segunda-feira, 4 de abril de 2011

Entre o passado mouro e a modernidade de Santiago Calatrava, uma Valencia surpreendente



Publicada em 01/04/2011 às 17h28m

Cidade das Artes e Ciências: projeto de Santiago Calatrava em Valencia pode lembrar tanto a metade de um esqueleto de baleia como um olho gigante / Foto: Stefano Buonamici / The New York Times

VALENCIA - Desde o início da década, Valencia, mais conhecida como a terra natal da paella, tem sido captada pelo radar de viajantes mais experientes. A partir de 2005, quando terminou a obra do museu futurista de Santiago Calatrava, a Cidade das Artes e das Ciências, bairros com sotaque mais mouro foram sendo ocupados por butiques e restaurantes e outras atrações noturnas. Uma nova linha de trem de alta velocidade (AVE) agora liga Valencia a Madri, a cerca de 300 quilômetros, e facilita uma visita a esta cidade à beira-mar, que oferece bem mais do que um famoso prato à base de arroz.


Festas para os olhos no Mercado Central e na Cidade das Artes
No Barrio del Carmen, que se estende em uma área de colinas, fica a parte mais antiga da cidade e o seu centro criativo, onde estudantes barbudos e urbanoides elegantes circulam por ruas grafitadas e cafés e galerias se espalham por praças medievais. O grande Mercado Central, recentemente, tornou-se um local de festas da alta moda, recebendo celebrações de grifes como Prada e Aston Martin, entre outros. Butiques estilosas estão instaladas na antiga Lonja de la Seda, prédio do fim do século XV onde o tecido era vendido. Duas das melhores, Bugalú e Madame Bugalú y Su Caniche Asesino, têm roupas e acessórios de designers de Espanha, França e Suíça, assim como marcas que fazem sucesso em vários países, como o macaquinho Paul Frank.
Mercado Central de Valencia, renovado e agora local de festas de grifes como Prada / Foto: Stefano Buonamici / The New York Times
Valencia é a terra natal da horchata, uma bebida feita de suco de chufas, um tubérculo muito cultivado nos arredores da cidade. A criação da horchata data do período de dominação islâmica na cidade, entre os séculos VIII e XIII. Você pode prová-la na Horchatería El Sigla, em Carmen. Peça um copo (2,20 euros) com café com leite (1,30 euro) e combine-o com outra especialidade valenciana: o farton (0,50 euro), um doce feito de massa com açúcar polvilhado.
O panorama de restaurantes de Valencia já foi desolador, mas agora está mudado por talentos criativos emergentes. Carosel, um lugar despretensioso, mas muito chique, que abriu em Carmen há um ano, tornou-se proeminente. O chef valenciano Jordi Morera serve a cozinha tradicional com algumas variações detectáveis, como um miniguisado de lula com alcachofras e amêndoas. O cardápio de preço fixo muda toda semana, mas sempre é uma bagatela de 22 euros.
No fim da noite, a ação converge para a Plaza del Tossal, em Carmen. Os moradores evitam as espalhafatosas armadilhas para turistas e dirigem-se ao Bar los Picapiedra, uma casa temática com decoração que imita a Idade da Pedra, em que estudantes, boêmios e outros clientes bebem grandes quantidades de sidra, derramadas de enormes jarras de vidro, que lembram um pouco regadores (7 euros), e ouvem rock espanhol alternativo.
Tuneis cercados por tubarões: uma das atrações do L'Oceanografo, em Valencia / Foto: Stefano Buonamici / The New York Times
No verão passado, Valencia adotou o Valenbisi, um sistema público de aluguel de bicicletas. Pegue uma perto da Torres de Serranos, uma das portas de acesso à cidade, e pedale sob uma série de pontes ao longo do Jardín del Turia, decorado com palmeiras, rumo à Cidade de Artes e Ciências. A fachada curva e ondulada lembra desde um esqueleto de baleia à metade superior de um olho gigante, completado pela sua imagem refletida no espelho d'água a sua frente. Mais ao sul, no complexo marinho L'Oceanografico, você pode se surpreender por túneis em tornos dos quais tubarões nadam.
