sábado, 1 de outubro de 2011

San Francisco



Café du Nord, em São Francisco: em prédio de 1907, o bar aconhegante permite conversar diretamente com os músicos/ Foto de Fernanda Dutra


SÃO FRANCISCO - Lá nos idos de 2009, o cantor que deu novo fôlego à soul music Mayer Hawthorne lotou em plena segunda-feira a casa de shows Rickshaw Stop, em São Francisco, e gerou filas de cruzar o quarteirão. Fazendo as vezes de capital cultural da Califórnia, São Francisco tem deixado para trás a herança hippie e servido de palco para novos artistas, com bares de música ao vivo aconchegantes em que é possível ver de perto estrelas em ascensão ou ídolos já consagrados. Confira um roteiro com alguns desses lugares.


Riquixás na noite: o Rickshaw Stop, em São Francisco, tem shows de banda hype/ Foto de divulgação
Só consegui ver Mayer Hawthorne este ano, em show no Circo Voador. Mas tive mais sorte em outras noites no Rickshaw Stop ( rickshawstop.com ), onde fui conferir uma banda no burburinho, os californianos de San Diego do Wavves. Há shows quase todos os dias da semana e a programação é feita para quem quer degustar música nova: em geral, são três grupos por noite, tocando pouco mais de uma hora. É bom comprar ingressos antes, já que é bem provável que alguns dos nomes estranhos seja um novo hype por lá. Por um aplicativo de iPhone, é possível checar a programação, conhecer os artistas e comprar as entradas. Além disso, dá para acender um isqueiro digital em homenagem às melhores bandas. Ah, o nome do bar faz referência à coleção de riquixás que ocupa o salão. A decoração kitsch ainda tem cortinas vermelhas no palco e pisca-pisca.
Uma noite mais low-profile pede o Café du Nord, que tem uma área reservada para jantar e opções de frutos do mar e sanduíches. Ocupando um antigo bar construído em 1907, época da Lei Seca, a casa faz jus à tradição ressaltada pelo balcão de madeira talhada. São mais de 20 opções de chope, além de uma boa carta de drinques.
Os shows não são um detalhe. Fui às cegas e tive boas surpresas: em uma noite dedicada a cantores folk, conheci o iniciante Cataldo e ouvi a folk Laura Veirs, que já tem sete álbuns na carreira. Iniciantes e experientes, os artistas que tocam no Café du Nord ficam no salão depois dos shows, vendo as outras atrações ou vendendo camisetas, CDs, discos e conversando sobre música com quem puxa papo. No universo dos megashows, em que os músicos só são vistos pelo telão, faz toda diferença ter um lugar para conversar com os artistas. Acima do Café du Nord, fica o Swedish Music Hall. Com um salão maior, tem shows de música clássica contemporânea e shows de rock de bandas maiores.
Em uma região perto de universidades e cheia de bares, South of Market, o The Bottom of the Hill ( bottomofthehill.com ) oferece um ambiente despretensioso e divertido. Vi uma turnê de jovens britânicos menores de idade em sua primeira viagem aos Estados Unidos. Com shows quase todos os dias da semana, o Bottom traz bandas jovens, cheias de vontade de fazer o público pular. Claro que você pode só ficar sentado num banquinho, mas eu duvido que consiga.
Clássicos com programação democrática e festivais
Com uma história boêmia, São Francisco tem casas de shows mais antigas que muitos pontos turísticos. É o caso de The Fillmore ( thefillmore.com ), construído em 1910 para abrigar bailes e que, na década de 50, revelou nomes de jazz, blues e soul. Um exemplo de como os gêneros marcaram a região: a três quadras do Fillmore foi fundada, em 1971, a Igreja Africana Ortodoxa do santo John Coltrane, que realiza cultos ao som do saxofonista.
Atualmente sob a administração da megaprodutora de shows Live Nation, a casa tem uma curadoria mais eclética e abre espaço a bandas moderninhas. Mas de quando em quando há clássicos tocando ali.
The Warfield, em São Francisco: o nome não faz jus à confortável arena, onde é fácil ver de pertinho os artistas/ Foto de Fernanda Dutra
Não perdi a chance de ver um dos grandes nomes do soul, Al Green, em outro palco tradicional de São Francisco. The Warfield ( thewarfieldtheatre.com ) fica em uma área central, perto da Union Square. É onde tocam os nomes mais famosos que vêm à cidade. Mas o Warfield, com estrutura de teatro e capacidade para duas mil pessoas, não é tão grande. É fácil chegar no gargarejo e foi lá que Al Green estendeu a mão e me deu uma rosa. O tipo de coisa impossível de se omitir ao lembrar do show.
Mais novo, o The Independent (theindependentsf.com ) tem estrutura modesta, compensada pela ótima programação. Pense em um artista em atividade da década de 90 para frente: já tocou lá (no site há uma lista enorme para fazer o tira-teima).
Mas se você vai para São Francisco em busca dos grandes festivais, também uma tradição local, não se preocupe. Eles estão mais vivos do que nunca. Em meados de outubro deste ano, uma boa opção é o Treasure Island Music Festival ( treasureislandfestival. com/2011 ). Ocupando a insólita ilha homônima que tem mais prédios navais do que moradores, o evento traz nomes em alta como Beach House, St. Vincent, Friendly Fires e Warpaint (que toca aqui no dia 7 de outubro, no Circo Voador).

Fernanda Dutra (fernanda.dutra@oglobo.com.br)

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