sábado, 3 de novembro de 2012

Midtown e North Beach entram no circuito gastronômico de Miami



MIAMI - O Design District de Miami se consolidou firmemente como endereço de cozinhas competentes em ambientes despojados, como o Sra. Martinez. Logo ao lado fica Midtown, até pouco tempo uma área decadente, que vem se convertendo numa expansão natural do bairro vizinho, com o mesmo e saboroso perfil: lojas de design, grifes da moda, bares moderninhos e restaurantes, muitos restaurantes. Já Downtown viu, há menos de um ano, o chef francês Daniel Boulud abrir sua primeira casa na cidade, o DB Bistro Moderne, no térreo do JW Marriott Marquis. Jean-Georges chega em 2012, aportando no Bal Harbour Shops, ao norte de Miami. Também nesse mesmo shopping de luxo, Makoto Okuwa, ex-chef do Morimoto, em Nova York e na Filadélfia, inaugurou no final de março uma casa com o seu nome, que já está entre os melhores e mais badalados restaurantes da Flórida. Perto dali, também em North Beach, a brasileira Paula Dasilva - vice-campeã do programa de televisão "Hell's kitchen", comandado por Gordon Ramsay - é uma chef emergente no cenário americano, e hoje comanda a cozinha do 1500°, no hotel Eden Roc. North Beach já pode ser considerada um polo gastronômico relevante, com pelo menos uma dezena de restaurantes de alto padrão, como o Cecconi's Miami Beach, no novo Soho Beach House, e o Gothan Steak e o Hakkasan, ambos no Fontainebleau. E South Beach, claro, continua um bairro com alto índice de concentração de boas casas, como o Nobu, de Nobuyuki Matsuhisa, no Shore Club Hotel. Miami, quem diria, virou um destino gastronômico.
Para amantes da arte, da arquitetura e da gastronomia
Inaugurado ano passado, o restaurante Sugarcane representa bem a região de Midtown, área emergente no cenário gastronômico de Miami, com muitos outros endereços gostosos que apresentam um espírito moderno e uma cozinha competente em ambiente mais descontraído, como o Gigi e o Mercadito. A região, entre Downtown e o Design District, não é uma referência apenas para os visitantes interessados em comer bem, mas também para os apreciadores da arte contemporânea, que têm ali uma série de galerias e ateliês, da arquitetura ao design. Hoje o bairro é onde acontecem os eventos mais importantes da Art Basel de Miami, por exemplo.
E a cozinha do chef Timon Ballo, que comanda o Sugarcane, é razão mais que suficiente para se ir até lá. O cardápio é interessante do início ao fim, a começar pela seção de snacks, cujo destaque vai para as orelhas de porco (sim, orelhas) e as pimentas shishito temperadas com flor de sal e limão. Boa parte da fama do restaurante vem do seu raw bar, que apresenta ostras frescas e vieiras com maçã, além de receitas como ceviche e steak tartare.
O menu de carnes cruas, sashimis e tapas do Sugarcane não é nada óbvio. A vieira cortada finamente, por exemplo, vem disposta sobre pedaços de maçã, temperados com limão, perfumados com trufas pretas e apimentados com jalapeño. As orelhas de porco, por sua vez, chegam à mesa com barbecue picante. A casa também serve waffle, mas salgado, e não doce: a massa clássica de quadradinhos recebe uma coxa de pato confitada crocante, um belo ovo frito de pata e um potinho de maple syrup enriquecido com sementes de mostarda.
