quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A bordo dos bondinhos, uma Lisboa para viagem




Loja de artesanato na Rua Augusta, na Baixa, em Lisboa
Foto: Eduardo Maia / O Globo

Loja de artesanato na Rua Augusta, na Baixa, em Lisboa 
LISBOA - Eles são as grandes estrelas das ladeiras — e não são poucas — de Lisboa. Estão raramente vazios e sempre que passam entram na mira das lentes dos turistas. Que os bondes (ou “eléctricos”, como são chamados pelos locais) são a melhor forma de conhecer a insinuante capital portuguesa, não há dúvidas. O que a maioria não percebe é que os bondinhos amarelos também servem como ótimos guias para um roteiro de compras, inclusive por bairros menos frequentados por visitantes. As vitrines, aliás, são outra ótima forma de conhecer a cidade e ver como ela aponta para o futuro sem abrir mão de suas tradições.

Uma de suas paradas fica no bairro da Estrela, bucólico recanto residencial, já longe dos holofotes da maioria dos estrangeiros. Para vivenciar mesmo uma experiência alfacinha, o bonde 25 é a opção. Ele circula pelas ruas da Lapa, bem menos boêmia que a homônima carioca, mas que merece uma parada para conferir a reaberta A Mimosa da Lapa, uma mercearia do início do século passado que vende tanto produtos portugueses típicos como obras de arte. E também chega a Santos, área que vem sendo revitalizada com lojas de design e decoração.Cobrindo o circuito mais turístico, e por isso mesmo o mais disputado das cinco linhas municipais, o Eléctrico 28 corta os bairros mais tradicionais. Na Graça, ele deixa pertinho do maior mercado de pulgas de Lisboa, a Feira da Ladra; na Baixa e no Chiado, passa em frente a algumas das lojas mais antigas e badaladas da capital, com incríveis vistas para o Rio Tejo como brinde.
Em Santos passam também os bondes 15 e 18, populares por serem a forma mais charmosa de se chegar a Belém. Mas desça um pouquinho antes, na estação do Calvário, para conhecer a LX Factory, um complexo de lojas e ateliês que funciona em antigas fábricas desativadas.
Design e arte renovam antigas galerias
Ao saltar do bonde 28 em frente à Basílica da Estrela, saquei meu mapinha surrado para encontrar a Rua Bela Vista à Lapa, para a surpresa dos moradores, não tão acostumados a turistas de mapa em punho por aquelas bandas. Levei alguns minutos dobrando esquinas até achar a pequena via onde está A Mimosa da Lapa, uma mercearia de bairro que passaria despercebida caso não fosse o motivo daquela viagem. A fachada sem muito destaque é um verdadeiro tesouro lisboeta.
Fundada em 1932 por Adão Dantas, lembrado na inscrição no armário original, e fechada nos anos 1990, a mercearia foi comprada por três amigos, vindos de áreas de atuação diversas, como moda e artes plásticas. Em 8 de dezembro reabriram o lugar, dividido em três ambientes. No primeiro, a reprodução fiel da loja original, com prateleiras, balcões, piso e balanças da época. Nas vitrines, só produtos portugueses, de quase todos os cantos do país.
— Por enquanto o único território que não está representado aqui é a Ilha da Madeira. Mas logo teremos alguma coisa de lá — diz um dos sócios, Gabriel Garcia, um açoriano que puxa sardinha para os produtos do arquipélago, como o queijo da ilha e a queijada da Graciosa, ao listar os destaques da casa.
Mas há outros, como a broa de batata do Piódão, a cerveja artesanal Sovina, produzida no Porto, e os rebuçados de ovos, do Alentejo. Nos fundos, fica uma galeria de arte, aberta a novos artistas portugueses, e as bicicletas vintage, outra paixão do trio, vendidas ali. Um terceiro ambiente é usado para workshops eventuais, como de olaria e gastronomia.
Gabriel e seus sócios esperam que a região passe pelo mesmo processo de revitalização que transformou o aristocrático bairro de Príncipe Real num dos pontos mais interessantes da cidade hoje em dia. Somadas às atrações que por si só já justificariam uma visita à região vizinha ao Chiado e ao Bairro Alto (o Jardim do Príncipe Real, o Jardim Botânico e o Museu de Ciência), lojas modernas vêm ocupando os imponentes palacetes do eixo principal, formado pelas ruas da Escola Politécnica e Dom Pedro V.
