Madero Este, em Puerto Madero, tem arte, verde e restaurantes para serem explorados numa visita a Buenos Aires

Dez anos após seu nascimento como bairro comercial e residencial, Puerto Madero se transformou numa espécie de Manhattan argentina, onde moram cerca de 11 mil pessoas, e cada vez mais turistas, estrangeiros e do próprio país, encontram um ambiente sofisticado em espaços amplos e seguros, uma combinação que somente este cantinho da capital argentina pode oferecer. Caminhar pelas ruas de Puerto Madero é um dos passeios mais agradáveis e tranquilos numa visita a Buenos Aires. São 30 quarteirões na margem do Rio da Prata, onde podem ser encontrados vários e restaurantes bons e diferentes, uma coleção de arte única, monumentos históricos, lojas de decoração, cinemas, um jardim botânico e um parque. E, em breve, um shopping center. Nos últimos anos, o bairro cresceu de forma expressiva e hoje uma de suas principais atrações, ainda pouco conhecida entre os brasileiros, é a região de Madero Este, do outro lado do canal que divide o bairro.

Parque de Madero Este é um dos maiores de Buenos Aires

O marco arquitetônico que une os dois lados de Madero é a Ponte da Mulher, uma passagem de 102 metros de extensão, com uma gigantesca ponta branca que se ergue para o céu, com cabos ligando a parte da obra que pode girar em até 90 graus para permitir a passagem de embarcações. Basta atravessá-la para conhecer a nova face do bairro, em Madero Este.

- Madero Este é um bairro muito relaxado, fresco, as ruas são amplas e não temos o problema do trânsito - avalia a jornalista Vanesa Leibas, que mora desde 2002 em Puerto Madero e dirige o jornal Nuevo Madero, o único do bairro. - é o mais seguro da capital e cada vez mais pessoas decidem morar nele - diz a jornalista, que mudou-se para a região quanto o metro quadrado custava em torno de US$ 1.200 (hoje, não baixa de US$ 3.500, e nos prédios mais luxuosos pode chegar a US$ 5.000).

Um passeio por Madero Este pode começar pela Coleção de Arte Amalia Lacroze de Fortabat, o principal museu de Puerto Madero. Criado por Amalia Fortabat, uma das mulheres mais ricas da Argentina, o prédio está no Dique 4, numa de suas extremidades. O museu tem 6 mil metros quadrados e três andares. Seu projeto é do arquiteto uruguaio Rafael Viñoly, dono de um dos estúdios de arquitetura mais importantes dos Estados Unidos, com sede em Nova York. O teto se abre e fecha de acordo com a posição do Sol: quando ele ilumina o prédio por trás, a cobertura fica aberta. Quando a luz solar atinge a parte dianteira do museu, ele se fecha, para proteger as obras de arte.

O truque quase chama tanta atenção quanto o acervo, que é respeitável. Inclui trabalhos de grandes artistas argentinos do século XIX, como Prilidiano Pueyrredón, um dos primeiros a retratar a vida dos pampas argentinos (e que chegou a viver três anos no Rio de Janeiro), e do século XX, e Antonio Berni, um irrequieto criador influenciado pelo surrealismo e o dadaísmo, que fez marcantes obras de cunho político. E Emilio Pettoruti, cujas figuras influenciadas pelo cubismo fizeram escândalo em... 1924, quando o gênero já não assustava ninguém mais na Europa e Picasso já havia inclusive voltado a experimentar a pintura figurativa.

A coleção não se restringe apenas à arte argentina. Na parte internacional, há o "Censo de Belém", de Peter Brueghel, o moço, mestre flamenco do século XVI, e "Julieta e sua ama", pintura de 1836 inspirada na peça mais famosa de Shakespeare, em que o inglês Joseph Mallord William Turner aproveitou para fazer, na verdade, uma paisagem de Veneza. A obra foi severamente criticada em uma revista londrina, logo que foi exibida pela primeira vez - e quem defendeu Turner foi um jovem de 17 anos chamado John Ruskin, na primeira intervenção daquele que viria a ser o maior admirador do artista, além de um dos críticos mais influentes do século XIX e autor de um clássico da literatura de viagens e das artes, chamado, por coincidência, "As pedras de Veneza".