Gostou? Eu também. Até porque, o Sugarcane é lindo, com decoração que remete a mercados: amplas janelas permitem a entrada de luz natural e há duas cozinhas à vista dos clientes, uma de pratos frios e outra, de quentes, além de um bonito bar. O serviço também é eficiente e simpático. A seleção de tapas é a parte mais extensa do menu, revelando que a proposta do lugar são pratos para serem compartilhados à mesa. Nessa lista há ideias criativas em pequenas porções, como dobradinha com kinchi (receita picante da Coreia do Sul, feita com malagueta seca e vegetais fermentados), croquetes de queijo de cabra com marmelada e um hamburginho de kobe beef servido com ovo de codorna por cima. Bonito e gostoso. A carta de vinho tem cerca de 20 rótulos bem escolhidos (são oito brancos, cinco espumantes e cinco tintos) e a seleção de cervejas não fica para trás: há 35 marcas diferentes, além de coquetéis feitos com a bebida, como o Gold Coast, com infusão de capim-limão no rum, suco de limão, Valvet Falernum e Stela Artois.
Outro restaurante que vem se destacando em Midtown é o Gigi, que se anuncia como uma casa especializada em noodles, grelhados e cervejas, mas vai bem além disso. Tem atum cru com melancia amarela, aipo e togarashi, tempero apimentado japonês; quiches que variam a cada dia e mix de cogumelos com gergelim e hoisin, um molho chinês de soja. À noite, o cardápio ganha corpo, com receitas ótimas para serem divididas e boa oferta de carnes grelhadas, como o rib eye e a costelinha de porco. O lugar, adorado pelos notívagos, é muito procurado por quem gosta de jantar tarde. Às sextas-feiras e aos sábados, a casa só fecha às 5h da manhã (e de segunda a quinta-feira, às 3h). Raridade nos EUA, mesmo numa cidade com vida noturna animada como Miami.
Com o mesmo espírito leve, irreverente e moderno do Gigi e do Sugarcane, que é o traço característico dos restaurantes de Midtown, aparece o Mercadito. É uma filial da casa nova-iorquina inaugurada em 2004, com decoração alegre e colorida e cardápio mexicano contemporâneo.
- Os restaurantes de Midtown tem preços mais baixos que os de Miami Beach, por exemplo, e são muito frequentados por moradores - dá a dica a chef Paula DaSilva, do restaurante 1500° no Eden Roc.
A Flórida na pressão
Os apreciadores de cerveja têm mais de uma centena de razões para visitar o bar e restaurante Yard House, no shopping Village at Merrick Park, em Coral Gables. A casa tem uma das maiores cartas de chopes do mundo, com aproximadamente 140 rótulos diferentes servidos em copos de vários tamanhos e formatos.
Todas as marcas mais famosas do mundo estão ali, mas o melhor a se fazer é evitá-las, explorando a extensa lista de cervejas produzidas por pequenas cervejarias americanas, como a Kona Fire Rock Pale, feita no Havaí; a Laughing Skull Amber, da Georgia. Vale a pena ficar atento também às marcas de cerveja fabricadas na Flórida, como a Cigar City Maduro Oatmeal Brown, e os rótulos da Native Brewing Co., da Inlet Brewing e da Saint Somewhere Brewing, todos muito bons.
Até 30 de setembro, menus estrelados por apenas US$ 22
A salada niçoise, o vitello tonnato e o pulpo a la plancha são pratos clássicos, respectivamente, das cozinhas francesa, italiana e espanhola. Mas, pelas mãos do chef francês Daniel Boulud essas receitas tradicionais recebem um tempero de criatividade e extremo cuidado no preparo e apresentação. A salada nascida em Nice, por exemplo, ganha cubos de atum confitado, ovos bem picadinhos, torradinhas delicadas e uma escultura de folhas verdes temperadas com molho de ervas da Provence e coroada por uma sardinha.
Já o famoso antepasto que mistura carne de vitelo e peixe ganha uma composição vistosa: metade dos cubinhos de atum são preparados à milanesa e a outra metade é servida crua, e eles alternadamente montam uma coroa no meio do prato, intercalados com pedaços de alcaparras, servidos com uma saladinha de folhas e um ovo com aioli. O polvo na chapa à maneira ibérica, que ilustra essa página, é feito em travessa de ferro, que chega à mesa fumegante trazendo ainda pimientos de piquillo, batatas, azeitonas pretas, amêndoas tostadas e folhinhas de rúcula.
