sábado, 25 de agosto de 2012

Arquitetura e vinho nas bodegas de Mendoza




A O. Fournier dona de um dos projetos mais ousados entre as bodegas da região de Mendoza.
Foto: Divulgação
A O. Fournier dona de um dos projetos mais ousados entre as bodegas da região de Mendoza.DIVULGAÇÃO
MENDOZA - O substantivo butique virou o adjetivo da moda. Depois dos hotéis, chegou a vez das bodegas. Este é o novo conceito adotado por vinícolas argentinas, de olho num público mais exigente. Em Mendoza, o roteiro das chamadas bodegas butique mostra aos conhecedores de vinho e aos curiosos uma produção mais exclusiva, em que cada detalhe tem um significado, desde a arquitetura do local onde se fabrica o vinho à gastronomia e mesmo a possibilidade de se hospedar em meio aos vinhedos. Tudo para impressionar o cliente e se diferenciar.
O que está por trás do prazer de se tomar um bom vinho? Isso é o que os vitivinicultores mendocinos têm tentado mostrar aos apreciadores dos seus vinhos. Cada vez mais vinícolas oferecem aos visitantes o que chamam de experiência completa. Começa com a transformação da paisagem até o processamento da uva, e o primeiro gole. Especialista em arquitetura de vinícolas há três décadas, a arquiteta Eliana Bórmida garante que os novos desenhos das bodegas têm justamente esse objetivo. A ideia é fazer algo diferente.
— Em primeiro lugar, os visitantes entram em contato com a paisagem vitivinícola. Mendoza tem atributos excepcionais: clima seco mediterrâneo, de altitude, de alto brilho solar, o que é muito bom para o cultivo da planta, e tem excelente solo, permeável. Essa geografia magnífica, à beira dos Andes, constitui uma paisagem natural que é a primeira coisa que o visitante percebe quando chega às bodegas. Vê-se todo o ciclo. O deserto que, através das águas do rio que se forma com o derretimento da neve dos Andes, se transforma em oásis. Em seguida, se percebe a agricultura, resultado de um trabalho de engenheiros agrônomos, que vem obtendo vinhedos de excelência, com frutos excepcionais. Depois, chega-se ao edifício, onde se compreende como é feito, a partir de um fruto, um vinho — diz a arquiteta.
Para uma experiência realmente plena, várias bodegas contam com restaurantes e hotéis. O cardápio completo para fazer o visitante ficar mais tempo para aproveitar o que a região oferece de melhor.
As pequenas que são notáveis
Os passeios pelas vinícolas devem ser programados com certa antecedência. O melhor é escolher o roteiro por regiões para evitar longos deslocamentos ou visitas muito rápidas que não permitam apreciar a boa mesa local. Uma dica é hospedar-se na cidade de Mendoza por alguns dias e escolher outra localidade mais distante para permanecer nos outros. As reservas são mais do que aconselháveis. Até porque algumas vinícolas têm horários fixos para receber visitantes. Pode-se pedir para que os recepcionistas do hotel marquem na manhã do próprio dia do passeio. Em Luján de Cuyo, mais perto da cidade de Mendoza, as opções são várias. Mesmo as bodegas menores podem ser bastante diferentes do que se vê na Europa. As propriedades são maiores e as entradas, em geral, mais grandiosas.
A Achaval Ferrer faz parte do seleto circuito das vinícolas butique. A produção é pequena e não passa de 50 mil garrafas por ano. Esta é uma das explicações para os preços mais altos dos vinhos cuja exclusividade é conferida ainda pelo trabalho do reconhecido enólogo Roberto Cipresso. Esta bodega também fabrica azeites de alta gama, a partir das oliveiras da propriedade.
A vinícola Bressia é recomendada por nove entre dez sommeliers pela relação custo-benefício. O segredo deste negócio familiar está justamente no fato de ser uma produção mais exclusiva de vinhos de alto padrão, o que lhe confere também a classificação de vinícola butique. A opção de Walter Bressia, que foi enólogo da Nieto Senetiner por décadas, foi por um conceito minimalista, com a menor intervenção humana possível. A produção não é grande, o que também agrega ainda mais valor ao vinhos. Como a vinícola échica, as chances de se conseguir visitar as instalações sem reserva são menores: imprescindível marcar com antecedência.
A Nieto Senetiner também pode ser um bom passeio. O guia da vinícola é brasileiro e explica que as barricas da bodega não são mantidas no subsolo para evitar efeitos de eventuais tremores de terra. Volta e meia são sentidos pequenos ou médios terremotos na região.
Entre as maiores vinícolas que devem entrar no roteiro do visitantes estão a Ruca Malen, a Catena Zapata e a Vistalba. Outra bela opção para quem quer ver o que Mendoza produz de melhor em termos de arquitetura de vinhos é a vinícola Salentein, emblemática para a região.
Dos mesmos arquitetos é a O. Fournier. Mas, para essa, o turista precisa reservar um dia inteiro para o passeio. Mais distante do que Luján de Cuyo, Tupungato está a mais de duas horas de Mendoza. Pode-se programar a visita a outras bodegas no caminho. No entanto, não se pode conhecer a vinícola sem parar para almoçar no restaurante Urban.