O Fortabat também exibe o "Buquê de primavera", obra de 1967 do russo Marc Chagall, um retrato de Amalita, como é chamada a dona da coleção pelos argentinos, feita pelo pop norte-americano Andy Warhol, e obras do surrealista Salvador Dalí. O acervo completo do Fortabat tem 230 trabalhos.

Descendo em direção ao Dique 3, admira-se um monumento ao Ayrton Senna argentino: Juan Manuel Fangio, único piloto da História da Fórmula I a ganhar o campeonato em quatro escuderias diferentes, homenageado em uma estátua. Ela fica no Parque Mulheres Argentinas. É um dos maiores da cidade, com 53.700 metros quadrados. E não é o único espaço verde em Madero Este. Também há a Reserva Ecológica, muito visitada pelos portenhos, sobretudo pelos que gostam de correr nos fins de semana.

A reserva foi criada em 1986, nos antigos terrenos da chamada Costanera Sur, e hoje é um dos passeios mais procurados da região (também são oferecidas visitas guiadas). Tem flora e fauna típicos do litoral do Rio da Prata, com 245 tipos de vegetais diferentes, 250 espécies de aves e 23 répteis. Ainda vivem nela nove espécies de anfíbios, dez de mamíferos e 50 tipos de borboletas típicas.

Se a reserva é para correr, o Parque Mulheres Argentinas é ideal para andar de bicicleta, patins, passear com bebês e um piquenique. Ele está rodeado dos famosos arranha-céus de Madero Este, entre eles o Chateau, um dos mais luxuosos do bairro, e a Torre Renoir, que está em construção e, com 52 andares, será o prédio mais alto do país. A poucos quarteirões dali, está sendo construído o hotel Alvear de Puerto Madero, com apartamentos residenciais que custarão em média, US$ 8 mil por metro quadrado. Será um dos mais luxuosos da cidade, com spa, restaurante, um deles no último andar com vista panorâmica da cidade, além de 32 andares, 146 quartos e 50 residências privadas. Sua inauguração está prevista para 2013, e o investimento será de US$ 50 milhões.

Nos primeiros anos de existência do bairro, a maioria dos investidores comprava imóveis em Puerto Madero para vendê-los uma vez terminada a obra. Hoje, cada vez mais argentinos e estrangeiros decidem morar no bairro atraídos por sua beleza e, sobretudo, tranquilidade.

As ruas de Puerto Madero são protegidas por oficiais da Prefectura Nacional (polícia marítima) e a grande vantagem desta região de Buenos Aires é que no momento em que é denunciado um roubo ou qualquer outro tipo de delito, as autoridades bloqueiam a passagem nas pontes, e os ladrões ficam presos em Madero Este, sem ter por onde sair. 

Todas as mulheres do porto

Madero é um porto com muitas mulheres - elas são lembradas na ponte feita por Santiago Calatrava, em seu parque, e nos nomes das ruas. Não é por acaso: a homenagem a mulheres importantes da História da América Latina foi um dos objetivos da a maior revolução urbanística no país desde o início do século XX. O projeto de renovação da área portuária foi comandado pela Corporação Antigo Puerto Madero S.A, formada por integrantes dos governos federal e da capital.

O primeiro convênio foi assinado em 1989, quando a corporação assumiu os 170 hectares do bairro e firmou um acordo com a Sociedade Central de Arquitetos e a Municipalidade de Buenos Aires para organizar um concurso de ideias para Puerto Madero.

Foram apresentados 96 projetos. Em fevereiro de 1992, os jurados anunciaram a vitória de três equipes, que passaram a integrar um único grupo encarregado de elaborar um plano de ação, entregue em 1992. Desde aquele ano, todas as construções - mesmo a de nomes como Norman Foster e Phillipe Starck - são obrigadas a respeitar as diretrizes estabelecidas no projeto, especialmente as das alturas dos prédios.