É o caso da nova butique do estilista português Nuno Gama, aberta ano passado. Há ainda lugares onde o orgulho luso é deixado de lado e até a campainha tem sotaque francês. Os macarons e croissants do bistrô Poison d’Amour já são famosos na cidade. Quem tiver saudades de Paris pode entrar também na Charcuteria Moy, uma delicatessen que reúne produtos de marcas francesas como Fauchon, e oferece ainda chás ingleses e vinhos italianos, por exemplo.
Entre as lojas mais ousadas do bairro está a Espaço B, com roupas minimalistas e acessórios chamativos, além de discos de artistas alternativos e livros de arte. Esse tipo de literatura também ocupa boa parte da vizinha Fabrico Infinito. Os livros, todos da editora Babel (que publica a obra de Fernando Pessoa), dividem espaço com objetos de design que fogem do comum. Uma das peças mais populares é umheadphone com duas conchas nas pontas. Se for com tempo, vale a pena curtir a vista do Lost In, restaurante com pegada vegetariana e influências orientais, anexo à loja homônima, que vende roupas e tecidos indianos.
Outro bairro tradicional de Lisboa que passa por um processo de revitalização via comércio é Santos, uma antiga zona industrial à beira do Tejo. Lojas de design e decoração, escritórios de arquitetura, escolas de comunicação, bares e restaurantes começaram a tomar conta de galpões e armazéns a partir de 2005, quando foi criado o Santos Design District. O empreendimento mais recente da área é a filial lisboeta da Roche Bobois, com peças de alguns dos mais conhecidos designers europeus. Há espaço também para empresários locais, como os que ocupam o pátio interno do número 3 do Largo Vitorino Damásio. O lugar, uma antiga marmoraria, foi transformado por pequenas lojas e escritórios em uma simpática vila, onde a floricultura, com sua janela elíptica e um café com jardim suspenso se destacam.
Seguindo pela margem do rio, a bordo dos bondes 15 ou 18, é possível chegar a um outro espaço industrial transformado, a LX Factory, no bairro de Alcântara. Em 2007 um conjunto de empreendimentos moderninhos foi instalado na área da antiga Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense, bem debaixo da Ponte 25 de Abril, a “Golden Gate portuguesa”. Para quem estiver interessado apenas em compras, o melhor dia para visitar é domingo, quando acontece o LX Market, que reúne, além dos lojistas do lugar, brechós e ateliês de outros pontos da cidade.
Amantes de música precisam fazer uma parada na Art’Orfeu Media, do selo português Orfeu. Seu forte é a canção popular portuguesa, sobretudo os cantores e compositores de protesto dos anos 1970, bastante em moda neste momento de crise. Está lá, por exemplo, toda a discografia remasterizada, relançada ao longo do ano passado pelo próprio selo, de José Afonso, autor de “Grândola Vila Morena”. A música foi o símbolo da Revolução dos Cravos e embalou milhares de pessoas na manifestação do dia 2 passado.
Livros sobre o movimento popular que derrubou a ditadura de Salazar e que jogam luz sobre a atual crise econômica europeia também estão em destaque logo na entrada da Ler Devagar. Mas você dificilmente notará isso de cara. Culpa do visual impactante da livraria. Instalada na antiga Gráfica Mirandela em Alcântara, a loja tem livros de cima a baixo e um café que reutiliza a antiga prensa central. Esculturas suspensas, de ciclistas voadores, tornam o lugar ainda mais surreal.
Todo tipo de lembrancinha
Postais com bondinhos, “camisolas” da seleção portuguesa, torres de Belém em miniatura. Nos bairros mais turísticos de Lisboa, as lojinhas de suvenires se enfileiram em busca de turistas apressados. Mas dá para levar para casa lembranças mais autênticas da cidade.
No Chiado fica a rua comercial mais famosa de Lisboa, a elegante Garrett, cheia de estabelecimentos badalados. O Café A Brasileira e sua popular estátua de Fernando Pessoa estão lá, assim como a ourivesaria Aliança (agora da rede Tous) e seu aspecto de casa de bonecas, e a livraria Bertrand, a mais antiga do mundo, aberta em 1732. É impossível não comprar um livro no mesmo local em que Fernando, em pessoa, atualizava sua biblioteca.
