sábado, 20 de outubro de 2012

Óbidos, a pequena joia da realeza de Portugal




Painel de azulejos do século XVII enfeita a imponente Porta da Vila Foto: Bruno Agostini
Painel de azulejos do século XVII enfeita a imponente Porta da Vila
ÓBIDOS - A História é tão bonita quanto o lugar. Óbidos é uma das vilas mais lindas e preservadas de Portugal. Em parte porque a trajetória desta cidadela protegida por uma alta murada de pedra é fortemente ligada à nobreza desde o século XIII, quando o rei Dinis se casou com Isabel de Aragão. Entre os presentes que o monarca deu à mulher estava... a vila de Óbidos inteirinha. A tradição de ser dote real se estendeu até o século XIX. Essa ligação com os poderosos portugueses ajudou a conservar intacto o casario gracioso, com paredes caiadas e detalhes em azul ou amarelo, cenário típico lusitano. Para tudo ficar ainda mais belo, todas as fachadas são enfeitadas com flores, principalmente gerânios vermelhos e buganvílias roxas. As construções antigas abrigam tudo o que um turista precisa para uma viagem prazerosa: há bons restaurantes, uma coleção de cafés, lojinhas de artesanato e galerias de arte cheias de charme, além de muitas garrafeiras, como os portugueses chamam os lugares que vendem bebidas alcoólicas - entre as especialidades etílicas locais estão os vinhos e a ginjinha, uma espécie de licor feito a partir da ginja, um tipo de cereja selvagem, pequenina e muito saborosa, abundante na região.
Era uma manhã ensolarada, mas fria, no começo do outono português. O perfume das castanhas assando na brasa já tomava conta do ar. Da janela do autocarro, como os portugueses chamam os ônibus, acompanhei a mudança da paisagem: deixamos Lisboa e o cenário urbano para trás e, de repente, dos dois lados da estrada, há vinhedos e mais vinhedos - com folhas que começam a ganhar tons avermelhados, uma beleza. Em pouco mais de uma hora de viagem, com algumas paradas pelo caminho, já estamos na entrada de Óbidos.
O passeio é uma das melhores escapadas que podemos fazer a partir da capital portuguesa. A cidadela a 80 quilômetros ao norte de Lisboa é um brinco, uma joia medieval. Só não faça como muitos turistas que visitam Óbidos a partir da capital portuguesa em excursões cansativas combinadas a outras atrações da região, como os mosteiros de Alcobaça e de Batalha, e o Santuário de Fátima. A vila de Óbidos merece, no mínimo, um dia inteiro dedicado a ela. Porque é preciso muita calma para saborear a cidade, seu casario precioso, sua gastronomia, seus vinhos e suas histórias.
Os ônibus que chegam de Lisboa lotados de estrangeiros deixam os turistas na porta da cidade. Vale dar uma passadinha no centro de informações turísticas para pegar um mapa, embora seja impossível se perder dentro da cidadela, que é pequena e com muitos pontos de referência. Do ponto de ônibus basta caminhar um pouco até chegar à Porta da Vila, a entrada principal de Óbidos, imponente. Ao atravessar o arco de pedra parece que viajamos no tempo (com o perdão do lugar comum). Muito pouco mudou nas ruas intramuros desde o século XIV, época em que foi finalizada a fortificação cuja origem é mourisca, anterior ao século XII, quando os árabes foram expulsos dali.
Não só o cenário, mas também são antigos os ofícios de parte da população que ainda vive do artesanato. Logo depois de cruzar a porta da cidade, somos recebidos por uma senhorinha, que - sem qualquer pressa - faz o seu bordado, exibindo as peças prontas num varal. Há várias lojas que vendem o artesanato local, com muitas peças de cerâmica, principalmente itens de cozinha, como pratos e travessas.
A cidade fica relativamente movimentada o ano inteiro, especialmente no verão. E aos que apreciam celebrações religiosas vale saber que um dos períodos mais concorridos é a Semana Santa, quando Óbidos é palco de algumas das mais bonitas procissões em Portugal, com a cidade iluminada por tochas. É bom reservar as pousadas com boa antecedência, para evitar ficar desabrigado.
Infelizmente alguns carros circulam lá dentro, muitas vezes até com velocidade incompatível com o lugar. Talvez esse seja o único defeito de Óbidos - ao lado do excesso de turistas. Mas, ao menos, o fluxo constante de visitantes originou uma boa infraestrutura de restaurantes, pousadas, bares e cafés.
O melhor a se fazer é reservar a parte da manhã para visitar as principais atrações, que fecham para o almoço por volta do meio-dia e meia, voltando a abrir só a partir do meio da tarde. A Igreja de Santa Maria, logo abaixo da Rua Direita, é famosa por ter sido palco do casamento de Afonso V com a sua prima Isabel, na primeira metade do século XV. No interior do templo chamam a atenção os azulejos do século XVII e o teto de madeira. À direita do altar podem ser apreciadas algumas pinturas de Josefa de Óbidos, uma das personagens mais famosas da cidade. Outras obras da pintora nascida em Sevilha em 1631, mas que passou grande parte da vida em Óbidos, podem ser apreciadas no Museu Municipal, na mesma Praça de Santa Maria onde está a igreja - e também um belo pelourinho manuelino do século XV, feito em pedra e enfeitado com redes de pesca desenhadas em relevo.
Na parte da tarde, quando o sol esquentar, é hora de se dedicar a explorar uma das maiores virtudes de Óbidos: a seleção de bons restaurante que servem pratos típicos da região.
Para os que viajam por Portugal de carro, Óbidos também pode servir de base para visitas às principais cidades da Estremadura e do Ribatejo, como Tomar, Fátima, Alcobaça, Batalha e Peniche. É também ponto estratégico para explorar as belezas naturais da região: está a poucos quilômetros da Lagoa d'Óbidos, do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, e também de Peniche, de onde zarpam os barcos para as Ilhas Berlenga, a 12 quilômetros da costa, santuário de aves e peixes.A muralha que virou mirante para turistas
O propósito original era permitir o rápido deslocamento dos soldados que tomavam conta da fortificação. Mas hoje são os turistas que usam o caminho que acompanha todo o trajeto da muralha de pedra que protege Óbidos, com 1,5 quilômetro de extensão. Pelo alto é a melhor maneira de se apreciar a cidadela de arquitetura caprichada. Logo depois de entrar pelo portão sul, o acesso principal, também chamado de Porta da Vila, basta subir a escada de pedras, à esquerda, para começar o passeio ao redor de Óbidos. Dali é possível avistar o movimento de turistas na Rua Direita, o principal corredor comercial, e muitas torres, tanto as do castelo, ao fundo, quanto as das 14 igrejas e capelas.COMO CHEGAR
De ônibus: Há saídas diárias entre Lisboa (rodoviária de Campo Grande) e Óbidos. O bilhete custa cerca de 7 euros. www.rodotejo.pt
 

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