Além das carnes, há opções de massas e um novo chinês

Em Madero Este, a avenida principal é a Juana Manso, onde está localizado, por exemplo, o Hotel Faena (a entrada principal fica na Martha Salotti 445), um ícone de Puerto Madero. Seu criador, o excêntrico empresário argentino Alan Faena, que chama a atenção pelas botas e chapéus de cowboy que gosta de usar, é considerado o fundador do bairro. Segundo Faena, o segredo de seu sucesso foi ter dado valor ao bairro.

Depois de tanto ver, e tanto andar, deu fome? Continue em Madero Este. Dá para fazer isso e sair do lugar onde você foi comer com compras na mão, se você escolher o I Fresh Market ou o I Central Market, ideal para um jantar com vista ao rio. Ambos são uma união de restaurante e bazar, que vendem artigos de decoração, bolsas, brincos e outros enfeites.

Para quem já conhece bem os restaurantes especializados em carne, é hora de se familiarizar com a herança italiana de Buenos Aires no La Percanta, um pequeno estabelecimento que serve pizzas artesanais. O Sí Sí Sí, uma das boas novidades da região, vai fechar temporariamente no sábado - para reabrir no dia 15 de fevereiro, com um cardápio renovado. Quem não puder esperar, experimente o Carletto, italiano com uma bela vista da Ponte da Mulher.

Do outro lado da ponte, de volta à avenida Alicia Moreau de Justo, estão as clássicas casas especializadas em carnes. As mais badaladas são Cabaña Las Lilas, Cabaña Villegas e Rodizio. Também nela, há a La Parolaccia, tratoria de uma rede portenha cuja característica é a fabricação artesanal de suas massas.

O Marcelo, outro italiano, é o resultado da aliança de dois chefs, Marcelo Piegari e Adolfo Astigarraga. Foi escolhido em 2008 o restaurante do ano no prêmio Tendencias Gastronómicas, um dos mais importantes da gastronomia argentina. Também na Alicia Moreau de Justo, um dos estabelecimentos mais recentes é o Royal China, com um cardápio sofisticado de comida cantonesa, pouco apimentada e especializada em frutos do mar: a lagosta pode ser servida em seis opções diferentes.

Para hospedar-se, há opções além do Faena. O Hilton foi um dos primeiros e é o maior hotel da região. É muito procurado por organizadores de grandes convenções, como a assembleia anual da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), e um conhecido de quem acompanha a ascensão do cinema argentino no nosso mercado desde o início do século: foi a principal locação de "Nove Rainhas", filme de 2000 com Ricardo Darín.

O Hilton está fazendo dez anos de existência - é uma antiguidade, para os padrões de Madero. Ganhará novos e gigantescos vizinhos em breve: no Dique 1, está sendo construído o primeiro shopping do bairro, o Madero Harbour, que abrirá suas portas em meados deste ano. Ele vai fazer parte de um complexo maior, com hotéis, escritórios e supermercados. Madero Harbour vai ter 120 lojas em dois andares, cinco cinemas, 3 mil lugares no estacionamento, superfície de 100 mil m. Investimento de US$ 75 milhões - um convite a uma longa jornada de compras. O dique também terá um grande supermercado e prédios de construções mistas, com residências e escritórios comerciais.Os diques são herança do antigo porto portenho, construído em 1880. Abandonado durante várias décadas do século passado, ele chegou a sofrer uma invasão de ratazanas antes de ser revitalizado. Longe desse passado sombrio, hoje o bairro é Patrimônio Nacional e, como a Manhattan original, está em constante renovação.

Onde ficar:

Hotel Faena: O hotel conta com dois restaurantes: o El Mercado, com comida preparada no forno de barro, e o El Bistrô, de gastronomia mais sofisticada e cristais baccarat na decoração. Tem spa e piscina ao ar livre, o Library Lounge, um living com pequenos shows, adega com mais de 400 rótulos e o El Cabaret, para shows. Diárias a partir de US$ 560 (mais 21% de IVA). Martha Salotti 445. Tel. (11) 4010-9000. www.faenahotelanduniverse.com

Hilton: Além do restaurante El Faro, o cenário de "Nove Rainhas" tem o Mosto, bar de vinhos, e o Panadero, pâtisserie. Diárias a partir de US$ 180. Av. Macacha Guemes 351. Tel. (11) 5274-0516. Reservas no Rio de Janeiro: (21) 4062-7327. www1.hilton.com

