botânica.
É possível visitar a região, ao sul de Lisboa, do outro lado do Tejo, em passeios de um dia, saindo pela manhã da capital, e retornando ao final do dia. Bom mesmo é dedicar alguns dias, para explorar com calma as praias entre a Costa da Caparica e a Lagoa de Albufeira, numa faixa litorânea de aproximadamente dez quilômetros, onde cabem famílias, grupos de amigos e casais em lua de mel. Mais ao sul, a Serra da Arrábida e o estuário do Rio Sado atraem turistas interessados em observação de pássaros e de animais terrestres e marinhos, como golfinhos e texugos, que vivem ali protegidos por unidades de conservação. Há lugarejos e vilinhas quase parados no tempo que convidam a programas tão diversos quanto passeios de barco e caça submarina, no lindo Portinho da Arrábida, até um passeio pela arquitetura e pela História de Palmela, marcada por um castelo de onde se tem uma vista maravilhosa. É uma cidadela medieval cercada de vinhedos por todos os lados, onde acontece uma famosa festa da vindima, em setembro.
A locomoção entre as cidades da Península de Setúbal não é fácil, de modo que é fundamental estar de carro, escolhendo como base as cidades de Palmela ou Setúbal, com maior infraestrutura e com boa localização para se percorrer os arredores.
Um dos locais mais visitados, e absolutamente indispensáveis, é a vinícola Quinta da Bacalhoa, que tem pelo menos dois endereços fundamentais: a sede, na Quinta da Bassaqueira, e o Palácio da Bacalhoa, propriedade histórica. Nos dois lugares o programa é muito mais do que pura enofilia, e é possível combinar as duas visitas, pagando € 10 (é preciso agendar pelo site).
Na visita à sede, rodeada por plantações de sobreiros, a árvore que dá origem à cortiça, há uma impressionante coleção de oliveiras, com mais de mil anos, com troncos impressionantemente grossos. Um imenso galpão modernista abriga a adega, onde estão armazenados milhares de barris de carvalho que amadurecem os vinhos da casa, o Moscatel de Setúbal e o Moscatel Roxo, uma raridade. Obras de arte, um jardim japonês e uma importante coleção de azulejos complementam o passeio.
SERVIÇO
Onde ficar
Casa da Pérgola: Diárias a partir de € 92. Avenida Valbom 13. Tel. (21) 484-0040. wonderfulland.com/pergola
Estalagem do Sado: Diárias a partir de € 100. Rua Irene Lisboa números 1 e 3, Setúbal. Tel. (26) 554-28 00. www.hoteldosado.com
Pousada de Palmela: Diárias a partir de € 98. Castelo de Palmela, Palmela. Tel. (21) 235-1226. pousadas.pt
Onde comer
Baluarte: Rua Tenente Valadim 46. Tel. (21) 486-5157. restbaluarte.com
Casa Velha: Avenida Valbom 1. Tel. (21) 483-2586. casavelha.atue.pt
Adega Viúva Gomes: Largo Comendador Gomes da Silva números 2 e 3. Almoçageme, Colares. Tel. (21) 929-0903. jlbaeta.com
Azenhas do Mar: Azenhas do Mar, Colares. Tel. (21) 928-0739. azenhasdomar.com
Quinta da Bacalhoa: Estrada Nacional 10, Vila Nogueira de Azeitão. Tel. (21) 219-8060. bacalhoa.com
 