Assinado pelos arquitetos Eliana Bórmida e Marcos Yanzón, o projeto da O. Fournier é bastante impressionante. O edifício parece compor a paisagem desértica onde foi instalado com materiais retirados da própria região. Ele prevê uma tecnologia mais avançada para lidar com a produção. No terraço, está instalado um laboratório para realizar microvinificações. É ali que a vinícola tenta descobrir a melhor equação para o equilíbrio dos seus vinhos. No subsolo, sob um jardim repleto de mudas de alecrim (elas mantêm a umidade do solo necessária para o amadurecimento do vinho) estão 1.800 barricas de carvalho a temperatura e umidade constantes.
A vista de cima do salão das barricas é ainda mais interessante. Só do alto é possível enxergar a imensa sombra do “cruzeiro do Sul” que se faz no chão a partir das aberturas do jardim. Esta já é a última etapa da visita, a caminho da butique onde se podem degustar os vinhos e comprar acessórios com a marca da O. Fournier. Os vinhos, ótimos, recebem os nomes de Alfa Crux e Beta Crux.
Porções na medida
A sofisticação impregnou também o mundo da gastronomia mendocina. O circuito dos restaurantes de culinária inovadora, de chefs reconhecidos internacionalmente, por si só, já valeria um roteiro pela região. Além dos bons nomes na cidade de Mendoza, como o do italiano Francesco ou do Azafrán, há um leque de opções a ser explorado na trilha dos bons vinhos, em mesas com vista para os vinhedos emoldurados pelos Andes.
Muitas bodegas perceberam que a boa mesa, além da arquitetura ousada, é mais uma maneira de atrair o consumidor. E garantem assim oferecer a experiência completa, das plantações de uvas à harmonização dos aromas com os melhores ingredientes da região.
Nada de imensas porções de carnes assadas ou gorduras. Os cardápios são muito elaborados com fórmulas criativas divididas em até seis pratos diferentes. Todos na medida certa.
Em Godoy Cruz, quase na saída da cidade de Mendoza, o 1884 fica na bodega Escorihuela Gascón, fundada na data que dá nome ao restaurante. A cozinha, que apresenta um menu que muda quinzenalmente, é pilotada por Francis Mallman, ganhador do Grand Prix de l'Art de la Cuisine, da Academia Internacional de Gastronomia de Paris em 1995. Requer reserva , como a maioria dos bons restaurantes locais.
Na bodega Ruca Malén, em Agrelo, o cardápio surpreende, assim como a vista a partir do salão envidraçado para as videiras e as montanhas. Por meio de técnicas clássicas ou da cozinha molecular, o cozinheiro Lucas Bustos e o engenheiro agrônomo Pablo Cúneo capricham na apresentação dos pratos e na combinação dos sabores.
Em Luján de Cuyo, na bodega Vistalba, o restaurante La Bourgogne tem decoração contemporânea minimalista e pertence ao premiado chef francês Jean Paul Bondoux, o mesmo do La Bourgogne do Hotel Alvear em Buenos Aires. Os pratos usam técnicas da cozinha francesa sobre ingredientes regionais.
O Urban, da bodega O. Fournier, em La Consulta, é uma atração à parte. Fica sobre um espelho de água com vista para o horizonte desértico repleto de videiras.
As adegas do Francesco e do Azafrán merecem uma visita. A primeira, no subsolo do restaurante, é apresentada pelo próprio sommelier, que também oferece passeios enológicos. A segunda é um belo espaço todo em madeira logo na vitrine do restaurante, ambientado como um velho armazém, que pode ser bisbilhotado pelos clientes ou usado para degustação de vinhos com uma grande mesa bem ao centro.
SERVIÇO
Onde ficar:
Park Hyatt Mendoza, Casino y Spa: Diárias para casal a partir de 900 pesos argentinos (cerca de R$ 393), sem café da manhã, mas com Wi-Fi gratuito em todo o hotel. Chile 1.124, Mendoza. Tel. 261-441-1234.mendoza.park.hyatt.com
Entrecielos: Diárias para casal a partir de 853 pesos argentinos (cerca de R$ 372), com café da manhã incluído e Wi-Fi gratuito em todo o hotel. Guardia Vieja 1998, Vistalba, Luján de Cuyo. Tel. 261-498-3377.entrecielos.com
Vinícolas e restaurantes
1884 Francis Mallmann: Belgrano 1188, Godoy Cruz.1884restaurante.com.ar
Achaval Ferrer: Calle Cobos 2601, Perdriel, Luján de Cuyo. Tel. 261-488-1131. achaval-ferrer.com
Azafrán: Av. Sarmiento 765. Tel. 261-429-4200. bve.com.ar
La Bourgogne: Saenz Peña 3531, Luján de Cuyo. Tel. 261-498-9400.
Bressia: Cochabamba 7725, Agrelo, Luján de Cuyo. Tel. 261- 524-9161.
Catena Zapata: Cobos s/n. Tel. 261-413-1100. catenawines.com
Francesco: Chile 1268. Tel. 261-425-3912. francescoristorante.com.ar
Nieto Senetiner: Guardia Vieja, Luján de Cuyo. Tel. 261- 498-.0315.nietosenetiner.com
O. Fournier: Calle Los Indios s/n, La Consulta, San Carlos. Tel.  262-245-1088ofournier.com
Ruca Malen: Ruta Nacional 7, km 1059, Agrelo, Luján de Cuyo. Tel. 261-562-8357. bodegarucamalen.com
Salentein: R.P 89 s/n, Tunuyan. Tel.  262-242-9500.bodegasalentein.com
Viña Cobos: Ruta 7. Luján de Cuyo. Tel. 261-479-0130.
Compras
De acordo com a Receita Federal, os brasileiros podem trazer até 12 garrafas de vinho por pessoa como bagagem. Mas é preciso estar atento ao valor da compra total, porque continua em vigor o limite de até US$ 500 por passageiro. Os vinhos das bodegas butique têm preços mais salgados que os demais argentinos, o que pode fazer com que as 12 garrafas batam facilmente o teto estipulado pela lei.

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