Hotel Madero: Tem dois bares, um restaurante, spa e lounge. Diárias a partir de US$ 199 (preços para a segunda quinzena de fevereiro). Rosario Vera Peñaloza 360. Tel. (11) 5776-7777.www.hotelmadero.com

Passeios

Coleção Amalia Lacroze de Fortabat: Aberto de terça-feira a domingo, das 12h às 21h (Ingresso até as 20h). Tarifa: 15 pesos (R$ 6). Olga Cossettini 141. Tel. (11) 4310-6600.www.coleccionfortabat.org.ar

Reserva ecológica: Costanera Sur. Visitas guiadas gratuitas durante o dia são feitas pelos funcionários dos parques, sem necessidade de inscrição prévia, aos sábados, domingos e feriados, às 10h30m e 15h30m.

Onde comer:

I Fresh Market: Uma refeição rápida para duas pessoas fica em média em 60 pesos (R$ 25). Funciona das 8h às 0h, todos os dias. Azucena Villaflor, esquina com Olga Cossettini. Tel. (11) 5775-0335. www.icentralmarket.com.ar

I Central Market: Um jantar para dois sai em torno de 300 pesos (R$ 127). Também aberto de 8h às 0h. Piemina Dealessi, esquina com Macaya Guernes. Tel. (11) 5775-0330.www.icentralmarket.com.ar

Sí Sí Sí: Aimé Painé 1320, esquina com Azucena Villa Flor. Depois de um período fechado, entre o dia 15 de janeiro e 15 de fevereiro, ele volta a abrir as portas, com cardápio renovado. Segunda-feira, de 10h às 19h. De terça-feira a domingo, até o último cliente. Tel. (11) 5353-3321.

La Percanta: Pizzas artesanais, massas, carnes, empanadas, café da manhã. Refeições variam, em média, entre 50 pesos (R$ 20) e 70 pesos (R$ 30). Aimé Painé 1607, esquina com Encarnación Ezcurra. Tel. (11) 5787-1416. www.lapercanta.com.ar

Carletto: Restaurante e cafeteria, com shows de música aos domingos. O menu executivo, com entrada, prato principal e bebida, sai a 72 pesos (R$ 30). Com sobremesa, 84 pesos (R$ 36). Olga Cossettini 791. Tel. (11) 4515-0707. www.carlettoweb.com.ar

Cabaña Las Lilas: Avenida Alicia Moreau de Justo 550, segundo andar. Preços dos pratos principais entre 40 pesos (R$ 16) e 120 pesos (R$ 50). Tel. (11) 4315-1010. www.laslilas.com

Cabaña Villegas: Av. Alicia Moreau de Justo 1050. O restaurante oferece no verão dois menus promocionais: o Trapiche, a 98 pesos (R$ 41) e o Villegas Alamos, a 120 pesos (R$ 50) - ambos com entrada, massa, carne, sobremesa e bebidas.Tel. (11) 4343-0108. www.villegasresto.com.ar

Rodizio: Aos domingos, o menu tradicional, incluindo sobremesa, café e água, tem preço promocional de 110 pesos (R$ 46). Av. Alicia Moreau de Justo 838. Tel. (11) 4334-3638.www.rodizio.com.ar

La Parolaccia: Aberto todos os dias, para almoço e jantar. Av. Alicia Moreau de Justo 1052. Tel. 4343-1679. www.laparolaccia.com

Marcelo Piegari: Aberto todos os dias, de 12h às 16h, e das 20h até o último cliente. Preços entre 85 pesos (R$ 36) e 100 pesos (R$ 42). Av. Alicia Moreau de Justo 1140. Tel. 4342-8243.www.marcelorestaurante.com.ar

Royal China: Menus executivos a 80 pesos (R$ 34). Uma das especialidades da casa é o pato ao forno no estilo Shi Jon a 180 pesos (R$ 76). Aberto todos os dias, das 12h às 18h, e das 20h à 0h. Av. Alicia Moreau de Justo 1808. Tel. (11) 4313-8121

Mais informações:www.puertomadero.com