Mas a loja que dá uma verdadeira aula de história lusitana está na reservada Rua Anchieta. Com o sugestivo nome de A Vida Portuguesa, a casa é obra da jornalista Catarina Portas, que descobriu uma forma de contar histórias do cotidiano do país através de produtos tradicionalíssimos, de pastas de dente a atum enlatado. Para a maioria dos brasileiros, as referências podem não significar muito, mas é engraçado observar a reação de portugueses relembrando a infância e mostrando aos filhos e netos como se fazia a barba ou como se cozinhava “naqueles tempos”. A perfumaria da casa faz sucesso entre os turistas, assim como as andorinhas de cerâmica da fábrica Bordalo Pinheiro.
Um dos produtos vendidos é a conserva de peixes Tricana, marca tradicional que não se encontra em muitos lugares. Para comprar direto da fonte é preciso ir até a Rua dos Bacalhoeiros, na fronteira da Baixa com a Alfama, onde funciona a Conserveira de Lisboa, fundada em 1930 e dona da Tricana e de mais duas marcas de conservas: Minor e Prata do Mar. A casa é parada obrigatória para gourmets, portugueses ou não. Tudo ali respira ares do passado, do mobiliário ao desenho vintage das embalagens, passando pelos funcionários. Num cantinho, rotulando pacientemente as latinhas, uma senhora explica que os turistas geralmente se interessam pelas conservas de bacalhau e sardinha, sabores tipo exportação do país. Mas que, na opinião dela, as conservas de cavala vivem uma fase melhor. No total são mais de 80 sabores.
Dobrando a esquina e subindo a Rua da Madalena está a Santos Ofícios, que desde 1995 se dedica exclusivamente à arte popular de diversos pontos do país. O artesanato vendido ali foge do óbvio oferecido em outras lojas do tipo com obras garimpadas nas mais longínquas aldeias do interior de Portugal. Há peças caríssimas, é verdade, mas muitas são mais acessíveis que suvenires baratos e pouco originais.
Também na Rua dos Bacalhoeiros, ao lado da Casa dos Bicos, onde funciona a Fundação José Saramago, a Loja dos Descobrimentos atrai por seus azulejos de todos os tipos e tamanhos. Paisagens da cidade, natureza, figuras humanas e desenhos abstratos ganham vida nas placas de cerâmica, muitas pintadas pela proprietária. Ela, que pode ser vista trabalhando na loja durante o dia, também ministra cursos de pintura.
Se você acha que voltar de Portugal sem um Galo de Barcelos, o suvenir mais típico do país, não tem graça, uma dica é a Amar Lisboa, no Campo das Cebolas, aberta ano passado. Lá os ícones portugueses ganham nova roupagem, como os galinhos em cores vivas e estampas pouco usuais, como o calçamento ondulado do Rossio (que inspirou o de Copacabana). Camisetas bem-humoradas exploram o rosto de Pessoa, os bondes e o fado, e bolsas e pulseiras de cortiça mostram usos pouco comuns desse material que tem Portugal como principal produtor. Prova de que, mesmo nas lojas mais modernas, a nostalgia é o melhor suvenir desta terra.
SERVIÇO:
A Mimosa da Lapa: Rua Bela Vista à Lapa 94. Fecha segunda.amimosadalapa.pt.
Poison d’Amour: Rua da Escola Politécnica 32. Fecha segunda.
Charcutaria Moy: Rua D. Pedro V 111. Diariamente.
Espaço B: Rua D. Pedro V 120. Fecha domingo. espaco-b.com.
Fabrico Infinito: Rua D. Pedro V 74. fabricoinfinito.wordpress.com.
Santos District Design: As lojas da associação estão listadas emsantosdesigndistrict.com.
LX Factory: Rua Rodrigues de Faria 103. lxfactory.com.
Livraria Bertrand: Rua Garrett 73. bertrand.pt.
A Vida Portuguesa: Rua Anchieta 11. Fechada aos domingos.avidaportuguesa.com.
Conserveira de Lisboa: Rua Bacalhoeiros 34. Fecha domingo.conserveiradelisboa.pt.
Santos Ofícios: Rua da Madalena 87. Fecha domingo. santosoficios-artesanato.pt.
Loja dos Descobrimentos: Rua dos Bacalhoeiros 12. Diariamente. loja-descobrimentos.com
Amar Lisboa: Campo das Cebolas 44. Diariamente. dsc.com.pt.