E assim, reinventando clássicos, como o próprio hambúrguer, que na versão Boulud ganha foie gras e trufas, o DB Bistro Moderne, inaugurado ano passado, logo encontrou o seu lugar entre os melhores e mais badalados restaurantes de Miami. Para ficar ainda melhor, desde o dia 1 de agosto e até 30 de setembro está ainda mais interessante visitar a casa, uma das participantes da décima edição do Miami Spice, que envolve os principais restaurantes da cidade - todos os citados nesta reportagem fazem parte. Durante o evento são servidos menus com entrada, prato principal e sobremesa a US$ 22, no almoço, e US$ 35, no jantar. É uma boa oportunidade de experimentar a cozinha de um dos chefs mais famosos dos EUA a um preço camarada. Um dos menus possíveis, por exemplo, pode começar com terrine de carne com pistache, seguir com massa caseira ao fondue de taleggio com cogumelos salteados e cebola crocante, e terminar com brownie de macadâmia e pistache ou uma porção de queijos.
Em 2012, confirmando que Miami é a bola da vez no cenário gastronômico americano, outro cozinheiro francês baseado em Nova York e dono de três estrelas Michelin aporta na cidade: o francês Jean-Georges vai abrir um restaurante no shopping Bal Harbour, que já tem o ótimo Makoto (leia mais ao lado). Em algumas semanas será feito o anúncio oficial. Porque, como se sabe, Jean-Georges e Daniel Boulud adoram andar juntos.
Enquanto Jean-Georges não vem
Além do restaurante que terá consultoria do chef Jean-Georges, o shopping Bal Harbour, que já tinha duas boas casas (o francês La Goulue e o italiano Carpaccio), entrou definitivamente para a lista dos endereços gourmets de Miami há poucos meses, com a abertura do restaurante Makoto. Os pratos são pura delicadeza e frescor, como reza a cartilha da boa cozinha japonesa. O chef segue uma linha tradicional, mas não radicalmente purista, incorporando muitas vezes ingredientes e técnicas estrangeiras, como o chili que coroa alguns sashimis, o teriaki com trufas que lambuza um filé na chapa ou a versão aioli do wasabi que guarnece os rolinhos de caranguejo.
Entre os destaques do menu enxuto estão as receitas que usam ingredientes nobres como o kobe beef, carne macia e saborosa, e o toro, a barriga do atum. O toro aparece em forma de tartare, com caviar, nori e wasabi, ou fatiado em forma de sushi, sashimi ou temaki. Já o kobe beef pode ser servido cru, em finas lâminas, para serem grelhadas na pedra que chega quentíssima à mesa ou misturadas a um arroz com ovo, numa daquelas receitas simples mas capazes de enternecer.
- Salgamos a carne e a resfriamos. Quando misturamos ao arroz quente, os seus sabores se soltam - explica o garçom.
North Beach: novo polo de restaurantes
Reserva confirmada, chego para jantar no Cecconi's, restaurante italiano no térreo do Soho Beach House, o hotel mais badalado do momento em Miami, que funciona em um prédio escondidinho em North Beach. Ao ver a minha câmera o segurança logo informa que fotos não são permitidas lá dentro.
Apesar de ter um lugar guardado para mim no terraço agradável de iluminação baixa, com árvores iluminadas e mesas de madeira, preferi o balcão do bar. Puxando conversa com o atendente descubro que na semana anterior havia jantado ali o Tom Cruise. Ao meu redor, todos parecem artistas e milionários, ou pretendentes a isso. Peço uma taça de prosecco para ajudar a escolher meu prato num cardápio para lá de interessante, repleto de clássicos da cozinha italiana, como o vitello tonnato, e alguns com uma certa pegada criativa, como o tartare de atum com chili e menta. A difícil escolha acabou recaindo pelo ossobuco com gremolata, tempero clássico desse prato, uma pasta de limão, alho e salsa, por US$ 38. Bravo! Carne se soltando do osso, macia e bem temperada, com um bocadinho de tutano, acompanhado de uma taça de um tinto espesso do sul da Itália.
