sexta-feira, 24 de setembro de 2010

PT vs. imprensa: opinião pública é a mais nova estatal?

Nós, eleitores, estamos acostumados a ver políticos fazendo suas promessas de campanha na forma afirmativa. “Farei” isso, “realizarei” aquilo, não se cansam de dizer. E na verdade eles pouco fazem daquilo prometido, quando fazem.

No último dia 21 de julho, entretanto, uma frase da candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff, dita durante uma entrevista dada à TV Brasil, chamou a atenção exatamente por ser uma promessa elaborada na forma negativa: “Eu nunca farei isso!”. O que Dilma com tanta ênfase prometeu não fazer, uma vez eleita, é censurar a imprensa.

Os eleitores ficam divididos. Não sabem se comemoram o fato de a candidata que lidera com folga as pesquisas de intenção de votos fazer questão de externar seu compromisso com a imprensa livre, ou se há motivo para preocupação com a necessidade de a eventual nova chefe de Estado do Brasil prometer não atentar contra a liberdade de imprensa depois que receber a faixa do presidente Lula, se assim for.


A segunda hipótese ganhou força depois que o próprio Lula, do alto do palanque de Dilma, disse em Campinas que “nós” não precisamos de opinião pública. “Nós somos a opinião pública”, afirmou o presidente, como quem diz: “A opinião pública sou eu”. Nas redações das principais praças do país, as críticas de Lula à imprensa soaram imediatamente como uma declaração de guerra da maior autoridade do Estado brasileiro aos meios de comunicação. Mais uma.


Cada vez que Lula se volta contra a imprensa em geral, a imprensa em geral bate na tecla da vontade manifesta de membros do PT de levar a cabo no Brasil um “controle público” dos meios de comunicação e instituir “sanções” aos “abusos” cometidos por jornais e jornalistas, e sobram editoriais recheados de palavras como “mordaça”, “censura” e “autoritarismo”.


Noticiário antiPT?


No mesmo palanque de Campinas, Lula disse ainda: “Tem dias em que alguns setores da imprensa são uma vergonha. Os donos de jornais deviam ter vergonha”. Referia-se ao suposto comportamento dos grandes jornais, revistas e emissoras nacionais em favor da candidatura de José Serra à presidência da República.


No esteio da fúria de seu líder, petistas falam mesmo em “mídia golpista” e “partido da mídia” para se referir à suposta tentativa dos grandes grupos de comunicação de levar Serra ao segundo turno das eleições. Nesta quinta-feira, 23, aconteceu na sede do Sindicatos dos Jornalistas de São Paulo um “ato contra o golpismo midiático” que reuniu centrais sindicais, sindicatos, partidos governistas e movimentos sociais. 


O convite para o ato dizia que a imprensa pretende “castrar o voto popular”, e mais:
“Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservador, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada. No comando estão grupos de comunicação que – pelo apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar – O Globo, Rede Globo,  já demonstraram seu desapreço pela democracia.”


O eleitorado petista parece respaldar essa visão de que o noticiário é deliberadamente antiPT, tendo em vista que Dilma vem oscilando pouco nas pesquisas, mesmo com a enxurrada de denúncias contra o partido ocupando espaço nas capas dos jornalões e dominando o tempo dos telejornais.


O próprio Serra, entretanto, teve o seu dia de Lula, por assim dizer, quando ameaçou abandonar uma entrevista na CNT porque a entrevistadora lhe fez uma pergunta sobre as pesquisas de intenção de votos – um assunto que, por motivos óbvios, não lhe interessa abordar. 


O fato é que bem aqui ao lado, na Argentina, Cristina Kirchner quer ver presos os donos dos jornais que mais pegam no seu pé, e na Venezuela… bem, na Venezuela já não há muitos veículos para pegar no pé do comandante do “socialismo do século XXI”.

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