Lisboa convida Brasil



LISBOA CONVIDA BRASIL


Loja A Vida Portuguesa, uma das indicadas no guia Lisboa convida Brasil
Foto: Eduardo Maia / O Globo

Loja A Vida Portuguesa, uma das indicadas no guia Lisboa convida Brasil . O “Lisboa convida Brasil”, disponível em livreto, site (lisboaconvidabrasil.com)e em breve como aplicativo para iOS e Android, gratuito, traz todo tipo de dicas de compras — das grifes da Avenida da Liberdade às lojas modernas do Príncipe Real, passando por fast fashion e também por produtos tradicionalmente portugueses. O site será atualizado constantemente, com dicas como o Embaixada, que abriu no começo do mês e já sediou um evento da “Vogue”.— 

Fado - a alma portuguesa


Casa de fado vadioBruno Agostini

Casa de fado vadio
LISBOA - Há dez anos, no dia 6 de outubro, o mundo perdia Amália Rodrigues, a Rainha do Fado, maior nome do gênero, responsável por dar-lhe expressão internacional. Aproveitando a data, o embaixador de Portugal na Unesco, Manuel Maria Carrilho, anunciou que no começo do próximo ano vai apresentar a candidatura do fado a patrimônio imaterial da Humanidade, assim como o samba de roda do Recôncavo Baiano.

Além da efeméride e da intenção de tombamento, a mais lusitana das canções vive um momento muito especial por outras razões. Nunca houve tantos turistas interessados no fado, nem tantas casas dedicadas a ele. E uma nova geração de músicos injeta oxigênio no ritmo, fazendo sucesso entre os jovens, como acontece aqui com o samba. Em Lisboa, o fado está por toda a parte: nos cartões postais, na camioneta antiga que vende CDs pela cidade, nos bares, nas ruas, na melancolia que é a própria essência do mais português dos gêneros musicais. Mas a Mouraria e a Alfama, onde o fado teria nascido (sob forte influência brasileira, garante o crítico musical e historiador José Ramos Tinhorão) e o Bairro Alto, pontilhado de casas de fado, são os principais endereços para apreciar o cantar triste e os acordes melódicos que saem da guitarra portuguesa. Nas próximas páginas, compusemos um roteiro lisboeta por bairros, tascas, lojas e até a casa de um brasileiro, escondida em Alfama, onde o fado, vadio ou não, já é patrimônio.

