quinta-feira, 5 de abril de 2012


Entre propinas e propósitos

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Para toda grande caminhada é preciso dar o primeiro passo…
No último domingo à noite, eu e meu filho assistíamos no Fantástico uma reportagem sobre Propinas, Superfaturamentos e Corrupção.
Enquanto me revoltava com a matéria, pude perceber que meu filho, com seus quase dez anos, não estava entendendo exatamente o que era retratado na reportagem.
Então, fiz questão de explicar, em detalhes, começando por aquilo que se passa em Brasília e terminando pelo comportamento das pessoas comuns que fazem questão de levar vantagem em tudo ou que oferecem propina para o policial não aplicar uma multa.
Ele entendeu bem. Não só entendeu, como também ficou indignado. Para ele isso era algo inaceitável.
Saí da conversa feliz com o meu papel de pai educador e tranquilo por meu filho ter aprendido a importante lição da honestidade.
O que eu não poderia imaginar era que, muito em breve, essa minha satisfação se transformaria em frustração.
Três dias depois, quando ele chegou da escola eu já estava em casa. E, como sempre faz nessas situações, deu-me um abraço e um beijo e começou a me contar as experiências do dia.
“Pai, o tio da cantina é muito burro”, disse ele.
Aquela frase me deixou alerta. Primeiramente pelo vocabulário agressivo e, sobretudo, porque essa frase demonstrava que algo de errado havia acontecido.
Curioso com o desfecho, incentivei para que continuasse contando a história.
“Pai, o meu amigo comprou uma mini pizza que custava 3 reais. Deu dois reais para o tio e ele ainda devolveu um real de troco. É muito burro mesmo.”
“E seu amigo devolveu o dinheiro?”, perguntei com uma remota esperança.
“Não!”
“E você acha que ele agiu certo?”
“Claro. Ficou com mais dinheiro. O tio é burro mesmo.” disse ele.
Fiquei desolado. Pensei em nossa conversa de domingo. Foi como se não tivesse valido nada. Papo jogado fora.
Passado o baque, refleti um pouco mais e percebi que essa não era uma avaliação correta. Na verdade, não dava para avaliar o impacto da conversa de domingo apenas em função do fato ocorrido na escola.
Cabia aqui uma reflexão mais profunda sobre a influência do ambiente no comportamento das pessoas e, mais especificamente, a influência daquilo que já está arraigado à mentalidade do povo brasileiro como um todo.
É preciso entender que a tendência do nosso meio social é a de aderir à cultura do levar vantagem em tudo. Isso acontece com adultos no ambiente de trabalho, com crianças na escola e, até mesmo, em muitas relações familiares.
No Brasil, os ambientes sociais estão impregnados, infestados, por uma mentalidade corrupta.
E, se queremos viver em um país melhor, temos três caminhos: Sair daqui, torcer para que um dia as coisas mudem por aqui ou agir para mudar essa realidade do Brasil.
Dirijo-me então àqueles que querem lutar contra essa cultura.
Se queremos mudar o amanhã, precisamos hoje formar pessoas que acreditem que não se pode levar vantagens em cima dos outros. Pessoas com senso de justiça e de solidariedade.
E é justamente aí que entra a grande importância de conversas como aquela de domingo.
Uma conversa ou uma ação, sozinha, não forma e tampouco transforma. Mas um conjunto de ações, um conjunto de estímulos contrários a essa mentalidade vigente é capaz de criar novas percepções e, a partir disso, uma nova realidade.
É como uma luta de forças, uma queda de braços.
De um lado, a cultura viciada que naturalmente leva um garoto a enrolar o “tio da cantina”. Do outro, a sincera e comprometida vontade de reverter essa cultura.
O caminho mais simples, mais natural e mais fácil é manter o “status quo”. Já o caminho da transformação é árido, lento e bem mais difícil. Mas, é um caminho possível. Um caminho que podemos percorrer.
Porém, para isso é preciso ser persistente, muito persistente. Afinal, nesse jogo de forças, muitas vezes, o injusto vai prevalecer sobre o justo. A mentira vai prevalecer sobre a verdade.
É preciso ter um propósito, um firme propósito. Afinal, muitas vezes, os fatos à nossa volta tentarão nos dizer que fazer o que é certo é bobagem. Que ser correto é ser trouxa.
Por isso estou bem certo de que a caminhada é longa.
Sejamos, então, firmes em nossos passos.
Um carinhoso abraço!

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