Passeie pelas melhores casas de fado de Lisboa



Casa de fado vadioBruno Agostini

Casa de fado vadioBruno Agostini
LISBOA - Há dez anos, no dia 6 de outubro, o mundo perdia Amália Rodrigues, a Rainha do Fado, maior nome do gênero, responsável por dar-lhe expressão internacional. Aproveitando a data, o embaixador de Portugal na Unesco, Manuel Maria Carrilho, anunciou que no começo do próximo ano vai apresentar a candidatura do fado a patrimônio imaterial da Humanidade, assim como o samba de roda do Recôncavo Baiano.
Além da efeméride e da intenção de tombamento, a mais lusitana das canções vive um momento muito especial por outras razões. Nunca houve tantos turistas interessados no fado, nem tantas casas dedicadas a ele. E uma nova geração de músicos injeta oxigênio no ritmo, fazendo sucesso entre os jovens, como acontece aqui com o samba. Em Lisboa, o fado está por toda a parte: nos cartões postais, na camioneta antiga que vende CDs pela cidade, nos bares, nas ruas, na melancolia que é a própria essência do mais português dos gêneros musicais. Mas a Mouraria e a Alfama, onde o fado teria nascido (sob forte influência brasileira, garante o crítico musical e historiador José Ramos Tinhorão) e o Bairro Alto, pontilhado de casas de fado, são os principais endereços para apreciar o cantar triste e os acordes melódicos que saem da guitarra portuguesa. Nas próximas páginas, compusemos um roteiro lisboeta por bairros, tascas, lojas e até a casa de um brasileiro, escondida em Alfama, onde o fado, vadio ou não, já é patrimônio.
É preciso alguma disposição para percorrer o roteiro clássico do fado. Ladeiras ladeadas por um belo casario antigo são o traço comum às três zonas mais tradicionais deste gênero: Alfama, Mouraria e Bairro Alto. Subir e descer as colinas é fundamental para tatear a alma fadista. São muitos os lugares para se ouvir a música portuguesa. Mas há dois, de perfis bem distintos, que pairam acima dos demais, como ícones: a Parreirinha de Alfama e a Tasca do Chico, no Bairro Alto.Na primeira, o programa consiste em chegar cedo, se acomodar numa mesa (é fundamental reservar) e jantar, enquanto a fadista dona da casa, Argentina Santos, e seus convidados cantam e tocam. Ao contrário de boa parte desses endereços, ali a comida não decepciona. É possível jantar bem e escutar boa música, por isso, vive cheio. Arroz de tamboril, cabrito assado e pratos de bacalhau estão entre os de maior sucesso.
Já na Tasca do Chico, comida não é tão importante: há de se contentar com chouriços, morcelas, presuntos, pães e outras coisinhas assim. Mas quem precisa de alimento, quando se têm à vista um dos melhores espetáculos da cidade, um autêntico fado vadio, como são chamadas as noites embaladas por cantores anônimos, mas de ótima qualidade, em interpretações sempre emocionantes? Qualquer um da plateia, muito pequena (para conseguir lugar chegue antes das 22h), aliás, pode pedir para cantar. Mas só se atreve quem entende do riscado.
Perto dali, na mesma Rua Diário de Notícias, a Adega do Ribatejo é bem menos famosa. Mas o show é dos mais interessantes. É como um fado vadio com a equipe da casa. Primeiro cantam as garçonetes. Depois, as cozinheiras. E cantam bem, com uniforme e tudo. Na realidade, são melhor com a voz do que na cozinha, porque a comida é um tanto decepcionante. Mas vale pelo show, animado e com um quê de improviso, o que é a cara do fado.
Mas também há ambientes não tão informais assim. O Clube do Fado, em Alfama, é um desses lugares. A casa de Mário Pacheco, um dos maiores nomes da guitarra portuguesa, instrumento fundamental do fado, tem apresentações de músicos profissionais de primeiro time. A comida também não é amadora, com uma boa seleção de receitas bem tradicionais portuguesas, como ovos mexidos com farinheira (um embutido feito com farinha, massa de pimentão, colorau, vinho e gordura de porco), pataniscas de bacalhau, açorda de marisco e rojões de porco.
Outro bom endereço em Alfama é A Taverna d'El Rey, que pertence à fadista Maria Jô Jô. Também casa de referência é A Severa, que presta uma homenagem à cantora cigana que no século XIX ficou famosa por sua extrema sensualidade e talento para interpretar o fado. Ana Maria, uma angolana, também sobe ao palco com os portugueses. Ali, o espetáculo é longo e o fado acontece das 18h às 3h da madrugada.
Na Mouraria, bairro de imigrantes desde muito, condição em que permanece até hoje, já não há tantos lugares para se ouvir o fado. Uma (injustificada) fama de violento espanta turistas. Mas não pode haver apreciador de música portuguesa que não queira se perder por suas ladeiras e vielas, cantarolando os versos de "Ai, Mouraria", uma das canções mais famosas, imortalizada na voz de Amália Rodrigues: "Ai, Mouraria/ Dos rouxinóis nos beirais/ Dos vestidos cor de rosa/ Dos pregões tradicionais/ Ai, Mouraria/ Das procissões a passar/ Da Severa em voz saudosa/ Da guitarra a soluçar".
Adega do Ribatejo: A particularidade desta casa de fado no Bairro Alto são as cantoras: garçonetes e cozinheiras do lugar. Rua do Diário de Notícias 23, Bairro Alto. Tel. (21) 346-8343.
A Severa: O nome da casa presta uma homenagem à cantora cigana que fez grande sucesso no século XIX, popularizando o fado em Lisboa. O restaurante foi inaugurado em 1955 e hoje conta com uma cantora angolana. Rua das Gáveas 51-61, Bairro Alto. Tel. (21) 346-1204. www.asevera.com.
Clube de Fado: Bom lugar para se comer e ouvir fado num clima mais formal, em Alfama. Rua São João da Praça 94, Sé. Tel. (21) 888-2964.www.clube-de-fado.com.
Parreirinha de Alfama: Um dos endereços fadistas mais conhecidos de Lisboa, comandado por Argentina Santos. Tem bom fado e boa comida, mas no verão fica muito quente. Beco do Espírito Santo 1, Alfama. Tel. (21) 886-8209.