É preciso alguma disposição para percorrer o roteiro clássico do fado. Ladeiras ladeadas por um belo casario antigo são o traço comum às três zonas mais tradicionais deste gênero: Alfama, Mouraria e Bairro Alto. Subir e descer as colinas é fundamental para tatear a alma fadista. São muitos os lugares para se ouvir a música portuguesa. Mas há dois, de perfis bem distintos, que pairam acima dos demais, como ícones: a Parreirinha de Alfama e a Tasca do Chico, no Bairro Alto.Na primeira, o programa consiste em chegar cedo, se acomodar numa mesa (é fundamental reservar) e jantar, enquanto a fadista dona da casa, Argentina Santos, e seus convidados cantam e tocam. Ao contrário de boa parte desses endereços, ali a comida não decepciona. É possível jantar bem e escutar boa música, por isso, vive cheio. Arroz de tamboril, cabrito assado e pratos de bacalhau estão entre os de maior sucesso.
Já na Tasca do Chico, comida não é tão importante: há de se contentar com chouriços, morcelas, presuntos, pães e outras coisinhas assim. Mas quem precisa de alimento, quando se têm à vista um dos melhores espetáculos da cidade, um autêntico fado vadio, como são chamadas as noites embaladas por cantores anônimos, mas de ótima qualidade, em interpretações sempre emocionantes? Qualquer um da plateia, muito pequena (para conseguir lugar chegue antes das 22h), aliás, pode pedir para cantar. Mas só se atreve quem entende do riscado.
Perto dali, na mesma Rua Diário de Notícias, a Adega do Ribatejo é bem menos famosa. Mas o show é dos mais interessantes. É como um fado vadio com a equipe da casa. Primeiro cantam as garçonetes. Depois, as cozinheiras. E cantam bem, com uniforme e tudo. Na realidade, são melhor com a voz do que na cozinha, porque a comida é um tanto decepcionante. Mas vale pelo show, animado e com um quê de improviso, o que é a cara do fado.
Mas também há ambientes não tão informais assim. O Clube do Fado, em Alfama, é um desses lugares. A casa de Mário Pacheco, um dos maiores nomes da guitarra portuguesa, instrumento fundamental do fado, tem apresentações de músicos profissionais de primeiro time. A comida também não é amadora, com uma boa seleção de receitas bem tradicionais portuguesas, como ovos mexidos com farinheira (um embutido feito com farinha, massa de pimentão, colorau, vinho e gordura de porco), pataniscas de bacalhau, açorda de marisco e rojões de porco.
Outro bom endereço em Alfama é A Taverna d'El Rey, que pertence à fadista Maria Jô Jô. Também casa de referência é A Severa, que presta uma homenagem à cantora cigana que no século XIX ficou famosa por sua extrema sensualidade e talento para interpretar o fado. Ana Maria, uma angolana, também sobe ao palco com os portugueses. Ali, o espetáculo é longo e o fado acontece das 18h às 3h da madrugada.
Na Mouraria, bairro de imigrantes desde muito, condição em que permanece até hoje, já não há tantos lugares para se ouvir o fado. Uma (injustificada) fama de violento espanta turistas. Mas não pode haver apreciador de música portuguesa que não queira se perder por suas ladeiras e vielas, cantarolando os versos de "Ai, Mouraria", uma das canções mais famosas, imortalizada na voz de Amália Rodrigues: "Ai, Mouraria/ Dos rouxinóis nos beirais/ Dos vestidos cor de rosa/ Dos pregões tradicionais/ Ai, Mouraria/ Das procissões a passar/ Da Severa em voz saudosa/ Da guitarra a soluçar".
Adega do Ribatejo: A particularidade desta casa de fado no Bairro Alto são as cantoras: garçonetes e cozinheiras do lugar. Rua do Diário de Notícias 23, Bairro Alto. Tel. (21) 346-8343.
A Severa: O nome da casa presta uma homenagem à cantora cigana que fez grande sucesso no século XIX, popularizando o fado em Lisboa. O restaurante foi inaugurado em 1955 e hoje conta com uma cantora angolana. Rua das Gáveas 51-61, Bairro Alto. Tel. (21) 346-1204. www.asevera.com.
Clube de Fado: Bom lugar para se comer e ouvir fado num clima mais formal, em Alfama. Rua São João da Praça 94, Sé. Tel. (21) 888-2964. www.clube-de-fado.com.
Parreirinha de Alfama: Um dos endereços fadistas mais conhecidos de Lisboa, comandado por Argentina Santos. Tem bom fado e boa comida, mas no verão fica muito quente. Beco do Espírito Santo 1, Alfama. Tel. (21) 886-8209.
Tasca do Chico: No pequeno salão, nas noites de segunda, terça e quarta-feira acontecem apresentações de fado vadio, quando a plateia pode participar. Rua do Diário de Notícias 39, Bairro Alto. Tel. (21) 343-1040.
Taverna d'El Rey: Pertence à fadista Maria Jô Jô. Bom fado e boa comida. Largo do Chafariz de Dentro 14, Alfama. Tel. (21) 887-6754.

Lisboa - Porta de Entrada da Europa



Mosteiro dos Jerônimos, em BelémFoto de Gustavo Alves

Mosteiro dos Jerônimos, em Belem

LISBOA - Pela Avenida da Liberdade e a Rua Augusta, entramos na Europa fazendo compras em grifes internacionais entremeadas pelo comércio local. Com uma esticada em Belém, passeamos pela arte contemporânea e a história, no Museu Berardo e o Mosteiro dos Jerônimos. Ou seja, aquilo que nos encanta na Europa, na nossa língua, e a preços bem atraentes.

