quinta-feira, 3 de maio de 2012

Devagar se vai a Monti, bairro que inspirou Woody Allen em Roma


A Via di Santa Maria Maggiore, que leva à igreja de mesmo nome, em Monti, bairro da moda em RomaBRUNO AGOSTINI / O GLOBO
Diz o ditado que "Roma não foi feita em um só dia". Mas muitos dos turistas que visitam a cidade parecem não saber disso, e a impressão que se tem é que os grupos numerosos de visitantes que circulam pela capital italiana querem visitar todos os monumentos em menos de 24 horas. Uma pena, porque boa parte das maiores delícias da Cidade Eterna exigem tempo. É fazer um passeio tranquilo pelas ladeiras animadas de Monti, bairro "da moda", emergente entre os turistas que preferem fugir dos programas óbvios e dos preços inflacionados e que anda em alta entre os mais jovens, que bebem cervejas artesanais e fazem compras em lojas moderninhas. Ou gastar mais de três horas jantando no Pipero al Rex, um dos melhores restaurantes da Itália, debruçado entre o receituário clássico e as técnicas contemporâneas, com pitadas de estrangeirismos. É se acomodar no balcão da Roscioli e explorar calmamente o admirável repertório de comes e bebes da casa. Ou ficar examinando as enotecas da cidade em busca de vinhos raros e especiais, de pequenos produtores.
Para saborear os pontos altos de Monti
Deslocado do principal eixo turístico de Roma, mas a poucos passos de ícones como o Coliseu, o bairro de Monti revela aspectos diferentes da capital italiana, mas tão belos, pitorescos e saborosos quanto os mais clássicos elementos da Cidade Eterna. Tanto assim que esta região foi uma das locações escolhidas por Woody Allen para gravar cenas do seu novo filme, "Para Roma com amor", que estreia no Brasil em junho, juntando quatro histórias passadas na cidade, e seus personagens. Ele filmou em cenários como a pequena Via dei Neofiti, uma pequena e charmosa rua na parte baixa do bairro, e na Piazza della Madonna dei Monti, recanto aprazível e animado, que tem uma das esquinas ocupada por um simpático bar, La bottega del Caffè, que serve ótimos espressos, vinhos em taças e comidinhas gostosas, num espaço agradável e com serviço simpático, frequentado por italianos e estudantes, em sua maioria.
Além da boa oferta de endereços assim, Monti vem sendo cada vez mais procurado por turistas devido à boa oferta de hospedagem, entre hotéis mais econômicos, como a Casa Sant'Ana (diárias a partir de 40 euros, por pessoa, com café da manhã) e apartamentos para alugar (há estúdios lindos, com varandinhas e terraços, com preços a partir de 100 euros).
Na Roma de hoje, Monti é o bairro da moda e da badalação, reunindo moradores da capital italiana, incluindo uma grande comunidade de imigrantes, e turistas mais jovens — desses que vão atrás de lojinhas de design, restaurantes de perfil mais moderno e bares para se beber cerveja e vinho em ambientes nada formais, com preços mais camaradas que em outros lugares mais frequentados pelos visitantes estrangeiros.
Monti é ponto de chegada e partida de muitos turistas, já que o bairro está ali nas cercanias da estação de trem Termini — que leva e traz os visitantes de Fiumicino, onde chegam os voos do Brasil. Esse pode ser um ótimo passeio vespertino antes de embarcar de volta para o Brasil, nos voos noturnos da Alitalia, antes de pegar o Leonardo Express, que faz a viagem até lá sem paradas até o aeroporto. Mas o melhor mesmo é dedicar mais tempo ao bairro, para degustá-lo com a calma que merece.
Nesta área emergente entre os chamados "descolados", todos os caminhos levam à ampla Via Cavour, rua principal do bairro, onde podemos beber cervejas artesanais, deliciosas como grandes vinhos, e comprar produtos alimentícios asiáticos ao lado de alguns "romanos" de olhinhos puxados.
Que os italianos fazem vinhos extraordinários todos sabemos, mas que as cervejas produzidas ali também podem ser espetaculares, isso poucos têm conhecimento. Claro que não estamos falando de Peroni e Birra Moretti, mas sim de pequenos produtores, cujas garrafas podem ser encontradas abundantemente no número 88 da Via Cavour, onde funciona a Malt & Hop Shop, que acaba de completar dois anos de vida, um espaço dedicado àbirra artigianale, com ênfase na Itália, mas aberta a alguns (ótimos) rótulos estrangeiros. Nas prateleiras encontramos nomes como Baladin, marca de cervejas italianas que já virou um mito internacional, com uma incrível quantidade de rótulos diferentes, como Zucca, Elixir e Xyauiù, deliciosos, de fazer enófilo esquecer do vinho para se dedicar às louras, ruivas e morenas. O autor dessas maravilhas engarrafadas é Teo Musso uma celebridade entre os cervejeiros de plantão, um ícone. Os mais empolgados podem comprar leveduras, cevada, trigo e outros itens para fazer a sua própria cerveja em casa
