segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Comer, rezar, amar’, o filme, leve, com diversas leituras


Feriado de 15 de Novembro, final de tarde, uma seção de cinema, pipoca e refrigerante. A escolha do filme é fundamental para encerrar o ciclo de repouso. 


Minha escolha foi por   Comer, rezar e amar . A história autobiográfica fala sobre Liz que, apesar do sucesso profissional e pessoal, sente-se vazia. Para se preencher, a escritora decide reencontrar os seus prazeres perdidos, como o gosto pela boa comida. Ou o conforto de uma religião, principalmente uma exótica para os ocidentais. Por isso, ela escolhe visitar a Itália e Índia, respectivamente. A Indonésia é escolhida para que Liz possa se reencontrar com um guru, que tinha previsto que ela voltaria. Mas lá ela encontra o terceiro caminho desse tripé, ao conhecer Felipe (brasileiro). Javier Bardem até se arrisca em algumas palavras e expressões em português, como “falsa magra”, mas sempre escorrega no sotaque. Será que está faltando bons atores brasileiros de nível internacional? 

Além dessa história de redescoberta, o filme se baseia também em boas histórias laterais que enriquecem o caminho de Liz – e alongam o filme, talvez um pouco além da conta. Na Itália, ela conhece um grupo que a adota, levando-a para restaurantes e até para casas de campo, onde passam o feriado de Ação de Graças. É na Itália que ela começa a aprender a relaxar e a alegria de não fazer nada – o famoso dolce far niente . Aqui cabe uma pergunta. Quantos dominam esta arte? Não é a tôa que "O Ócio Criativo" foi escrito por Domenico De Masi.  
Na Índia, ela conhece Richard (Richard Jenkins), um texano que implica com o seu jeito, até que se torna seu amigo e uma espécie de mestre, mesmo com pouca relação com a religião. Na Indonésia, ela reencontra o seu verdadeiro guru, que propõe que ela encontre o equilíbrio entre o prazer e a censura. Também em Bali, ela é apresentada para uma curandeira, que, junto com a sua filha, são responsáveis pelo momento mais emocionante do longa.
Talvez porque o filme seja em primeira pessoa, com Gilbert contando as suas próprias experiências na passagem por essas três diferentes culturas, e suas reações a cada uma delas, vemos que o filme não se trata de um manual de auto-ajuda. Ela mesma refuta seguir à risca os ensinamentos hindus quando passa pela Índia, por exemplo. Como se mostrasse que, mesmo as religiões não são – ou não deveriam ser – dogmas impostos, mas sugestões de comportamento. E o filme homenageia a música nacional, com citações como o "Samba da Benção" , aquele que diz que “é melhor ser alegre que ser triste”. Como é bom ver o cinema americano reverenciando a boa música nacional.
O filme é sobre mulheres que conseguem a sua independência (econômica), mas não conseguem ser felizes. Talvez porque reproduzam comportamentos masculinos de dominação e perda de sensibilidade. Mas o maior mérito é não ser direcionado apenas para as mulheres, ou melhor, para esse tipo de mulher que, após conseguir a independência, voltou-se para a casa e, mesmo assim, não consegue encontrar a felicidade. Ele mostra que esse comportamento, essa busca por algo exterior – trabalho, casamento, filhos, etc. – é inócua. A "nossa" felicidade não está fora de nós, mas sim dentro de nós. Precisamos descobri-la. E para isso, quando nada da certo, é preciso parar. E mergulhar sem medo em busca de mudanças. Afinal, se seguirmos sempre o mesmo caminho, chegaremos sempre ao mesmo lugar. Enfim, um filme leve, de belas fotografias, música excelente, com diversa leituras. 

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