- Portugal está em acelerado processo de recuperação dos prédios históricos - conta o brasileiro Celso Assunção Terra, brasileiro que trabalhou na Casa Cavé, no Rio, antes de assumir a direção do International Design Hotel.
O hotel abriu este ano, e o que tem dentro dele você lerá adiante. Para ilustrar, pela arquitetura, a forma como Lisboa está mudando, é preciso admirar a fachada do empreendimento, na esquina do Rossio com o início da Rua Augusta: durante as obras de reforma do prédio, que duraram quatro anos, o Patrimônio Histórico português não queria aprovar o lilás com que ele foi pintado - até o arquiteto responsável convencer as autoridades de que a cor era usa da nos prédios erguidos na re construção da cidade pelo Marquês de Pombal, após o terremoto de 1755.

Ao longo dela, estão as onipresentes Zara e H&M, ao lado de tradicionais lojas locais. Sem poluição visual, cartazes ou outdoors competindo para ofuscar o concorrente. O conjunto é tão agradável que você se sente estimulado tanto em explorar as marcas globais quanto em entrar nos "ishtablisimentus" que melhor traduzem Lisboa.

Explore, por exemplo, a Casa Pereira da Conceição, fundada em 1933, cujo desenho estilizado de um chinesinho na placa lembra até onde o império português foi em busca de especiarias. Dentro, há uma formidável oferta de latas multicoloridas de chás, cafés e chocolates, distribuídos em armários de madeira e vidro, e um balcão Luís XVI onde antigas máquinas de moagem decoram o ambiente.
Depois, vá à mais antiga Casa Canadá, no segundo quarteirão, para quem anda em direção ao arco por onde se vai até a Praça do Comércio e à estátua do rei José I. Desde sua inauguração, em 1926, é especializada em bolsas, acessórios de couro e tecidos. Joias podem ser admiradas e compradas em outras lojas no passeio e nos arredores, como a Augusta Joalheiros e a Ourivesaria Diadema, na Rua Áurea, via paralela à Augusta que é local de concentração de joalheiros há séculos.
A Augusta e seus arredores não são só para olhar vitrines e comprar: a rua comercial também é para contemplar, de preferência de uma das mesas dos restaurantes e cafés que há em seu início. Tanto os desenhos das calçadas quanto os prédios da arquitetura pombalina dos seus dois lados, de cinco pavimentos mais um terraço. Ou os artistas de rua, como músicos e os que se fazem de estátuas vivas - o tipo de distração que há em várias cidades, mas tem um poder irresistível de juntar curiosos em volta.
Não se assuste com a abordagem de algum cigano sugerindo em voz baixa "drogas?" ou "haxixe?" no caminho - basta dizer não, e eles vão embora. De certa forma, eles fazem parte do cotidiano lisboeta, da mesma forma que a Confeitaria Nacional, onde se faz o autêntico Bolo de Rei (a receita é secreta), servido no Natal; as lojas Bacalhoaria Silva e Soares & Roberto, Hortelão, velhas vizinhas - os nomes por si valem uma parada, admita - e a Igreja de São Domingos, cujo interior tem paredes nuas e colunas danificadas - resultado da decisão de só recuperar a sua fachada, após o prédio todo ser atingido por um incêndio. Perto, fica a Gambrinus, uma das melhores cervejarias de Lisboa. Um momento, dirá quem conhece a cidade: isso não é na Augusta, já estamos falando da Praça da Figueira e do Largo de São Domingos. Sim, estamos. É porque já subimos a Augusta e a deixamos, em direção a outra rua que é um centro de compras ao ar livre, só que mais chique: a Avenida da Liberdade.
SERVIÇO
Gambrinus: Aberto das 12h à 1h30m, com espaço interno para fumantes. Rua das Portas de Santo Antão 23. Tel. 351 (213) 421-466. www.gambrinuslisboa.com
Confeitaria Nacional: Praça da Figueira 18b/18c. Tels. 351 (213) 424-470 e 351 (213) 243-000.www.confeitarianacional.com
Casa Pereira da Conceição: Rua Augusta 102. Tel 351 (213) 423-000
Casa Canadá: Rua Augusta 228/232. Tel. 351 (213) 426-809.
Augusta Joalheiros: Rua Augusta 106/108. Tel. 351 (213) 460-616. Contato: augusta.joalheiros@mail.telepac.pt