Depois da conversão de South Beach em polo gastronômico, é a vez de North Beach se posicionar como região emergente nessa área, reunindo um time respeitável de restaurantes, quase todos instalados em hotéis. Só o Fontainebleau tem três ótimas cozinhas, a começar pelo Hakkasan, de culinária chinesa, filial da casa londrina dona de estrela Michelin, e outro dos lugares mais falados em Miami ultimamente. O cardápio é extenso, com uma boa seleção de entradas: o dim sum, que também aparece em versão vegetariana, é um dos mais pedidos. Uma sugestão extravagante é o pato pequim com caviar russo osetra, por US$ 198. Os pratos com peixes e frutos do mar ocupam lugar de destaque no menu.
Entre os oito restaurantes do hotel, o Scarpetta, especializado em cozinha italiana, e o grill Gotham Steak também andam frequentando as listas de melhores restaurantes de Miami nos últimos meses.
O seu vizinho e rival, o hotel Eden Roc, também entra nessa briga, com um ótimo restaurante, o 1500°, uma "steak house que segue a filosofia do >ita
- Busco fazer uma cozinha rústica e elegante, com ingredientes da Flórida - diz a chef, que prepara pratos como o peixe defumado com ciabatta e picles de jalapeños e aspargos com presunto e vinagrete de trufas.
As carnes são macias, e chegam à mesa no ponto exato de cozimento. O skirt steak, um corte primo da nossa fraldinha, é uma das melhores pedidas do menu, que também traz um admirável rib eye de wagyu criado na Flórida.
- Miami continua marcando o seu território na gastronomia mundial. Um fenômeno recente são os food trucks espalhados pela cidade, com comida muito boa. Miami pode ser a próxima São Francisco ou Nova York - aposta a brasileira Paula.
SERVIÇO
RESTAURANTES
1500°: Eden Roc Renaissance Miami Beach. 4.525 Collins Avenue. Tel.  (305) 531-0000www.marriott.com
Carpaccio: Bal Harbour. 9.700 Collins Avenue. Tel.  (305) 867-7777.www. carpaccioatbalharbour.com
Cecconi's: Soho Beach House. 4.385 Collins Avenue. Tel.  (786) 507-7902www.sohobeachhouse.com
DB Bistro Moderne: JW Marriott Marquis. 255 Biscayne Boulevard. Tel. (305) 421-8800www.danielnyc.com
Gigi: 3.470 North Miami avenue. Tel.  (305) 573-1520.www.giginow.com
Gothan Steak: Hotel Fontainebleau. 4.441 Collins Avenue. Tel.  (877) 326-7412www.fontainebleau.com
Hakkasan: Hotel Fontainebleau. 4.441 Collins Avenue. Tel.  (877) 326-7412www.fontainebleau.com
La Goulue: Bal Harbour. 9.700 Collins Avenue. Tel.  (305) 865-2181.www.lagouluebalharbour.com
Makoto: Bal Harbour. 9.700 Collins Avenue. Tel.  (305) 864-8600.www.makoto-restaurant.com
Mercadito: 3.252 NE First Avenue. Tel.  (786) 369-0430.www.mercaditorestaurants.com
Scarpetto: Hotel Fontainebleau. 4.441 Collins Avenue. Tel.  (877) 326-7412www.fontainebleau.com
Sugarcane: 3.252 NE 1st Avenue. Tel.  (786) 369-0353.www.sugarcanerawbargrill.com
Yard House: Village at Merrick Park. 320 San Lorenzo Avenue. Tel.  (305) 447-9273www.yardhouse.com


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