Ali na Via Cavour e adjacências encontramos lojinhas cheias de charme, com decoração e produtos modernos e coloridos, em contraponto à arquitetura antiga, com fachadas ocres e desbotadas, que caracteriza cidade. Sempre com preços mais em conta. Sempre mais frequentados por italianos do que estrangeiros.
Outra rua fundamental para apreciar Monti é a Via Urbana, um tanto linda e escondidinha, ladeada por prédios típicos de Roma, com cinco andares, paredes ocres e desbotadas, vez ou outra enfeitadas com heras vistosas. Nesta artéria paralela à Via Cavour, numa depressão do terreno acidentado do bairro, encontramos um dos segredos mais bem guardados daquelas redondezas, a Tricolore Monti, onde podemos comer panini gloriosos, além de outros sanduíches fantásticos, de perfil criativo, como o pão com tinta de lula recheado de linguiça de atum e um toque de pimenta (12 euros) e também o pão de batata com flor de sal e azeite servido com polvo mediterrâneo (10 euros). Tem até sanduíche de foie gras com maçã! Além de uma comida deliciosa, no lugar acontecem aulas de cozinha. Imperdível. Absolutamente.
Não muito longe dali, na mesma bela Via Urbana, encontramos a Hosteria La Vaca m' Briaca, que funciona em um prédio de tijolinhos aparentes. A comida é ótima, e os preços chegam a fazer cosquinha de tão baixos. Que tal flor de abobrinha frita com alice, por 3 euros; mariscos salteados ao vinhos, por 6 euros; nhoque aos quatro queijos, por 6,50 euros; almôndegas ao molho de tomate com feijão branco, por 7 euros; saltimbocca alla romana, por 8 euros; e bisteca com batatas, por 11 euros, considerando ainda que nem couvert nem serviço são cobrados? E aí, que tal?
Para o público interessado em fazer um roteiro bastante fashion e moderno, a Via dei Boschetto é um eixo fundamental do passeio por Monti. Há várias lojas de roupas, objetos de decoração e design daquelas que podem distrair alguém por muitos e muitos minutos. Por ali também existem galerias de arte e ateliês, e pode ser difícil sair de lá sem algumas comprinhas.
Na parte mais alta de Monti, já bem próximo da Stazioni Termini, na Via Principe Amedeo, encontramos o agradabilíssimo misto de restaurante e bar de vinhos Tomoko Tudini, com piso de madeira, amplas paredes envidraçadas, luminárias modernas de metal e muitos quadros negros escritos com giz colorido e letras bonitas apresentando as comidas e as bebidas (muitos bons, por sinal). O salão é uma graça, mas as mesas do lado de fora protegidas por ombrelones brancos são irresistíveis para se gastar algum tempo entre taças de vinhos italianos e os pratos servidos ali, com destaque para a churrasqueira que grelha vistosas carnes (como o abbacchio, um cordeiro jovem, típico de Roma). As pizzas, assadas no forno a legna também merecem atenção. São lindas, saborosas e delicadas.
Mas nesta vizinhança também existem as trattorias e as osterias seguindo a linhagem mais tradicionalista. Entre esses endereços clássicos romanos está a Trattoria Monti, localizada no número 13 da pequenina Via San Vito, bem próxima à igreja de Santa Maria Maggiore um dos símbolos do bairro.
Quem me deu a dica do lugar foi Alessandro Roscioli, dono da emblemática padaria, pizzaria, restaurante e delicatessen que leva o sobrenome da família, um dos endereços gastronômicos mais famosos e imperdíveis de Roma.
— É um lugar onde comemos maravilhosamente bem gastando pouco. É pequeno e os próprios donos, os irmãos Enrico e Daniele Camerucci, cuidam do atendimento, enquanto a mãe, Franca, fica na cozinha, preparando pratos típicos da região de Marche. É um espetáculo, um restaurante que vale a pena ser visitado mesmo por quem não está Monti. É mais que uma razão para visitar o bairro. Não conheço uma pessoa que tenha comido lá sem se encantar — indica Alessandro.
As massas de Franca estão entre especialidades da casa, como um famoso ravióli com gema de ovo mole, capaz de fazer chorar de emoção, além de carnes assadas lentamente e receitas com coelho. Só não deixe de reservar uma mesa.
ONDE FICAR
Casa Sant’Ana: Diárias a partir de 60 (casal). Piazza Madonna dei Monti 3.Tel. (39) 06-485-778. casasantanna.it
Hotel Rex: Diárias para casal a partir de 242. Via Torino 149. Tel. (39) 06-482-4828. hotelrex.net
Monti Guest House: Diárias a partir de 60 (casal). Via dei Ciancaleoni 1. Tel. (39) 06-487-0089. montihouse.com
ONDE COMER
Hosteria La Vaca m’ Briaca: Via Urbana 29. Tel. (39) 06-9970-9945.
Salumeria Roscioli: Via dei Giubbonari 21. Tel. (39) 06 687-5287.salumeriaroscioli.com
Tomoko Tudini: Via Principe Amedeo 27. Tel. (39) 06-481-7586.tomokotudini.com
Trattoria Monti: Via di San Vito 13. Tel. (39) 06-446-6573.
Tricolore: Via Urbana 126. Tel. (39) 06-8897-6898. tricoloremonti.it

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