domingo, 5 de agosto de 2012

Em Buenos Aires, uma ilha turística chamada Palermo





Parque em Palermo, Buenos Aires.
Foto: Bruno Agostini / O Globo
Parque em Palermo, Buenos Aires.

BUENOS AIRES - No início, eram só os jovens, interessado nos bares, nas lojas que se convencionou chamar de "descoladas" e nos programas típicos de adolescentes, ou dos recém-saídos dessa fase. Depois, chegaram viajantes, e portenhos, apaixonados pela comida, atraídos pela quantidade crescente de restaurantes, nos mais diversos perfis, que não param de abrir as portas. Mas, agora, Palermo é um bairro autossuficiente, turisticamente falando. Com a proliferação de hotéis, a liberação do Aeroparque para voos internacionais e a chegada de um ótimo time de lojas de ponta de estoque é possível não sair de Palermo pra nada.
Se o bairro já é há algum tempo uma referência nos quesitos vida noturna, gastronomia e compras de artigos, digamos, modernos, incluindo roupas, acessórios, objetos de decoração e itens de design, além de obras de arte, faltavam bons hotéis para um público de perfil mais exigente que jovens mochileiros. Já não mais. Aos poucos vão chegando ótimos hotéis, nunca muito grandes, movimento consolidado há cerca de três anos, com a inauguração do Nuss, que está na cara do gol: a uma quadra da Plaza Serrano (ou Cortázar), epicentro da vida boemia do bairro, vivida ao sabor de uma excelente seleção de restaurantes, bares descolados e lojas que funcionam até tarde nos fins de semana.
O traço mais marcante da hotelaria de Palermo é a união de dois conceitos de hospitalidade, que muitas vezes andam juntos: butique e design — os hotéis do bairro geralmente são pequenos, com cerca de 20 ou 30 quartos, ou menos ainda, e uma clara preocupação em serem diferentes, com decoração original, objetos modernos e, muitas vezes, seguindo temáticas. Hoje já são mais de 20 nesse estilo, e a quantidade não para de crescer. Muitos deles, quase todos, possuem bons — quando não excelentes — restaurantes. Como é o caso do Puro Baires; do Bo Bo Hotel & Restaurante; do Fierro Hotel, onde funciona a cozinha do chef Hernán Gipponi, e do Palermitano, onde se instalou uma filial do badalado peruano Sipán.
Quem quer carnes pode escolher a parrilla Don Julio (ou a Miranda, ou La Cabrera), enquanto os interessados em comida peruana encontram refúgio seguro no Osaka, que funde as tradições andinas do país com as nipônicas. O Olsen traz à mesa receitas nórdicas, e o Armenia já revela no nome a origem da cozinha, ao passo que o Sudestada passeia pela culinária asiática, como a vietnamita, especialidade do Green Bamboo. Para quitutes árabes, temos o Al Shark e, para os indianos, o Mumbai. Quando falamos de cozinha contemporânea, a lista de boas casas parece não ter fim: Casa Cruz, Crizia, Hernán Gipponi, Tegui, Bar Uriarte, entre muitos outros.
Mas brasileiro jamais viaja para o exterior sem pensar em fazer umas comprinhas. Aí, além da já tradicional oferta de lojas de roupas, objetos de design e galerias de arte, Palermo se converteu também na principal referência portenha quando o assunto são outlets. Se por um lado a inflação dos últimos quatro anos fez de Buenos Aires uma cidade bem mais cara (quase tudo dobrou de preço no período), as pontas de estoque ainda são uma ótima opção de compras, e começam a fazer grande sucesso com brasileiros mais atentos.
A maior parte dessas lojas está concentrada em Palermo, na parte mais alta do bairro, compreendida entre as avenidas Córdoba (que tem muitos desses endereços) e Scalabrini Ortiz, e as ruas Aguirre e Gurruchaga (também repleta dessas lojas), alcançando ainda algumas vias adjacentes. Esta área concentra diversas lojas, desde marcas internacionais, como Lacoste, Christian Lacroix e Puma, até algumas grifes argentinas, que merecem ser exploradas, principalmente por conta de artigos de couro, como casacos, sapatos, botas e bolsas. Também há ótimos livrarias em Palermo, como a Eterna Cadencia, e boas lojas de discos, DVDs e artigos de papelaria, que fazem imenso sucesso com os hermanos, e se convertem em ótimas lembrancinhas de viagem (até o ímãs de geladeira que encontramos ali são mais interessantes).
Com o voo diário entre o Rio e o Aeroparque pela Aerolineas Argentinas, saindo às 10h20m do Galeão e chegando em Buenos Aires às 13h40m, é possível passar uma temporada na cidade sem sair de Palermo nenhuma vez. Uma espécie de Santos Dumont portenho — na Costanera Norte, uma extensão de Palermo na parte baixa do bairro, às margens do Rio da Prata — o Aeroparque até algum tempo atrás só recebia voos domésticos. Hoje há diversos aviões em rotas internacionais, alguns deles com partida do Brasil. Tudo é mais simples que Ezeiza, desde a imigração e a chegada das malas à esteira até o drible no trânsito, que muitas vezes há no trajeto entre o aeroporto principal da capital argentina e a área central da cidade.
Palermo é um bairro imenso, uma espécie de mistura de Barra da Tijuca (pela extensão territorial) com Leblon (pela oferta de restaurantes), Santa Teresa (pela clima muitas vezes alternativo) e Aterro do Flamengo (pelas áreas verdes e o aeroporto perto deles). Tão grande que é subdividido em seis áreas. Palermo Soho é a zona nos arredores da Plaza Serrano, que oficialmente é chamada de Plazoleta Cortázar, epicentro do agitação do bairro, animado de segunda a segunda, à noite, e, nos fins de semana, a partir do começo da tarde, quando artistas exibem os seus trabalhos ali. Ao redor da praça há vários bares, que nos fins de semana se transformam numa espécie de Feira Hype portenha, com barraquinhas e araras cheias de peças disputadas por turistas e moradores estilosos.
Naturalmente, esse perfil se expandiu para outras partes do bairro, do outro lado da linha de trem que corta Palermo em dois. Cruzando a Avenida Juan B. Justo chega-se a Palermo Hollywood, depois de uma curta caminhada, que deve ser feita apenas durante o dia e com cuidado, porque, apesar de receber tantos turistas, há ruas pouco movimentadas, alvo de ladrões que agem de moto, em dupla, mesmo à luz do dia: o garupa salta e, sem usar arma, arranca os pertences do turista, principalmente câmeras, celulares e bolsas, e corre para o veículo, saindo em disparada. Por isso, andar sozinho e distraído, pode ser perigoso.
Na parte baixa do bairro estão os Parques de Palermo, conjunto de áreas verdes, como o Jardim Botânico, o Zoológico, o Jardim Japonês e o Parque Tres de Febrero, ótimos para caminhadas tranquilas, e sempre uma boa pedida para os quem viajam com crianças (além do zoo, ali está o planetário). Complementando o passeio, em Palermo encontramos o Malba, sempre uma visita imperdível, mesmo quando peças importantes, como "Abaporu", estão viajando emprestadas a outros museus. Cá entre nós, muita cidade grande por aí tem menos atrações que Palermo.

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