Construído na maior parte na década de 1920, o bairro de Rusaffa tornou-se um centro de imigrantes muçulmanos, a partir da segunda metade do século passado. Esta influência ainda é dominante, com mercados de produtos do Oriente Médio e do Leste da Ásia e cafés espalhados pelas ruas. Se o Barrio del Carmen se tornou cada vez mais turístico, Rusaffa transformou-se num pouso alternativo para artistas e estudantes. Uma combinação de livraria, bar, área para performances, galeria e editora, a Slaughterhouse Books está onde antigamente funcionava um açougue, e ainda mantém os ganchos de carne como recordação de seu passado. Gnomo, uma butique de design, tem lâmpadas de teto feitas de garrafas de refrigerante recicladas e tubos de proveta com azeite e vinagre.
Slaughterhouse, em Valencia: antigo açougue agora abriga livraria, bar, área para performances, galeria e editora / Foto: Stefano Buonamici / The New York Times
O Maipi, um pequeno restaurante de tapas em Rusaffa, lota no início da tarde com executivos que aproveitam a hora da siestapara conversar e experimentar petiscos como alcachofras frescas e salsichas de morcela embaladas em massa fina ou bacalhau grelhado temperado com limão e azeite, tendo como pano de fundo uma decoração kitsch e objetos relacionados ao futebol. O almoço para dois costuma sair por volta de 40 euros.
Museu L'Almoina tem ruínas romanas sob piso de vidro
Para saber um pouco mais sobre a história de Valencia, é preciso voltar ao Barrio del Carmen. Lá, um dos melhores lugares a explorar é o Museu L'Almoina, que funciona há três anos no local onde a cidade foi fundada por romanos, em 138 a.C. Visitantes andam sobre pisos de vidro, olhando para baixo, para as impressionantes ruínas escavadas na área. Elas incluem vestígios de banhos romanos, de tumbas visigodas e de uma enfermaria medieval construída pelos mouros para as vítimas de pragas.
Balansiya: restaurante recria a experiência de uma refeição dos tempos em que Valencia estava sob o domínio dos mouros / Foto: Stefano Buonamici / The New York Times
O passado islâmico da cidade também é o foco de Balansiya, um restaurante insólito que recria a autêntica culinária da Valencia moura. A decoração árabe-andaluza é requintada, e o jantar a preço fixo inclui tabule, tarrine e cuscuz, além de especialidades menos conhecidas como assaffa (uma pasta andaluza que leva galinha, canela e nozes), waraka inab (folhas de uva recheadas com cereais e vinagrete com sabor de amêndoa e menta) e xarab andalusi (uma bebida feita de frutas, flores, molhos e ervas). O jantar fica entre 20 e 30 euros.
A animação nos clubes noturnos de Valencia só começa depois de 1h. Assim, dá tempo para ir ao Café Negrito para um drinque, depois do jantar. Um bom lugar para testemunhar a noite em estilo de alegre decadência da cidade é o MYA, um clube protegido sob uma passarela paisagística que dá acesso ao museu de ciência Principe Filipe. É o encontro do Studio 54 com a Espanha Imperial e a série "Jersey shore" da MTV.
O ambiente decadente e divertido não se restringe apenas às noitadas. Todos os domingos, ele é levado pelos donos de lojas de sucata e antiguidades para a Plaza de Luis Casanova. A praça é uma área gigante acomodada atrás do estádio de Mestalla (com 55 mil lugares, é o campo do Valencia Club de Fútbol), onde fica o fantástico e eclético mostruário de produtos locais, que são vendidos com grandes descontos.
Motociclista e carona no Cabanyal, em Valencia: prédios antigos podem ser derrubados, por isso, corra para ver / Foto: Stefano Buonamici / The New York Times