Tasca do Chico: No pequeno salão, nas noites de segunda, terça e quarta-feira acontecem apresentações de fado vadio, quando a plateia pode participar. Rua do Diário de Notícias 39, Bairro Alto. Tel. (21) 343-1040.
Taverna d'El Rey: Pertence à fadista Maria Jô Jô. Bom fado e boa comida. Largo do Chafariz de Dentro 14, Alfama. Tel. (21) 887-6754.


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domingo, 7 de outubro de 2012

Oui Oui | café francês cool


Oui Oui Buenos Aires Cafe
Qualquer site gastronômico que se preze já publicou em suas páginas o precurssor dos cafés hippies-chics da capital porteña: Oui Oui foi criado por uma cozinheira autodidata que se inspirou na França. Hoje o resultado é copiado, amado ou odiado por todos. Falem bem ou mal, o local é super conhecido, seja por sua pouco provável localização - longe, antigamente, do burburinho típico de bairros super lotados -, pela descontração de seus ornamentos ou simplesmente pelo chique sem brilho. 

Oui Oui Buenos Aires CafeLousas com giz colorido fazem a festa pelo salão. Coincidência ou não, a limonada do Oui Oui é a especialidade da casa, mas isso deixamos para depois. 

Oui Oui Buenos Aires CafeA mesa, bem feminina, com toques na maior parte em rosa, chama tanta atenção que até a loirinha do fundo ficou clamufada tamanha a beleza dos doces. Babem com essas medialunas (aqui chamadas de croissants, como na França), alfajores gordinhos, magdalenas, cookies, waffles. 

Oui Oui Buenos Aires CafeO romantismo que impera na casa se reflete nas rosas bem dispostas e já diria perfumadas se as pudesse ter cheirado - o que causaria um estrago na mesa bem disposta de utensílios comestíveis e claramente causaria minha expulsão do lugar. 

Oui Oui Buenos Aires CafeO cardápio, as usual, um quadro negro maior ainda com tudo o que a casa oferece naquela semana, com preço detalhado e a composição de cada prato. Iiii rimou! Não se espantem logo com o menú que te entregam na mesa: um papel simples plastificado com nomes de comidas sem preço: olhem para cima. 

Oui Oui Buenos Aires CafeOu olhem para a mesa cheia de waffles, quentinhos, recém saídos do forno. Tem como não amar? 

Oui Oui Buenos Aires CafeMas o Oui Oui não é só delicadeza: aqui ninguém teve medo de misturar santas com bebidas alcólicas. E pregar nos santos coraçõezinhos coloridos? Isso é para gente inocente. 

Oui Oui Buenos Aires CafePartimos para o que realmente colore nosso post: comidas! Um sanduíche maravilhoso de frango com bacon para quem era sorteado na divisão dos pedaços, molhadinho na maionese de Dijon: 38 pesitos. 

Oui Oui Buenos Aires CafeOutro lanche para nós, esse de pavita (peito de peru) com tomates secos e alface. A surpresa do prato foram as batatas, que variava o sabor segundo o paladar de cada um presente na mesa. Teve gente que até achou que a batata era afundada no suco de laranja. Eu só sei que o gostinho era cítrico, nada mais. Y son 38 pesitos más. 

Oui Oui Buenos Aires CafeAqui a especialidade antes comentada: o Oui Oui adora limonadas. Acredito que estavam cansados de fazerem limonadas comuns e resolveram inovar. Perguntei: ''Che, que es la limonada loca?'', o garçom me disse ''Pero, es obvio que es con vodca''. Bora para dentro, claro gente, para fins profissionais. A limonada era divina, e não sei se é porque eu estava de muito sangue doce, mas eu achei que faltava a bendita vodca. Será? Balela, jarrinha por 25 pesos, acredita? 

Oui Oui Buenos Aires CafeO doce da tarde ficou por conta dos... 

Oui Oui Buenos Aires CafeCalma, no doce de leite e da nutella nos waffles! Ou vocês imaginaram que íamos comer doce de leite e nutella puros? Só pela cara não preciso nem dizer a tentação que era isso, e são 25 pesos a mais. 

Oui Oui Buenos Aires CafeFalem mal mas falem de mim, esse é o lema do Oui Oui. Whatever, quem sai ganhando é o meu estômago, digo, o público! Mas existem várias razões pelas quais a casa é copiada, seja pela idéia original ou porque tudo ali é muito bom e em conta (rachada em três ficou em meros 42 pesos, ou seja 24 reais!). E diria mais: diria que toda vez que sair vou pro Oui Oui. Morram de inveja, porque ele fica na rua de casa! 

Oui Oui 
Nicaragua 6068 (esq. Dorrego) - Palermo Hollywood 
Cap. Federal - Buenos Aires 
 (11) 4778 9614 
www.ouioui.com.ar 
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