sábado, 20 de outubro de 2012

Passeie pelas melhores casas de fado de Lisboa



Casa de fado vadioBruno Agostini

Casa de fado vadioBruno Agostini
LISBOA - Há dez anos, no dia 6 de outubro, o mundo perdia Amália Rodrigues, a Rainha do Fado, maior nome do gênero, responsável por dar-lhe expressão internacional. Aproveitando a data, o embaixador de Portugal na Unesco, Manuel Maria Carrilho, anunciou que no começo do próximo ano vai apresentar a candidatura do fado a patrimônio imaterial da Humanidade, assim como o samba de roda do Recôncavo Baiano.
Além da efeméride e da intenção de tombamento, a mais lusitana das canções vive um momento muito especial por outras razões. Nunca houve tantos turistas interessados no fado, nem tantas casas dedicadas a ele. E uma nova geração de músicos injeta oxigênio no ritmo, fazendo sucesso entre os jovens, como acontece aqui com o samba. Em Lisboa, o fado está por toda a parte: nos cartões postais, na camioneta antiga que vende CDs pela cidade, nos bares, nas ruas, na melancolia que é a própria essência do mais português dos gêneros musicais. Mas a Mouraria e a Alfama, onde o fado teria nascido (sob forte influência brasileira, garante o crítico musical e historiador José Ramos Tinhorão) e o Bairro Alto, pontilhado de casas de fado, são os principais endereços para apreciar o cantar triste e os acordes melódicos que saem da guitarra portuguesa. Nas próximas páginas, compusemos um roteiro lisboeta por bairros, tascas, lojas e até a casa de um brasileiro, escondida em Alfama, onde o fado, vadio ou não, já é patrimônio.
É preciso alguma disposição para percorrer o roteiro clássico do fado. Ladeiras ladeadas por um belo casario antigo são o traço comum às três zonas mais tradicionais deste gênero: Alfama, Mouraria e Bairro Alto. Subir e descer as colinas é fundamental para tatear a alma fadista. São muitos os lugares para se ouvir a música portuguesa. Mas há dois, de perfis bem distintos, que pairam acima dos demais, como ícones: a Parreirinha de Alfama e a Tasca do Chico, no Bairro Alto.Na primeira, o programa consiste em chegar cedo, se acomodar numa mesa (é fundamental reservar) e jantar, enquanto a fadista dona da casa, Argentina Santos, e seus convidados cantam e tocam. Ao contrário de boa parte desses endereços, ali a comida não decepciona. É possível jantar bem e escutar boa música, por isso, vive cheio. Arroz de tamboril, cabrito assado e pratos de bacalhau estão entre os de maior sucesso.
Já na Tasca do Chico, comida não é tão importante: há de se contentar com chouriços, morcelas, presuntos, pães e outras coisinhas assim. Mas quem precisa de alimento, quando se têm à vista um dos melhores espetáculos da cidade, um autêntico fado vadio, como são chamadas as noites embaladas por cantores anônimos, mas de ótima qualidade, em interpretações sempre emocionantes? Qualquer um da plateia, muito pequena (para conseguir lugar chegue antes das 22h), aliás, pode pedir para cantar. Mas só se atreve quem entende do riscado.
Perto dali, na mesma Rua Diário de Notícias, a Adega do Ribatejo é bem menos famosa. Mas o show é dos mais interessantes. É como um fado vadio com a equipe da casa. Primeiro cantam as garçonetes. Depois, as cozinheiras. E cantam bem, com uniforme e tudo. Na realidade, são melhor com a voz do que na cozinha, porque a comida é um tanto decepcionante. Mas vale pelo show, animado e com um quê de improviso, o que é a cara do fado.
Mas também há ambientes não tão informais assim. O Clube do Fado, em Alfama, é um desses lugares. A casa de Mário Pacheco, um dos maiores nomes da guitarra portuguesa, instrumento fundamental do fado, tem apresentações de músicos profissionais de primeiro time. A comida também não é amadora, com uma boa seleção de receitas bem tradicionais portuguesas, como ovos mexidos com farinheira (um embutido feito com farinha, massa de pimentão, colorau, vinho e gordura de porco), pataniscas de bacalhau, açorda de marisco e rojões de porco.
Outro bom endereço em Alfama é A Taverna d'El Rey, que pertence à fadista Maria Jô Jô. Também casa de referência é A Severa, que presta uma homenagem à cantora cigana que no século XIX ficou famosa por sua extrema sensualidade e talento para interpretar o fado. Ana Maria, uma angolana, também sobe ao palco com os portugueses. Ali, o espetáculo é longo e o fado acontece das 18h às 3h da madrugada.
Na Mouraria, bairro de imigrantes desde muito, condição em que permanece até hoje, já não há tantos lugares para se ouvir o fado. Uma (injustificada) fama de violento espanta turistas. Mas não pode haver apreciador de música portuguesa que não queira se perder por suas ladeiras e vielas, cantarolando os versos de "Ai, Mouraria", uma das canções mais famosas, imortalizada na voz de Amália Rodrigues: "Ai, Mouraria/ Dos rouxinóis nos beirais/ Dos vestidos cor de rosa/ Dos pregões tradicionais/ Ai, Mouraria/ Das procissões a passar/ Da Severa em voz saudosa/ Da guitarra a soluçar".
Adega do Ribatejo: A particularidade desta casa de fado no Bairro Alto são as cantoras: garçonetes e cozinheiras do lugar. Rua do Diário de Notícias 23, Bairro Alto. Tel. (21) 346-8343.
A Severa: O nome da casa presta uma homenagem à cantora cigana que fez grande sucesso no século XIX, popularizando o fado em Lisboa. O restaurante foi inaugurado em 1955 e hoje conta com uma cantora angolana. Rua das Gáveas 51-61, Bairro Alto. Tel. (21) 346-1204. www.asevera.com.
Clube de Fado: Bom lugar para se comer e ouvir fado num clima mais formal, em Alfama. Rua São João da Praça 94, Sé. Tel. (21) 888-2964.www.clube-de-fado.com.
Parreirinha de Alfama: Um dos endereços fadistas mais conhecidos de Lisboa, comandado por Argentina Santos. Tem bom fado e boa comida, mas no verão fica muito quente. Beco do Espírito Santo 1, Alfama. Tel. (21) 886-8209.


Tasca do Chico: No pequeno salão, nas noites de segunda, terça e quarta-feira acontecem apresentações de fado vadio, quando a plateia pode participar. Rua do Diário de Notícias 39, Bairro Alto. Tel. (21) 343-1040.
Taverna d'El Rey: Pertence à fadista Maria Jô Jô. Bom fado e boa comida. Largo do Chafariz de Dentro 14, Alfama. Tel. (21) 887-6754.


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