Ir a Valencia e não provar a paella que tornou famosa a cidade é risco de ser submetido a um inquérito policial na volta para casa. Assim, dirija-se para a melhor paisagem para saborear esta combinação de arroz com carne e frutos do mar: a beira do mar. Uma fila de restaurantes na praia de Valencia fez da paella sua especialidade. La Pepica é a mais conhecida (por boas razões), mas algumas portas adiante está uma escolha melhor ainda, L'Estimat. Na tarde de domingo, o lugar enche com uma multidão saída das igrejas, em busca da paella valenciana (feita com galinha e coelho). O prato, para dois, custa por volta de 70 euros.
Depois do almoço, explore mais esta área da cidade. Há uma iniciativa controversa para pôr abaixo muitos dos bonitos, mas decrépitos, edifícios construídos na virada do século XIX para o XX no bairro litorâneo de Cabanyal, o antigo quarteirão dos pescadores, e ligar a cidade à orla. O objetivo da medida é recuperar um distrito conhecido por crimes, mendicância e prostituição. Antes que seja muito tarde e que o bota-abaixo seja concretizado, passeie pelos murais coloridos de temas marítimos e decrépitas, mas elegantes, casas de veraneio em estilo art nouveau. Não dá para sair de lá sem a esperança de um dia voltar e encontrá-las ainda intactas.
SERVIÇO
COMO CHEGAR DE TREM: O novo trem de alta velocidade vai de Madri a Valencia em cerca de 90 minutos, uma melhora notável em relação ao tempo gasto anteriormente, de quase quatro horas. Os bilhetes de ida e volta custam a partir de 96 euros.
ONDE FICAR:
Hospes Palau de la Mar: Hotel de design construído em duas mansões geminadas do século XIX, combina grandes arcos, trabalhos detalhados em madeira e escadarias de mármore. Tem 66 quartos no estilo minimalista em tons de branco e castanho, com camas com colchas de algodão egípcio e televisões de tela de plasma. Diárias de quartos duplos a partir de 115 euros, se você fizer a reserva com no mínimo 15 dias de antecedência. Navarro Reverter 14. Tel. 34 (96) 316-2884. www.hospes.es
Petit Palace Germanias: Também em um edifício do século XIX, este hotel butique confortável tem 41 quartos na movimentada Russafa. Diárias a partir de 65 euros. Sueca 14. Tel. 34 (96) 351-3638. www.petitpalacehotelgermanias.com
PASSEIOS:
Valenbisi: Aluguel de bicicletas por 10. www.valenbisi.es
Cidade de Artes e Ciências: O ingresso custa 24,50; o passe de três dias para toda a Cidade das Artes e Ciências sai a 32,40. Av. Autopista del Saler. Tel. (34 90) 210-0031. www.cac.es
Museu L'Almoina: Ingresso: 2 durante a semana; grátis aos sábados e domingos. Plaza de Décimo Junio Bruto.Tel. (34 96) 208-4173. www.valencia.es/almoina
ONDE COMER:
Carosel: Taula de Canvis 6. Tel. (34 96) 1132-873.
Maipi: Maestro José Serrano 1. Tel. (34 96) 373-5709).
Balansiya: Paseo de las Facultades 3. Tel. (34 96) 389-0824. www.balansiya.com
La Pepica: Paseo de Neptuno 6. Tel. (34 96) 371-0366. www.lapepica.com
L'Estimat: Paseo de Neptuno 16. Tel. (34 96) 371-1018. www.restaurantelestimat.com
BARES E CASAS NOTURNAS:
Horchatería El Siglo: Plaza de Santa Catalina 11. Tel. (34 96) 391-8466.
Bar de los Picapiedra: Caballeros 25. www.bar-lospicapiedra.com
Café Negrito: Plaza Negrito 1. Tel. (34 96) 391-4233.
MYA: A entrada e o primeiro coquetel saem a 15. Av. del Saler 5, Cidade de Artes e Ciências. Tel. (34 96) 331-9745. www.umbracleterraza.com
COMPRAS:
Bugalú: Calle de la Lonja 6.Tel. (34 96) 391-8449.
Madame Bugalú y Su Caniche Asesino: Danzas 3. Tel. (34 96) 315-4476. www.madamebugalu.es
Slaughterhouse Books: Denia 22. Tel. (34 96) 328-7755. www.slaughterhouse.es
Gnomo: Denia 12. Tel. (34 96) 373-7267. www.elblogdegnomo.blogspot.com

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